Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A doutrina do politicamente incorreto

Existem novas verdades históricas no ar. Isto porque a era da informática trouxe o indeterminismo do revisionismo sem limites. A partir de Lula, com seu “nunca na história antes desse país”, para “o maior escândalo” da mesma, ou as sucessivas décadas perdidas, ninguém mais sabe quem tem razão exceto os distintos grupos com suas razões. Não houve ainda a deglutição necessária de todas as informações secretas do WikiLeaks e ele já foi censurado. Nem de que os Estados Unidos são a maior nação espiã da história.

Estamos, assim, mergulhados numa nova era de obscurantismo medieval onde o que vale é o “ouvi dizer”. Pegue-se o fenômeno editorial Leandro Narloch e Duda Teixeira e seus guias politicamente incorretos. O primeiro da América Latina diz pomposo: “Na América Latina, se vai além: escolhem-se como heróis justamente os homens que mais atrapalharam a política, arruinaram a economia, mais perseguiram os cidadãos.” O estilo Veja, de onde os novos historiadores provieram, naturalmente não permitiu a eles citarem entre estes heróis o Duque de Caxias ou Victor Civita, mas isto é de menos, já que eles descobriram, por exemplo, que “Che” (Guevara) defendeu a prisão de roqueiros e trabalhadores preguiçosos. Daí os mesmo autores asseguraram que Cuba foi um paraíso antes da revolução com vários dados insofismáveis, como o número o número de turistas americanos que antes visitava a ilha. “Como é de se esperar de qualquer lugar com turismo em ascensão, Cuba vivia um crescimento de otimismo”, o que aqui em Itajubá, Sul de Minas, é um argumento que já foi, inclusive, utilizado em um editorial assinado (sic) do jornal local, O Sul de Minas, para criticar o comunismo do PT.

Os politicamente incorretos vêm já há tempo polindo ao mesmo tempo regimes conservadores, e mesmos fascistas, em nome da sua verdade histórica, o que já se reflete nas marchas e passeatas inauguradas pelas jornadas de junho. É um perigo, em suma. Mesmo porque alimenta até a rivalidade com a Argentina. Ou o que esperar dos hermanos quando eles lerem, destacado de um dos guias de Narloch e Teixeira: “Perón admirava os nazistas e meninas de treze anos?”

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Zulcy Borges de Souza é jornalista