Em sua humanidade, o cinema é história, sociedade, indivíduo, imaginário, podendo se tornar datado ou atemporal, tratando de temas universais, que existirão enquanto o homem existir. Tudo isso envolve paixão, talento, conhecimento da técnica a ser utilizada, para ser explorada até seus últimos recursos, constituindo-se um processo democrático essa liberdade de interpretação do mundo. São homens contando histórias de outros homens que inúmeras vezes somos nós mesmos. Poderíamos estar falando de jornalismo, seus objetos, seus ‘contadores criadores’, os repórteres. Assim como o cineasta busca na história seus referenciais, o jornalista tem como base de trabalho o material humano ou, pelo menos, a visão humana sobre o mundo.
A forma como o cinema retrata a atividade jornalística é fiel à realidade da profissão? Ou o cinema – assim como o jornalismo transforma os fatos – transforma as imagens para que sejam compreendidas?
Neste trabalho, pretendo esboçar as semelhanças que permeiam duas linguagens aparentemente distintas, mas com narrativas muito parecidas e estruturas de criação e montagem que seguem uma mesma lógica. Na história do cinema, o jornalismo sempre foi um prato cheio para os diretores. Para falar, claro, do próprio jornalismo e das polêmicas questões que envolvem a prática de uma atividade de interesse público, tão popular quanto o próprio cinema.
A ética, a manipulação dos fatos, o cotidiano de uma redação e outros temas bastante recorrentes na profissão serão abordados com base em alguns filmes que considerei interessantes para fundamentar o trabalho. Cito também os livros O último jornalista – imagens de cinema, da jornalista e pesquisadora Stella Senra; A linguagem secreta do cinema, de Jean-Claude Carrière; e O que é cinema, de Jean-Claude Bernardet como fundamentais para a composição deste trabalho. Como o tema que escolhi já foi muito bem explorado, procurei selecionar filmes mais recentes, que não os clássicos do livro de Stella Senra.
Não pretendo limitar a monografia apenas a uma análise relacionando as duas formas de expressão, mas incluir também uma reflexão sobre como os meios de comunicação se tornaram praticamente indissociáveis de nossa própria existência, mencionando não somente o cinema e o jornalismo, mas também a televisão e a fotografia.
No primeiro capítulo, ‘Dois registros, duas formas de expressão’, abordo a popularização da imprensa e o crescente interesse do cinema por este tema. No segundo capítulo, ‘Realidade imaginária’, tento mostrar como o cinema se apropria da realidade para construir suas histórias, fazendo um paralelo com o jornalismo, cuja matéria-prima é a própria realidade humana. Abordo as semelhanças e diferenças entre as duas formas de expressão e como a construção da narrativa cinematográfica se assemelha à narrativa jornalística, tendo como exemplo o modelo americano em ambos os casos. Destaco também a importância da montagem/edição tanto no filme como na notícia.
Em ‘Ética, manipulação e o poder da imagem’ mostro os conflitos éticos da profissão no dia-a-dia. Cito como exemplo o jornalismo investigativo e todo o cuidado de que o repórter carece para construir a reportagem sem comprometer suas fontes de informação. E lembro também da atuação das empresas de comunicação, que muitas vezes deixam de prestar um serviço de interesse público por questões econômicas e jurídicas que podem vir a prejudicá-las. Também nesse capítulo, incluo a forma como a televisão trabalha com a notícia, freqüentemente manipulando-a e transformando o noticiário num verdadeiro show de entretenimento, esquecendo de sua função primária: informar.
O capítulo seguinte, ‘Fotojornalismo no cinema’, trata exclusivamente do trabalho do repórter fotográfico, que se tornou essencial ao jornalismo, quando a câmera fotográfica foi tida como um instrumento de relato por excelência, em virtude do realismo de suas imagens.
Em ‘O poder da notícia’, tomei a liberdade de colocar no título o mesmo nome do filme, que fala sobre a carreira de um dos jornalistas americanos mais temidos e respeitados de todos os tempos: Walter Winchell. Ele revolucionou o jornalismo americano e conseguiu até a inimizade de Hitler por criticá-lo severamente em sua coluna e em seu programa de rádio diário.
Para encerrar, escolhi uma função dentre as inúmeras nas quais um jornalista pode se aventurar: o difícil trabalho do correspondente de guerra. Acho que de todos os filmes que abordam a temática jornalística, este é o que mais se aproxima da realidade. Primeiro porque os filmes são fiéis reconstituições de histórias verídicas. E, segundo, devido às condições de filmagem, que parecem levar o espectador para dentro dos campos de batalha.
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Jornalista