Desenvolvemos gostos e hábitos midiáticos que apagam fronteiras entre pessoas de idades diferentes, pertencentes a classes sociais que nem sempre se comunicam, que moram em bairros distantes ou com mentalidades discrepantes.
O professor universitário acompanha os capítulos da telenovela, ou para descansar de Derrida, Deleuze e Wittgenstein, ou para analisar a telenovela segundo estes autores… ou por prazer, sem pretextos! E depois comenta o beija-não-beija homossexual na faculdade, e entre seus alunos há um filho de empresário, um motoboy e uma dona de casa que decidiu voltar a estudar.
O adolescente, com a máquina digital, fotografa a vovó sorridente, que depois abre o correio eletrônico para contemplar as fotos do passeio do dia anterior com seu netinho.
A empregada doméstica liga do seu celular para a casa da patroa e avisa que os ônibus estão em greve: ‘Olha, vou chegar um pouco mais tarde!’ E a patroa responde: ‘Já vi pela internet, e quem está em greve são os motoristas, não os ônibus…’
Nas videolocadoras, em qualquer ponto da cidade, qualquer pessoa leva qualquer fita do último filme a que o mundo inteiro assistiu, ou está assistindo, ou assistirá.
Clássico e plugado
A paisagem humana repleta de imagens, e nelas nos projetamos: propagandas na TV, outdoors, revistas. As imagens de fundo são o pano de fundo para todos os personagens. O repertório de imagens habita nossos sonhos, nossa linguagem. E as imagens sonoras que nos fazem cantarolar, ou a canção popular, ou o jingle, ou antigas músicas que despertam outras imagens…
Imagens requerem leitura. Ler supõe específica alfabetização. E este livro de Cristina Costa estabelece uma feliz relação entre educar, ler imagens e viver imerso na Idade Mídia.
Sempre haverá o risco de reduzir o essencial a uma parcela do real, por mais importante que esta parcela seja. Já tenho visto palestrantes e professores sem ação e sem voz porque o Sr. Powerpoint ainda não chegou! Educar se educa com o corpo, com a voz, com o rosto, pois também o professor é um ser multimídia.
O que aprendi nas linhas e entrelinhas do trabalho de Cristina Costa? Tenho de ser um educador ‘plugado’, antenado, e ao mesmo tempo ‘clássico’. Uma pedagogia da imagem pressupõe não perder de vista os conceitos de sempre e, de vez em quando, por conhecer muito bem os ventos da moda, caminhar contra eles.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)