O grupo Saraiva aposta em sua expressiva presença física – são 114 lojas espalhadas pelo País – para garantir sua sobrevivência no mercado de e-books. As lojas, por onde passam cerca de 60 milhões de pessoas anualmente, serão a principal vitrine do Lev, leitor de livros digitais apresentado nesta terça-feira, 5, e que já está à venda em dois modelos com tela touch screen de seis polegadas e tecnologia e-ink.
O modelo básico, sem luz, custa R$ 299. O outro, com iluminação, está em promoção até o fim do mês por R$ 399 – depois, passa para R$ 479. Ambos pesam 190 g e aceitam a transferência de arquivos em epub e pdf. Os valores regulam com os da concorrência: o Kindle, da Amazon, e o Kobo, comercializado pela Cultura. O Lev tem design da francesa Bookeen e é fabricado na China.
A capacidade é de 4 GB, suficiente para armazenar 4 mil e-books. A livraria, que começou a vender e-book em 2010, conta hoje com um acervo de 30 mil títulos digitais em português e mais de 400 mil em outras línguas.
O lançamento ocorre num momento em que o mercado internacional de e-readers começa a atingir o seu platô. No Brasil, os indicadores de consumo de tecnologia apontam para uma grande concentração em aparelhos multitarefa. O International Data Corporation (IDC) projeta para 2014 a venda de 10,7 milhões de tablets e 47 milhões de smartphones no País – justamente os dois produtos tecnológicos mais desejados pelos consumidores, de acordo com a Pesquisa e Inteligência de Mercado Abril: Posse de Tablets Entre Internautas, de 2012. O e-reader teria, então, sua existência garantida por leitores ávidos, que querem gastar menos – os e-books são cerca de 30% mais baratos – e que não gostam de concorrência na hora da leitura. Não se pode, por exemplo, checar o e-mail.
“Os tablets talvez sejam preferidos para um leitor mais social, mais jovem, mas quem quer ler vai sempre preferir um e-reader”, aposta Michel Levy, CEO do Grupo Saraiva. “Esse aparelho é uma extensão da leitura, não deve ser consumido como um produto tecnológico”, acredita Deric Guilhen, diretor de Produtos Digitais. Pensando nisso, os executivos fazem coro ao pedido de isenção fiscal para leitores. Em recente relatório, a deputada Fátima Bernardes (PT-RN), relatora do Projeto de Lei 4534/2012, que regulamenta o livro digital no País, mostrou-se contrária à equiparação dos e-readers aos livros – que são isentos de imposto. No entanto, ela sugeriu a inclusão de e-readers produzidos no Brasil na Lei do Bem. O que não chega a ser um alento. Kindle, Kobo e Lev são fabricados na China.
“Ir atrás”
Este é um passo importante para a Saraiva, que não tem conseguido a mesma performance no digital que conquistou com o livro físico ao longo de seus 100 anos de história. Comenta-se no mercado que ela ocupa a última posição no ranking das principais livrarias que mais vendem e-book no Brasil. Na liderança disparada está a Amazon, que é seguida por Apple e Kobo. Trata-se, também, de uma reação do mercado editorial brasileiro à escalada da Amazon.
Para Edward Nawotka, editor do Publishing Perspectives, o principal veículo especializado em mercado editorial do mundo, ainda há espaço para que livrarias tenham os próprios e-readers. Ele contou sobre casos que deram certo, como o do próprio Kobo, originalmente um leitor da livraria canadense Indigo, depois comprado pela japonesa Rakuten por mais de US$ 150 milhões. Vem da Alemanha outra iniciativa bem-sucedida. O Tolino é um leitor compartilhado por três das maiores livrarias de lá. Em um ano, ele conquistou 40% do mercado de e-books.
O caso da Barnes & Noble é emblemático, diz Nawotka, que participa, na quinta-feira, 7/8, do Seminário Internacional Nielsen PublishNews: Oportunidades Globais para Editores Brasileiros. “O Nook deve representar 20% do mercado, mas o investimento em produzi-lo foi extremamente caro e a empresa terceirizou o serviço para a Sony”, comenta. O editor acredita que para ter sucesso em sua empreitada, a Saraiva terá de ser agressiva nos preços, no marketing e na oferta dele em suas lojas – a sua maior vantagem sobre os concorrentes. “Mas ela terá de ir atrás dos compradores que nunca tiveram um e-reader, tablet ou smartphone. Esse será seu principal mercado”, conclui.
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Maria Fernanda Rodrigues e Guilherme Sobota, ,do Estado de S.Paulo