Ao longo de anos e anos, o Brasil esteve de costas para a América Latina. Desconhecíamos os países vizinhos de língua espanhola, mesmo tendo os mesmos problemas, idênticos anseios e quase o mesmo idioma. Sabíamos que tínhamos até o mesmo inimigo, e que ele estava ao norte, poderoso e mandão, mas entre nós mesmos seguíamos distantes.
Mário Augusto Jakobskind, com este livro, volta a nos integrar ao continente. Já o relato inicial leva a indagar sobre as origens do terror espalhado pela direita na América Latina. Em minhas andanças de exilado político, eu vivia na Argentina naquele 1976, quando um golpe militar lá implantou o terrorismo de Estado. Morava em Buenos Aires, era correspondente dos jornais Excelsior, do México, e de O Estado de S.Paulo, mas só fui saber da ‘Noite dos Lápis’, muito tempo depois. O horror se escondia nas profundezas dos segredos e do medo da população.
São essas histórias ocultas que Mário Augusto conta agora, interpretando o passado recente não apenas para conhecê-lo, mas – mais do que tudo – para nos lembrar daquilo que não pode repetir-se jamais.
Estrabismo da mídia
Mais do que isso, porém, este livro mostra o progressivo empobrecimento dos meios de comunicação entre nós. Informar passou a ser tratado como uma dessas quinquilharias que o capitalismo predatório da sociedade de consumo nos oferece a cada dia como se fosse o paraíso. O essencial está de fora na grande imprensa, no rádio e na televisão.
O assédio da ilusão e, até, da mentira nos empanturra de tolices. Os grandes meios de comunicação nos transformam em robôs obedientes.
A imprensa, a TV aberta e o rádio viraram atividades comerciais, em busca de lucros. Até o golpe militar de 1964, o jornal Última Hora, mesmo privado, representava no Brasil uma opção popular e nacionalista, na vanguarda da denúncia da ação imperialista dos Estados Unidos. Hoje, qual é o órgão da grande imprensa que se atreve a ser tão independente?
Nenhum canal de TV aberta ou de rádio foi concedido pelo Estado a jornalistas aglutinados em associações ou sindicatos do setor. Enquanto persistir essa situação, persistirá também o estrabismo dos meios de comunicação.
Mário Augusto tenta, neste livro, corrigir essa ilusão ótica.
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[do release da editora]
O livro A América que não está na mídia, de autoria do jornalista Mário Augusto Jakobskind, conselheiro da ABI e secretário-geral do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SJPERJ), será lançado no próximo dia 17 de novembro, às 19 horas, no mais carioca dos bares do Rio de Janeiro, o Bip-Bip, na rua Almirante Gonçalves, 50, loja D. No lançamento estará presente o grupo musical de Caçula e seus amigos, que brindarão os presentes com chorinhos.
Com prefácio do jornalista Flavio Tavares e apresentação do coordenador do MST, João Pedro Stédile, além de comentário de Eduardo Galeano, A América que não está na mídia, editado pela Editora Altadena, aborda questões relativas a vários países da América Latina e discute a cobertura jornalística de um continente que está em processo de transformação. A orelha é do saudoso jornalista Fausto Wolff e a capa do cartunista Carlos Latuff.
Além de A América que não está na mídia, Jakobskind acabou de lançar em Montevidéu o livro A pesar del bloqueo, 50 años de Revolución, da Editora Tropicana. O jornalista, carioca e freqüentador do Bip-Bip, é integrante do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato, correspondente do jornal uruguaio Brecha e nos últimos 25 anos tem se dedicado ao estudo da América Latina, tendo já publicado livros que versam sobre o continente, entre os quais, América Latina – Histórias de Dominação e Libertação.
A América que não está na mídia pode ser adquirido aqui.
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Jornalista