A conversa na ensolarada manhã de segunda-feira em um bar na região central de São Paulo começa de maneira despretensiosa. O jornalista Lucas Rossi e o repórter do Estado Ricardo Chapola bebem lentamente suas xícaras de café. Ambos não sabem ao certo quando e onde começou o interesse pela crônica, mas uma coisa é certa: o cuidado com as palavras usadas no bate-papo matinal reflete o do livro Crônica: O Jornalismo de Short (Patuá), que a dupla lança na noite desta quinta-feira, no Canto Madalena. “A crônica é a ponte entre a literatura e o jornalismo. Trata-se de um gênero literário menor, mas que não se encaixa no jornalismo porque nem sempre ela (a crônica) trabalha com fatos reais”, afirma Lucas.
Idealizado como projeto de conclusão de curso da faculdade de Jornalismo, em 2011, o livro é dividido em seis partes. No capítulo Rio de Janeiro, a dupla elabora um texto rico em detalhes para descrever o chamado berço da crônica. Lucas Rossi e Ricardo Chapola refazem a rota de grandes cronistas na cidade maravilhosa. O samba também é utilizado como metáfora. “A crônica é um gênero muito brasileiro. Neste capítulo do livro, traçamos um paralelo entre crônica e samba. O cronista adora falar sobre a própria crônica. Ele fica fazendo referências a si mesmo o tempo todo, algo que também acontece no samba. A crônica, portanto, é a cara deste país”, lembra Lucas.
O escritor e colunista do Estado Luis Fernando Verissimo, um dos entrevistados do livro, ficou incumbido de elaborar o prefácio de Crônica: O Jornalismo de Short. “Sempre que nos perguntarem o que é crônica, afinal, teremos uma resposta inteligente pronta: leiam o livro. Está tudo lá”, crava o trecho final.
Segundo Ricardo Chapola, que também mantém um blog de crônicas no estadao.com.br, a vida ficou menos romântica e as pessoas não têm muito tempo para refletir. “Apesar da qualidade, nós temos poucos cronistas. O mundo carece de jovens com este tipo de texto. Muitos têm se afastado de tentar ver as coisas de maneira mais subjetiva. A crônica nasce no mundo urbano, no sentir e no viver”, conclui ele.
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João Paulo Carvalho, do Estado de S.Paulo