Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A lógica da redação científica

Escrever um artigo, o chamado paper, é uma etapa importante do processo de produção da ciência. Desse ponto de vista, a lógica e a metodologia são tão imprescindíveis para a redação científica como para a própria pesquisa. Essa é a ideia que sustenta as propostas do livro Método lógico para redação científica, de Gilson Volpato, lançado no fim de janeiro. Convicto de que a redação científica deve se pautar pela lógica da pesquisa, e não por costumes acadêmicos, Volpato, que é professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), sistematizou na publicação o conhecimento acumulado ao longo de mais de 25 anos de dedicação ao tema.

‘A proposta de um método lógico pressupõe que exista um ‘método ilógico’. Isso pode parecer inusitado, mas foi o que constatei a partir da experiência com a pesquisa e o ensino da redação científica. Todas as decisões do autor de um artigo devem ser produto da lógica científica e não de pequenas regras extraídas dos costumes, que reproduzem e perpetuam equívocos conceituais’, disse à Agência Fapesp.

Volpato, que há anos apresenta cursos sobre redação científica em todo o país, publicou sete livros sobre o assunto, incluindo Bases teóricas da redação científica … por que seu artigo foi negado, Pérolas da redação científica (2010) e Dicas para redação científica (2010). ‘Ao escrever sobre o assunto, ao longo do tempo percebi que havia chegado a um método lógico para a redação científica e decidi sistematizar essas ideias de forma que elas se tornassem uma espécie de manual prático para a redação científica. O livro é um resultado dessa visão de conjunto sobre minha trajetória’, contou.

Novidades teóricas

O livro é voltado para interessados de todos os patamares da produção de artigos, desde iniciação científica até a pesquisa internacional de alto nível. ‘A proposta se aplica a todo tipo de ciência empírica, isto é, aquela cuja conclusão exige evidências. Portanto, não se aplica tanto à filosofia, mas serve para praticamente todas as áreas’, disse Volpato. A própria forma de apresentação segue uma organização lógica coerente com os objetivos. O livro tem 147 pranchas nas páginas da direita, que são brevemente explicadas nas páginas da esquerda. ‘Ao seguir essa sequência, o leitor aprende a base da ciência e como revertê-la em um artigo científico internacional’, acrescentou.

‘Procurei mostrar como usar a lógica não apenas na concepção e execução da pesquisa, mas também na produção do artigo, desde o título e a introdução, até o uso de gráficos e conclusões. A proposta é que o autor busque a lógica científica quando tiver uma dúvida de redação. A lógica da ciência vem em primeiro lugar e, em seguida, vêm os atributos de comunicação do artigo’, disse.

O livro apresenta também algumas novidades teóricas, como a definição de revista científica internacional e uma classificação dos periódicos com base no método lógico. ‘Não basta que uma revista seja publicada em língua inglesa para que se caracterize como revista internacional. Ela precisa ter necessariamente dois atributos: deve publicar artigos de pesquisadores de várias nacionalidades e ser citada em vários países’, explicou.

‘Robustez científica, mas ingênuas’

As revistas científicas, segundo o método de Volpato, dividem-se em quatro níveis. O primeiro corresponde às revistas de baixo impacto, que são conhecidas apenas dentro dos institutos onde são publicadas. O segundo nível abrange as revistas que têm mais impacto, mas não se encaixam na definição de revistas internacionais, limitando-se à sua região. ‘Os outros são os das revistas internacionais. O terceiro corresponde às revistas que são conhecidas em sua área. Uma revista sobre biologia dos peixes, por exemplo, que pode ter excelente nível e ser muito conhecida, mas apenas entre os que trabalham com peixes. O quarto nível é o das revistas que extrapolam especialidades, seja por abarcar todas elas ou por ter um impacto tão alto que extrapola sua área’, disse.

As revistas do quarto nível, segundo Volpato, se caracterizam por ter preocupação não apenas com a qualidade científica do artigo, mas também com a qualidade da comunicação. ‘As revistas do terceiro nível se preocupam com a robustez científica do conteúdo, mas são ingênuas do ponto de vista da comunicação. Atraem os especialistas, mas têm um texto bastante feio e desagradável. No entanto, essas revistas estão começando a importar conceitos de comunicação do nível mais alto. Os cientistas devem ficar atentos a essa transformação’, afirmou.

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Editor da Agência Fapesp