Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cobertura que faltou



A cobertura do conflito na Faixa de Gaza exige um olhar profundo sobre a História. Os fatos graves do dia a dia não deveriam inibir o interesse da imprensa pelos acontecimentos anteriores.


É possível afirmar que a ‘Batalha de Gaza’ está sendo coberta com equilíbrio pelos grandes jornais brasileiros? Já que a isenção é impossível e a neutralidade uma quimera, a busca do equilíbrio é factível.


De uma forma geral, nossos três jornalões (Folha, Estadão e Globo) estão conseguindo oferecer aos seus leitores um conjunto razoavelmente balanceado de informações e análises. Isso porque a Guerra da Palestina é tão antiga que se torna impossível ignorar os fundamentos de um conflito que se estende quase continuamente há seis décadas.


Nos grandes acontecimentos, a grande imprensa reage com atenção e cuidado, porém a cobertura da rotina, do dia-a-dia, é que se mostra desleixada, burocratizada.


No dia 19 de dezembro, o governo do Hamas recusou-se a renovar o cessar-fogo com Israel proposto pelo Egito e deste dia até 27 de dezembro, quando começaram os maciços bombardeios israelenses, foram disparados 300 foguetes e morteiros (dados da matéria de capa do Economist de 3/1, pág. 7).


Soma de dados


Nem o fim do cessar-fogo ou a chuva de foguetes foram devidamente destacados por nossa grande imprensa naquele período. Porém, na terça-feira (6/1), a Folha de S.Paulo revelou que durante o ano de 2008, apesar do cessar-fogo, foram disparados pelo Hamas cerca de 1.700 foguetes e 1.500 granadas de morteiro.


Este é o problema: a eclosão dos grandes conflitos não começa por acaso, é uma soma de episódios tratados com indiferença, insignificantes, e que justamente por isso, para chamarem a atenção, acabam por converter-se em grandes escaramuças.


Uma atenta cobertura da imprensa, infelizmente, não evitaria as guerras. Mas, pelo menos, não surpreenderia os leitores.