Os estudantes que levam a vida na comunicação virtual, em que há todo um linguajar descompromissado, na base do deu para entender está bom, que se cuidem, pois podem não ter vida fácil no futuro. Se há intelectual da área pedagógica com ideias progressistas, pretendendo empobrecer os elementos e fatores culturais a fim de torná-los acessíveis aos que tiveram formação educacional deficiente, em consonância com a má qualidade do ensino oferecido por nossas escolas públicas, a realidade nos impele a avisar que os jovens precisam estar atentos. Tais avanços, que levam o ensino a crescer para baixo, como rabo de cavalo, não têm sido vistos com bons olhos pelo mercado de trabalho.
Prova de que empresas não se encontram dispostas a contratar funcionário incapaz de se comunicar bem em sua própria língua se nos apresenta em levantamentos que assinalam: 40,6% dos estudantes que fazem teste em busca de estágio são reprovados por causa de erros de grafia.
O mundo empresarial não engoliu a lorota de renomados professores que introduziram no ambiente escolar as tais “variantes linguísticas”, um eufemismo para mascarar a realidade, abrindo espaço para afirmar que, apesar de estar errada, a tentativa de acerto é que conta. Ou seja, vale o que está nas entrelinhas do desconhecimento explícito.
O enredo de toda a teoria é que existe certo aprendizado naquele que nada sabe e que, apesar de o inferno estar cheio de bem-intencionados, na moderna didática brasileira basta o aluno ter boa intenção. Não demora muito, será suficiente o simples comparecimento do estudante: ele assina a prova e deixa tudo em branco, cabendo ao professor adivinhar as respostas que o aluno daria às questões, o que pode ser considerado apenas mais uma etapa para quem, nos últimos tempos, vem traduzindo os garranchos ortográficos dos estudantes.
Nova ordem
Não sei por qual motivo, mas alguns intelectuais brasileiros insistem em achar que o nosso povo padece de uma idiotice congênita, coisa que vem desde a casa-grande e senzala, segundo o parecer das elites de poder, engenhos e canaviais. Nessa batida, nos aparece a escritora Patrícia Secco, que resolveu ceifar a machadadas o romance O Alienista, do consagrado Machado de Assis, após chegar à brilhante conclusão de que os nossos jovens não entendem os termos e, além do mais, se perdem nas longas frases. Aliás, o problema apontado pela escritora é algo bastante comum aos analfabetos funcionais construídos pela excelência de nossas escolas, que reproduzem pessoas que leem, mas não entendem o que leram.
A atualização da obra de Machado de Assis dentro dos padrões de nosso empobrecimento intelectual recebeu o carimbo de oficialidade, com aprovação do Ministério da Cultura e amparo da famigerada Lei Rouanet. Vivemos momentos estranhos, em que impera uma predisposição de enaltecer o imprestável, exaltando o esdrúxulo, o que choca as famílias ou atinge valores morais e sociais imprescindíveis à convivência em comunidade. E tome violência!
Do jeito que a coisa anda, acabarão extinguindo a crase, diante da dificuldade que muitas pessoas têm em aplicá-la corretamente. Ou seja, estamos a caminho de promover a união do ensino ruim com o empobrecimento cultural. Dessa forma, não me surpreendo com a ideia de Machado de Assis impresso a machadadas, numa tentativa de simplificar sua sofisticação linguística e literária. Enfim, em nossos dias o sucesso é alicerçado na coragem de deixar a sociedade em permanente perplexidade, por intermédio do endeusamento do exótico e desprovido de qualquer valor humanitário ou, minimamente, construtivo. Nessa discussão, a grande verdade é que de alienista a alienado basta o sopro da mais leve brisa do oportunismo.
Parece que a nova ordem exige desconstrução e imediato retorno à barbárie, com cada ser humano portando um celular na mão e jogando no Facebook alguma imagem do sangue jorrando pelas avenidas afora, com a tela das ferramentas da informática transformando-se em parede de caverna virtual, em que cada um rabisca o seu hieróglifo do jeito e da forma que bem entender.
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Carlos Lúcio Gontijo é escritor e poeta