Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Livro revê geração que combateu ditadura

A geração que foi esmagada pela ditadura militar deu a volta por cima e chegou ao poder. Dilma, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira são alguns dos sobreviventes.

Com essa ideia, Ayrton Centeno, 65, escreve “Os Vencedores”. No livro, 25 entrevistas e pesquisas variadas compõem um mosaico de histórias de quem esteve à frente do combate ao arbítrio.

“É possível afirmar que os vencidos de ontem, por caminhos distintos, coletivos ou individuais, derrotaram a derrota que lhes foi imposta na luta armada ou desarmada contra a ditadura, enquanto os vitoriosos de outrora habitam os subúrbios da memória”, afirma o jornalista.

O primeiro texto é dedicado a Dilma. O autor anota casos da infância e da família da presidente. Trata da influência do pai, que gostava de livros e ópera. Percorre a trajetória por organizações clandestinas, a prisão e a tortura feroz.

Há um capítulo sobre Lula, focando nas batalhas do movimento sindical do final dos anos 1970, que desaguaram na fundação do PT. Frei Betto narra a oposição dos religiosos aos ditadores.

A experiência de Aloysio Nunes Ferreira na Ação Libertadora Nacional conduz a narrativa sobre episódios da organização liderada por Marighella (1911-1969). Alfredo Sirkis conta sobre as ações de que participou na Vanguarda Popular Revolucionária de Lamarca (1937-1971).

O historiador Jacob Gorender discorre sobre o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. José Dirceu e José Genoino recordam dos tempos de militância e avaliam seus martírios atuais. A cineasta Lúcia Murat fala a respeito do Movimento Revolucionário Oito de Outubro; o músico Raul Ellwanger, da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares.

Como uma reportagem

Enveredando pela cultura nos anos 1960/1970, Centeno lembra dos festivais da canção, da Tropicália, da Jovem Guarda, da efervescência no teatro e no cinema, da imprensa alternativa. O escritor trabalhou em várias publicações e é coautor de “Coojornal, um Jornal de Jornalistas sob o Regime Militar”.

Depois do golpe, o jornalista recupera os embates de Chico Buarque com a censura, as prisões de Gil e Caetano, a ascensão e fuga de Geraldo Vandré, autor do emblema musical daquele tempo, “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”.

Marília Pera traz a memória de uma noite em 1968, quando o Comando de Caça aos Comunistas quebrou tudo no Teatro Ruth Escobar, onde ela atuava na “Roda Viva”, peça de Chico Buarque dirigida por José Celso Martinez Corrêa.

Caudaloso (856 páginas), o livro tem texto solto e dinâmica de reportagem.

Para além dos vencedores de hoje, ele aborda exemplos dos que ficaram pelo caminho, mortos e desaparecidos. Embora não traga revelações, Centeno compõe um quadro amplo daquela época, com algumas pinceladas atuais.

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Eleonora de Lucena, da Folha de S.Paulo