Um artigo publicado no New York Times no mês passado alertou que as altas expectativas das empresas exploradoras de gás de xisto podem ser frustradas, comenta, em sua coluna [16/7], o ombudsman do jornal, Arthur S. Brisbane. Era o tipo de matéria que os leitores esperavam que o jornal tivesse escrito antes do banco de investimentos Enron ter entrado em colapso ou, ainda, antes de o banqueiro Bernard Madoff perder mais de US$ 60 bilhões de seus clientes.
Escrita por Ian Urbina, a matéria teve claramente a intenção de oferecer um sinal e mencionou, nos primeiros parágrafos, o caso Enron e o esquema Ponzi, por meio do qual o administrador de fundos Bradley Ruderman pagava suas próprias dívidas com o dinheiro de investidores. Levantar a perspectiva de frustração é, no entanto, um risco jornalístico. Além disso, a reportagem não foi tão aprofundada e não incluiu pontos de vista divergentes de especialistas que não têm envolvimento com nenhum lado da história. Por isso, depois da publicação, as críticas inundaram o jornal.
O analista de investimentos da UBS William A. Featherston e colegas emitiram um relatório alegando que o artigo foi “injustificadamente duro”, falhou em reconhecer o “enorme” crescimento do gás de xisto nos últimos anos e não ofereceu “fontes de credibilidade e contexto”. Um grupo de estudo sobre gás natural do MIT divulgou uma declaração discordante da análise do jornal. Outros comentaristas atacaram as fontes usadas e o fato de apenas duas pessoas terem sido identificadas no texto.
Leitores preocupados com o meio ambiente, no entanto, entraram em contato para apoiar a matéria. Além disso, quatro membros do Partido Democrata no Congresso pediram que agências públicas avaliem algumas das questões levantadas por Urbina. O gás de xisto é visto com um substituto mais limpo do carvão, mas é extraído usando uma técnica nova que pode ser prejudicial ao meio ambiente em bacias de xisto pelo país.
Justificativas
Em sua defesa, o diário alegou que o cenário do crescimento do gás já havia sido abordado em matéria anterior, em fevereiro. Sobre o fato de não incluir os investimentos feitos por gigantes de energia no gás, Urbina e Adam Bryant, subeditor nacional, disseram que o foco não era nas grandes empresas, mas nas “independentes”, porque elas têm sido as maiores incentivadoras do gás de xisto, se beneficiaram de mudanças nas regras federais sobre as reservas e são as mais vulneráveis a rápidas mudanças financeiras – o que ficou perdido para muitos leitores.
O jornal apresentou uma grande quantidade de emails de geólogos, analistas, executivos do setor de energia e outros que expressaram a opinião de que as empresas estavam exagerando as prospecções – mas somente duas fontes foram identificadas: um geólogo e uma proprietária de uma fazenda. Na opinião do ombudsman, teria sido necessário publicar mais explicações do outro ponto de vista, com especialistas do setor.