Óbvio que o melhor é conhecer a Bienal Internacional do Livro 2010 de São Paulo pessoalmente, flanando pelos corredores, entre os estandes, assistindo ao vivo à programação, vivenciado a atmosfera e, com sorte, comprando livros. Mas quem não pode desfruta de informações divulgadas pela imprensa e para isso a organização do evento investe boa parcela de seu orçamento contratando assessoria de imprensa e em infra-estrutura. Mas funciona?
Essa pergunta surge acidentalmente de vários ângulos, se debulhando em mais perguntas: o índice de leitura de livros no Brasil é muito baixo – 1,8 livros por habitante ano. Então o papel da imprensa é fundamental para estimular o aumento deste índice, não é? Inclusive para que mais leitores se interessem por ler notícias também… O mercado de livros não movimenta apenas grande soma em dinheiro, mobiliza uma cadeia produtiva que vai desde o manejo de florestas plantadas, à produção de celulose, de papéis, à indústria gráfica (com toda a sua cadeia própria de insumos e suprimentos), à logística (transporte e comunicação de dados), às editoras, distribuidores, livrarias, escritores e profissionais do livro (de várias áreas), envolve a educação e o sistema de ensino do país em todos os níveis, toca fundo no intelecto e cultura da sociedade em geral, assim como alimenta editorias (não só de cultura) dos jornais impressos, televisivos, de rádios e online. Sem falar que esta edição da Bienal tem a novidade retumbante dos livros digitais e tudo o que ela traz a cabresto. Então, novamente, a cobertura da imprensa é fundamental, daí não ser nada de mais uma infra-estrutura para a imprensa como a relatada a seguir, vista parcialmente nas fotos desta matéria. No entanto, está a imprensa dando a atenção que a sociedade demanda, ou precisa, pela sua importância como relembrada anteriormente?
Pouca importância
A sala de imprensa da Bienal do Livro 2010 ocupa 264 m2 do centro de exposições do Anhembi, divididos nos seguintes espaços: credenciamento, hospitaly center com água, cafezinho e lanchinho franqueado aos jornalistas, e exposição de material de divulgação dos expositores, a sala de imprensa propriamente dita, com 36 estações de computadores ligados à Internet de banda larga, impressora e extensa área para acomodação e uso de notebooks, e, por fim, a sala da assessoria de imprensa da própria Bienal, entregue à Ricardo Viveiros & Associados. Durante os onze dias de duração do evento, utilizarão este aparato em torno de duas centenas de profissionais: da assessoria de imprensa da organização aos assessores dos expositores, e destes aos jornalistas de veículos, incluindo fotojornalistas e equipes de câmeras.
É de se imaginar que os jornais sejam tomados por matérias sobre livros, contextualizando aqueles segmentos. Estão sendo tomados? Não. Por que?
Mais uma pergunta que salta deste cenário real, descrito ao vivo de dentro dele mesmo, isto é, da sala de imprensa da Bienal do Livro, é: esses profissionais que estão sentados a frente desses computadores, digitando sabe-se lá o que sobre o que viram, quem entrevistaram, o que lhes chamou mais a atenção neste primeiro dia de Bienal do Livro, terão o resultado de seu trabalho publicado?
Talvez os editores e chefes de redação entendam que livro não vende jornal, não atrai audiência. Não tendo matéria de jornal sobre esse mundo revelado por uma Bienal do Livro, não há audiência e, assim, o público nunca será avisado com a atenção que deveria de que é importante ler livros, daí um círculo vicioso de atrofia. E tampouco parece que o jornalismo está dando importância ao universo que um livro compreende, econômico, social, cultural.
Observações e sugestões
Na cerimônia de abertura o governador de São Paulo utilizou uma frase de efeito que contém sentidos ambivalentes. Disse ele que discorda de Mallarmé, segundo o qual a vida foi feita para acabar em livro. Segundo o governador, tudo começa em um livro; ‘acaba’, no sentido de terminar, não existir mais, e ‘começa’, inferindo que ainda está por existir, está por começar…
De qualquer modo, o que se vê nesta bienal a partir da sala de imprensa é sem dúvida uma bruta subutilização de um enorme aparato, parte de R$30 milhões, segundo resumo de números fornecido em kit para a imprensa. Está tudo à disposição do exercício do jornalismo não necessariamente apenas literário, nem tampouco somente livreiro, no entanto fica a impressão de um triste desperdício.
Algumas observações avulsas, de um jornalista apaixonado por livros, assíduo frequentador de bienais e feiras de livros:
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já estive em bienais do livro em São Paulo e Rio maiores do que esta deste ano;**
os estandes estão menos criativos, menores, do que em anos anteriores;**
a área de alimentação está menor;**
uma bela idéia e muito bonito ver o time de jornalistas mirins, crianças com camisetinhas vermelhas, com gravadores e bloquinhos de notas na mão, fazendo matérias na Bienal do Livro;**
os ebooks invadiram a feira;**
os vendedores de revistas são inconvenientes com as ofertas pseudogratuitas de exemplares antigos;**
interessante revisitar antigos editores, como o Lima e o Paulo Machado, L&PM Pocket Book, e vê-los com o ‘umbigo no balcão’, promovendo seu catálogo pessoalmente;**
os livros estão muito caros, bastante sofisticados, muito bonitos, mas muito caros;**
muitos autores estrangeiros;**
poucos lançamentos, pouquíssimo autores circulando nos estandes, em contato com o público;**
como é bom estar na Bienal do Livro.******
Jornalista e escritor