No início, eles eram vistos como opção para deficientes visuais. Depois, como solução para quem queria ler no trânsito. Hoje, desconectados de mídias físicas como o CD, os audiolivros tentam uma nova chance no mercado brasileiro, esperançosos com as bem-sucedidas experiências do exterior.
Dois aplicativos tentam, agora, ganhar o leitor brasileiro. O primeiro é o Ubook, lançado há algumas semanas. O segundo é o Tocalivros, que se prepara para iniciar suas operações no fim do mês. Com modelos de negócios distintos, o objetivo dos dois é o mesmo: oferecer livros em áudio para quem reclama da falta de tempo. A ideia é “ler” simultaneamente a outras atividades.
O Tocalivros aposta em um modelo de negócios mais tradicional: editora e autor são remunerados pela venda de cada livro, cujo preço fica entre o da edição física e o do e-book. Já o Ubook aposta em um modelo que ainda não decolou no Brasil: o de assinaturas. Nele, o cliente paga um valor mensal (R$ 18,90, por cartão, e R$ 4,99, se for via operadora de telefonia) e escuta o que quiser. No mercado de e-books, as editoras brasileiras nunca quiseram embarcar nesse modelo, por falta de solução para remunerar a si mesmas e a seus autores. Sem falar do medo de terem suas vendas físicas engolidas por serviços como esses.
– Fazer assinatura para e-books é difícil, porque as editoras já têm um faturamento com o impresso. Mas o audiolivro não compete com o livro físico, por isso é mais fácil usar esse modelo – afirma Flavio Osso, CEO da Ubook, lembrando que, no modelo da empresa, a editora recebe para manter o livro na plataforma e também de acordo com a audiência de seu título.
A Ubook e a Tocalivros tentam convencer as casas editoriais a firmar parceria com elas com um argumento infalível: o bolso. Embora editoras tenham, por contrato, direito a explorar a versão em áudio de seus títulos, a produção de cada um pode chegar a R$ 20 mil. Assim, as duas empresas se oferecem para produzir, sem custos para a editora, cada audiolivro. Para isso, ambas contam com um time de atores, locutores e dubladores.
– O CD e a fita tinham um problema de distribuição, que é o mesmo do livro físico. Com os aplicativos, isso está resolvido – afirma Ricardo Camps, sócio da Tocalivros, que não revela com que editoras já fechou acordos. Já a Ubook assinou contrato com a Ediouro e diz estar acertando com outras grandes casas.
Menos de mil títulos
É um mercado ainda pequeno no país. Os levantamentos feitos pelas duas empresas antes de iniciar a empreitada mostram que existem entre 600 e 1.000 títulos em áudio no Brasil. Para se ter uma ideia, a pesquisa anual da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, feita sob encomenda da indústria livreira, nem contabiliza audiolivros.
– Acho que ainda não chegou o momento do formato, mas ele está mais próximo. As experiências anteriores falharam pela demanda limitada e pelos custos relativamente altos, que incluíam a necessidade de manter um estoque de CDs. O novo modelo de distribuição cria uma nova oportunidade – afirma Roberto Feith, diretor da Editora Objetiva, que ainda não fechou contrato com as duas novas empresas.
Tocalivros e Ubook têm o mercado americano como inspiração. Em 2013, a Amazon comprou a Audible, empresa de audiolivros, por US$ 300 milhões. E, nos EUA, o formato começa a ressurgir. Hoje, estima-se que seja um mercado de R$ 1,2 bilhão. A pesquisa mais recente da Audio Publishers Association mostra que, de 2011 para 2012, seis milhões a mais de audiolivros foram vendidos. A esperança dos brasileiros é que o fenômeno se repita aqui.
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Maurício Meireles, do Globo