Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Uma referência para amantes da arte gráfica

Em 1954 era quase impossível um autor inédito publicar no Recife. As editoras de expressão nacional concentravam-se no Rio e em São Paulo e publicavam apenas autores conhecidos.

Naquele ano, Aloisio Magalhães, Gastão de Holanda, José Laurenio de Melo e Orlando da Costa Ferreira fundaram uma oficina tipográfica para publicar seus livros e de amigos, em pequenas tiragens.

Com a aquisição de uma prensa manual alemã do século 19, de formato pequeno, a oficina manteve-se com a ajuda financeira de sócios que recebiam anualmente a produção impressa, numerada e assinada pelo autores. Obras que hoje figuram entre o que é excelência na arte tipográfica brasileira.

Esta nova edição do livro “O Gráfico Amador”, de Guilherme Cunha Lima, situa a editora na história da arte gráfica editorial no Brasil, suas influências e reflexos nas publicações posteriores. É um catálogo de referência para estudiosos e amantes da arte gráfica e editorial brasileira.

Os fundadores do Gráfico Amador aprenderam a compor e imprimir com João Cabral de Melo Neto (1920-1999). O poeta, que foi cônsul em Barcelona no final dos anos 40 e tinha em casa uma prensa tipográfica, compunha e imprimia livros seus e de amigos, por um selo editorial de nome Cobalto –a oficina era informalmente conhecida como O Livro Inconsútil.

Padrões de excelência

Entre os livros que imprimiu, um foi fundamental para a poesia catalã contemporânea: “Em va fer Joan Brossa”, do poeta e artista gráfico Joan Brossa (1919-1998).

Gastão de Holanda era grande amigo de Cabral e Aloisio Magalhães, seu primo. Gastão, Orlando e Laurenio dividiam coletivamente as funções de composição, paginação e impressão. As ilustrações inicialmente ficavam a cargo de Aloisio Magalhães.

O primeiro livro impresso na prensa tipográfica de O Gráfico Amador, “As Conversações Noturnas”, de José Laurenio de Melo, recebeu elogios da conceituadíssima revista “Graphis”, de Zurique.

Com encadernação simples, os miolos nem sempre eram costurados, e os cadernos ficavam soltos dentro da capa. As páginas tinham apurada composição visual, aproveitamento dos espaços em branco e afinado senso estético.

O Gráfico Amador fechou as portas em 1961, mas sua excelência gráfica e editorial continuou em mãos de editores-tipógrafos notáveis, como Guilherme Mansur e Cleber Teixeira, exímio tipógrafo morto no ano passado.

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Vanderley Mendonça é editor dos selos Demônio Negro e Edith (que confeccionam livros numa prensa manual do século 19), tipógrafo e tradutor