Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

A falta de outros pontos de vista

Um artigo publicado no New York Times no mês passado alertou que as altas expectativas das empresas exploradoras de gás de xisto podem ser frustradas, comenta, em sua coluna [16/7], o ombudsman do jornal, Arthur S. Brisbane. Era o tipo de matéria que os leitores esperavam que o jornal tivesse escrito antes do banco de investimentos Enron ter entrado em colapso ou, ainda, antes de o banqueiro Bernard Madoff perder mais de US$ 60 bilhões de seus clientes.

Escrita por Ian Urbina, a matéria teve claramente a intenção de oferecer um sinal e mencionou, nos primeiros parágrafos, o caso Enron e o esquema Ponzi, por meio do qual o administrador de fundos Bradley Ruderman pagava suas próprias dívidas com o dinheiro de investidores. Levantar a perspectiva de frustração é, no entanto, um risco jornalístico. Além disso, a reportagem não foi tão aprofundada e não incluiu pontos de vista divergentes de especialistas que não têm envolvimento com nenhum lado da história. Por isso, depois da publicação, as críticas inundaram o jornal.

O analista de investimentos da UBS William A. Featherston e colegas emitiram um relatório alegando que o artigo foi “injustificadamente duro”, falhou em reconhecer o “enorme” crescimento do gás de xisto nos últimos anos e não ofereceu “fontes de credibilidade e contexto”. Um grupo de estudo sobre gás natural do MIT divulgou uma declaração discordante da análise do jornal. Outros comentaristas atacaram as fontes usadas e o fato de apenas duas pessoas terem sido identificadas no texto.

Leitores preocupados com o meio ambiente, no entanto, entraram em contato para apoiar a matéria. Além disso, quatro membros do Partido Democrata no Congresso pediram que agências públicas avaliem algumas das questões levantadas por Urbina. O gás de xisto é visto com um substituto mais limpo do carvão, mas é extraído usando uma técnica nova que pode ser prejudicial ao meio ambiente em bacias de xisto pelo país.

Justificativas

Em sua defesa, o diário alegou que o cenário do crescimento do gás já havia sido abordado em matéria anterior, em fevereiro. Sobre o fato de não incluir os investimentos feitos por gigantes de energia no gás, Urbina e Adam Bryant, subeditor nacional, disseram que o foco não era nas grandes empresas, mas nas “independentes”, porque elas têm sido as maiores incentivadoras do gás de xisto, se beneficiaram de mudanças nas regras federais sobre as reservas e são as mais vulneráveis a rápidas mudanças financeiras – o que ficou perdido para muitos leitores.

O jornal apresentou uma grande quantidade de emails de geólogos, analistas, executivos do setor de energia e outros que expressaram a opinião de que as empresas estavam exagerando as prospecções – mas somente duas fontes foram identificadas: um geólogo e uma proprietária de uma fazenda. Na opinião do ombudsman, teria sido necessário publicar mais explicações do outro ponto de vista, com especialistas do setor.