Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Livro usa vida de inventores para explicar revolução digital

Os computadores dominam os dias atuais, travestidos de celular ou de tablet, e a cada dia que passa fica mais provável que você já não esteja lendo um texto como este no papel. Mais do que levar a um progresso, a computação se tornou agente de mudança, tornando-nos mais produtivos, conectados aos outros, informados, educados e entretidos.

Walter Isaacson, conhecido por escrever a biografia de Steve Jobs, destaca na sua nova obra, “The Innovators” (os inovadores), uma série de inventores, ajudando-nos a entender o que permitiu à tecnologia chegar ao ponto atual em termos de computadores, softwares e a internet.

Sua narrativa reforça a tese de que a inovação nas ciências exatas ocorre intimamente vinculada às humanidades. Por causa disso, a história é iniciada com o retrato de Ada King (1815-52), filha do poeta Lord Byron (1788-1824), que viveu em um ambiente de criatividade que permitiu a concepção da ideia do Frankenstein –o homem-máquina.

Utilizando esse contexto, o autor mostra de que maneira visão, entusiasmo e colaboração convergem na mente dos inovadores. Demonstra que construir um ecossistema adequado é crucial, não existindo um gênio que tenha trabalhado sem ajuda de outros. E King se torna referência por se entusiasmar com o assunto, e agregar em sua casa os principais gênios da para construir esse ambiente.

O valor do meio

O livro é fruto de pesquisa bibliográfica e de entrevistas do próprio autor. Trata-se de um caleidoscópio de cerca de 300 pessoas, grupos e instituições, narrando como a cultura hippie surgiu no Vale do Silício e transformou a região no grande celeiro mundial de inovação tecnológica. Isso graças a forças socioculturais que criaram a atmosfera adequada, a partir da união indústria-academia-militares.

A obra é bem linear, seguindo uma cronologia histórica e enfatizando principalmente passagens de sucesso. Evidentemente, somente quando chega mais próximo às décadas recentes temos melhor ideia dos assuntos e nomes tratados no livro, sobretudo quando diz respeito às máquinas.

Ainda que a inovação seja um trabalho em equipe, o autor elucida como ações de personalidades emblemáticas como Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft), Sergey Brin e Larry Page (Google) potencializaram a capacidade disruptiva em suas equipes,permitindo atingir novo patamar de inovação. Porém outras figuras importantes, como Jeff Bezos (Amazon), tiveram poucas menções no livro.

Também são abordados os embates de ego entre os inovadores. Interessante notar que muitos deles nasceram em cidades pequenas e só depois de adultos foram atraídos pelo ambiente dos grandes centros.

A obra não é apenas dirigida aos aficionados em tecnologia ou computadores. O grande feito de Isaacson foi conseguir surpreender com novidades esses entendidos ao mesmo tempo em que escreve de forma abrangente e acessível ao leigo.

A ironia da narrativa é ignorar a evolução da tecnologia 3D e dos games em 1990, exatamente a mesma que trouxe o computador para próximo da minha geração. O capítulo sobre videogame não avança na era pós Atari.

Futuro

Nas últimas páginas, é apresentado o dilema sobre a capacidade de os computadores terem uma inteligência própria e substituírem os humanos.

A discussão não poderia ser mais atual. A IBM, responsável pelas mais reconhecidas experiências em inteligência artificial, vai manter uma divisão do supercomputador Watson no Brasil em breve. Por causa disso, em painel da Campus Party 2014, debati o tema com o presidente da IBM do Brasil, Rodrigo Kede. Lá ouvi a provocação: seria possível existir um call center sem humanos? No estágio de evolução em que nos encontramos, ainda não é previsto tal cenário, segundo o livro, que explora as ações da IBM no tema.

Enfim, quais as lições deste livro? Um ecossistema é vital para a inovação e precisa de atores como o “venture capital” (capital de risco) e das iniciativas de governo. A criatividade e o sucesso vêm da colaboração. E um segredo máximo permanece: o mundo só é limitado pela nossa capacidade de imaginar.

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Luiz Calado, 33, é economista e escritor, autor de “Imóveis” (editora Saraiva) e “Fundos de Investimentos” (editora Campus).