Tuesday, 05 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Livro narra saga do Yahoo! e sua bela salvadora

Há apenas 24 mulheres na lista dos presidentes-executivos das 500 maiores empresas dos Estados Unidos (4,8% do total). Marissa Mayer poderia puxar esse número um pouco para cima, mas o Yahoo!, que ela lidera, não apareceu no ranking em 2014 pela primeira vez em nove anos.

A queda é resultado de seguidos trimestres de queda de faturamento da companhia, um processo que Mayer, que está no cargo desde julho de 2012, não conseguiu reverter. O Yahoo! tem salvação?

Essa é a questão apresentada pelo jornalista Nicholas Carlson, do portal Business Insider, no livro “Marissa Mayer and the Fight to Save Yahoo!” (Marissa Mayer e a luta para salvar o Yahoo!).

O título é reducionista, já que Carlson ocupa praticamente metade do livro contando a história do Yahoo! –como a companhia, fundada em 1994, foi uma das primeiras bem-sucedidas da era digital oferecendo um serviço de suma importância na internet antes do surgimento dos sites de busca: um catálogo com os sites existentes.

Um dos méritos da obra do jornalista é mostrar praticamente um resumo de 20 anos dos negócios de internet nos Estados Unidos, já que a história do Yahoo! se entrelaça com várias delas.

O autor relata em detalhes as oportunidades perdidas nos anos de ouro da empresa, que poderia ter comprado o Google, o YouTube, o LinkedIn e o Facebook.

Posição de liderança

Em 2006, quando o site era apenas uma rede social para universitários, Mark Zuckerberg combinou com seus investidores que aceitaria US$ 1 bilhão. O conselho de diretores do Yahoo! havia aprovado fazer uma oferta de US$ 1,2 bilhão, mas o presidente da companhia na época resolveu usar suas táticas de negociação, ofereceu US$ US$ 850 milhões e acabou estragando tudo.

Houve uma enorme bola dentro: o investimento de US$ 1 bilhão feito em 2005 no Alibaba, a empresa de comércio eletrônico chinesa. A companhia cresceu e no ano passado fez a maior oferta pública de ações do mundo, levantando US$ 25 bilhões.

Mas, sem uma direção clara de negócios, entre ser uma empresa de mídia e conteúdo ou de tecnologia, que cria serviços de internet, o Yahoo! oferece centenas de produtos e já passa quase uma década perdendo espaço para rivais que fazem muito bem apenas uma coisa, mostra Carlson.

Nesse contexto, Mayer surge uma salvadora: Mayer, a jovem engenheira que nasceu no Estado do Wisconsin, passou na Universidade Harvard, mas decidiu estudar em Stanford, foi uma das primeiras contratadas do Google e cuidou por anos do principal site da companhia, o de buscas. Ela nunca havia liderado uma equipe maior do que de dezenas de pessoas.

Detalhe: assume o cargo grávida de cinco meses e decide voltar ao trabalho após apenas duas semanas, o que gera um intenso debate.

O livro expõe as contradições da executiva: como, de acordo com a narrativa, ela é eloquente e encantadora em frente a uma plateia e fria e tímida ao tratar com as pessoas na “vida real”.

Isso tanto para seus subordinados quanto para parceiros –nos tempos de Google, ela costumaria obrigar todo mundo a falar com ela apenas quando ela estivesse no escritório, o que fazia com que funcionários da empresa, incluindo altos executivos, tivessem de formar fila.

Carlson detalha como ela parece ter caído em uma das armadilhas para quem assume cargos de liderança: deixar de ser alguém que faz, produz, coloca a mão na massa, e começar a pensar mais em estratégias, gerenciar pessoas e fazer contratações.

O livro, contato em texto solto, bem parecido com o de um blog, pode servir como indicação do que fazer (ou não) ao assumir um cargo de liderança.

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Felipe Maia é editor-adjunto de “Carreiras” da Folha de S.Paulo