Na semana passada [retrasada] estive em Campos, participando da 8ª Bienal do Livro; já havia estado lá há dois anos e, como daquela vez, fiquei muito bem impressionada com a sua organização e simpatia, para não falar na atenção e na participação do público. De acordo com os dados oficiais, mais de 150 mil pessoas visitaram a feira, que a essa altura começa a se transformar em festa regional, com a associação de 18 outros municípios.
Ontem [quinta-feira, 29/5] me encontrei com Tatiana Salem Levy (autora do excelente “A Chave de Casa”), que veio de Portugal, onde vive hoje, para participar da Feira Pan-Amazônica do Livro em Belém amanhã – e, já no domingo, de uma feira parecida em Porto Alegre, no outro extremo do país.
Tenho acompanhado, às vezes por relato próprio, às vezes pelas colunas no GLOBO, as andanças de Zuenir Ventura pelo Brasil afora, falando sobre a arte de escrever, que ele tão bem conhece.
Volta e meia encontro amigos que estão indo ou vindo de bienais, feiras e festas do livro nos lugares mais improváveis do Brasil, alguns deles até aqui no Rio – eu mesma já participei, com espanto, de uma mini Feira do Livro realizada num gigantesco condomínio da Barra da Tijuca. Estranhei o convite mas, quando cheguei lá, percebi que fazia todo o sentido, já que o condomínio tem mais habitantes (e certamente mais recursos) do que muitas cidades pequenas.
Ora, nada disso me parece coisa de uma arte, ou de um produto, que esteja morrendo. Mas a pergunta que invariavelmente me fazem, em cada evento do gênero de que participo, é se a internet não está matando os livros. E, de cada vez, me vejo obrigada a responder da mesmíssima forma:
– Não, a internet não está matando os livros; pelo contrário.
Mais distrações
Há quem argumente que as pessoas têm lido menos, que não têm mais o foco e a concentração para ler que tinham antes, que as crianças estão crescendo num ambiente de tablets, games e smartphones que joga os livros para escanteio. E, no entanto, a Humanidade nunca teve tantos e tão bons livros à sua disposição – graças, justamente, à essa internet, tão vilipendiada como Fonte Maior de Todas as Distrações.
Antigamente, podíamos passar a vida sem conseguir um livro que estivéssemos buscando; hoje a Amazon está aqui, aí, ali: havendo conexão e cartão de crédito, qualquer livro se materializa no mesmo instante, se estiver em formato eletrônico, ou em alguns dias, se estiver em papel. E, se estiver esgotado, há uma grande chance de encontrá-lo na www.estantevirtual.com.br, que reúne sebos de todo o país.
A minha impressão pessoal é que nunca se leu tanto. Nunca houve tantos livros em circulação, o que significa que nunca houve tantos leitores, porque ainda que muita gente escreva só para si, editores estão longe de ter esse hábito. Sempre que escrevo sobre e-books e livros em papel na internet, e escrevo bastante, a resposta invariável que recebo de usuários de Kindles e similares é que nunca leram como hoje. Faz sentido: agora podemos carregar bibliotecas inteiras no bolso.
E as pesquisas que apontam o contrário?
Tenho para mim que são mais ruído do que fato. Google-se “brasileiro lê menos”, e aparecerão pesquisas negativas sobre os hábitos de leitura do país; google-se “brasileiro lê mais”, e aparecerão outras tantas positivas.
Hoje, é verdade, temos mais distrações do que jamais tivemos. Os livros enfrentam concorrência pesada com tantos games, seriados, redes sociais e canais a cabo, para não falar em shows, cinemas, barzinhos e teatros. Mas sempre haverá quem escreva histórias, e sempre haverá quem queira lê-las.
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Cora Rónai é colunista do Globo