O julgamento de uma ação que contesta a demarcação de terras indígenas na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, marcado para quarta-feira (27/8) no Supremo Tribunal Federal, mobiliza a imprensa nacional e aparece com destaque em alguns dos principais jornais do mundo.
A decisão da Suprema Corte brasileira pode criar um precedente capaz de influenciar o futuro das nações indígenas, ao definir se deve ou não existir um limite na ocupação de terras por parte de produtores rurais, madeireiros e outros empreendimentos dos brancos.
A reserva Raposa Serra do Sol, antiga reivindicação dos nativos de Roraima, foi homologada em abril de 2005 pelo presidente Lula, destinando sua posse aos índios e determinando a retirada de toda a população não-indígena, o que inclui os produtores de arroz instalados na região.
Quatro estados
Às vésperas da decisão no STF, a situação relatada pelos jornais se torna mais tensa nas aldeias onde se concentram os líderes indígenas que lutam pela reserva. Repórteres enviados para Roraima descrevem a presença de pistoleiros em bares e nas estradas, e o noticiário induz à idéia de uma tragédia anunciada.
Em outra notícia sobre a Amazônia, publicada na terça-feira (26) pela Folha de S.Paulo, o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, anuncia que pretende apresentar um projeto prevendo o confisco das áreas com mais de 2.500 hectares ocupadas por grileiros ou posseiros na região.
Segundo o ministro, essas terras da União ocupadas irregularmente correspondem a toda a região Sudeste do país, ou seja, é como se os invasores estivessem ocupando a área dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, somados.
Pauta que falta
O noticiário geral sobre a região amazônica tem dado destaque a posições de representantes dos produtores rurais, que ocupam áreas griladas ou invadidas por posseiros para expandir a fronteira agrícola.
No caso da reserva Raposa Serra do Sol, embora a imprensa do Sudeste procure dar espaço aos dois lados em disputa, fica claro que os jornais privilegiam a tese de que o território deve ser liberado para a atividade agrícola, mesmo porque os produtores de arroz contam com porta-vozes mais articulados e em maior número.
Se o leitor colocar, ao lado da questão da reserva, a notícia sobre a necessidade de retomar terras ocupadas irregularmente por invasores brancos, vai constatar que o problema da Amazônia não é a população nativa, ou as ONGs internacionais, mas a ocupação desordenada, que muitas vezes é estimulada por autoridades e pelo agronegócio.
A imprensa ainda está devendo uma abordagem que ajude a derrubar preconceitos contra as populações indígenas e questionar a idéia de que a Amazônia pode sobreviver ao gado e à agricultura extensiva.