Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cruzada de um colunista

O articulista da revista Veja Gustavo Ioschpe apresenta-se como ‘especialista em educação’. Qualificação imprecisa. Na verdade, o economista Ioschpe é especialista em economia. Formado em Strategic Management e em Ciência Política nos Estados Unidos, concluiu lá também o seu mestrado em desenvolvimento econômico (Universidade de Yale). Sua formação foi feita à distância… distante do país. Salvo engano, não trabalhou nem trabalha como professor. Não encontrei seu nome na Plataforma Lattes do CNPq.

As livrarias informam que publicou três livros: Como passar no vestibular da UFRGS (1995), Vestibular não é o bicho (1996) e A ignorância custa um mundo (2004). Sua produção é grande como colaborador em influentes veículos de comunicação — Folha de S. Paulo, CartaCapital e a revista Bravo!.

Desde 2004, Ioschpe iniciou uma espécie de cruzada, procurando esclarecer como funcionam os meandros da educação nacional. No livro A ignorância custa um mundo, defende a idéia de que não faz sentido aumentar o salário do professor. Este aumento não ‘comprará’ uma boa educação. Ou porque os professores têm ideais à la Paulo Freire, e deixam a questão salarial em segundo plano, ou porque se satisfazem com remunerações ‘afetivas’.

‘Vítimas’ e ‘heróis’

Nestes últimos três anos, e particularmente de uns meses para cá, Ioschpe tem escrito com freqüência sobre o desempenho dos professores brasileiros, sobre a performance dos alunos, sobre a infra-estrutura das escolas. Alega que os docentes, sobretudo os da rede pública, não querem ser avaliados nem exigidos e que, para se protegerem, exageram o tamanho dos problemas (violência, pouca participação dos pais, desinteresse dos alunos, falta de recursos materiais).

Em seu último artigo, ‘Educação de quem? Para quem?‘ (Veja, edição nº 2043), ataca o ‘discurso único’ dos doutores da pedagogia da USP e dos sindicatos de professores. Compara esse discurso (que defende mais investimento na educação, melhores salários para os professores, diminuição do número de alunos em sala, aumento de horas letivas) aos discursos hitlerista e castrista. Os professores não passam, portanto, de ditadores que impedem que a sociedade exija qualidade na educação.

Como ‘especialista’ em temas educacionais, Ioschpe pretende denunciar como falsa a idéia de que os professores sejam, em alguma medida, vítimas ou heróis. Não são heróis, seriam enganadores. Não são vítimas, seriam espertalhões. Se lecionar tornou-se tão difícil, argumenta ele, por que não buscam uma profissão melhor? Talvez por isso Ioschpe não seja professor.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br