Este livro apresenta as convicções de um conjunto de economistas brasileiros formadores de opinião sobre as questões de sustentabilidade, avaliando a emergência desse discurso novo e transformador, porém frequentemente vago, difuso, genérico e sujeito a variadas interpretações e apropriações – como toda torrente renovadora das ideias.
O relatório Nosso futuro comum, da Comissão Brundtland, das Nações Unidas, propôs, em 1987, o desenvolvimento sustentável – ‘aquele que procura atender às necessidades e aspirações do presente sem comprometer a capacidade de atender às do futuro’ –, mas não mostrou como alcançá-lo. Na verdade, as sociedades modernas levantaram limites às utopias de reinvenção ao consagrarem a segurança social e o acesso aos bens de consumo modernos como valores democráticos universais. As liberdades comprimem-se em um mundo disciplinado pela expansão demográfica e por recursos limitados e desigualmente distribuídos.
Instigados pelas teses de sustentabilidade, quinze pesquisadores, entrevistados nos últimos meses de 2009 e nos primeiros de 2010, expõem um panorama pluralista de interpretações sobre a crise ambiental e climática que aflige o século XXI. O objetivo da consulta é aprofundar a discussão e disseminar o conhecimento, mostrando como economistas do mainstream encaram as novas propostas, por que as aceitam ou refutam, e o que consideram necessário, viável ou utópico. À guisa de contraponto, pesquisadores engajados com a agenda ambientalista também apresentam suas críticas à teoria econômica.
Diante dos cenários climáticos divulgados pela ciência, o desenvolvimento econômico não pode mais ignorar suas externalidades e efeitos colaterais. Impõem-se à sociedade a defesa e a conservação do patrimônio natural, dos bens e dos recursos comuns. No Brasil, a racionalidade econômica evolui nessa direção, mas a demanda por crescimento e as falhas nos mercados continuam a sancionar práticas cujos altos custos socioambientais exigem revisão, correção e mitigação.
Apesar dos desajustes que persistem, nos últimos vinte anos o país abriu sua economia, acabou com uma inflação de décadas, estabilizou a moeda, criou leis de responsabilidade fiscal, elevou o salário mínimo, expandiu o crédito, implantou programas sociais que protegem milhões de famílias, retomou o crescimento, distribuiu renda e promoveu mobilidade social.
Para alcançar um desenvolvimento sustentável, no entanto, é preciso superar impasses e construir consensos. A qualidade do debate precisa evoluir. Parte da pesada inércia política brasileira deriva do predomínio da polarização. A ausência de diálogo e o desrespeito entre adversários são comuns. Boa parte das discussões acontece, estranhamente, entre partidários das mesmas ideias. As divergências abusam do exagero retórico e da desqualificação. ‘No Brasil, da discussão não nasce luz, nascem perdigotos’, disse uma vez Nelson Rodrigues.
Este livro procura mostrar as motivações por trás das convicções. Se for verdade que a sociedade não se impõe problemas que não pode resolver, o conjunto de convicção racional e de opinião sentimental que anima o movimento pela sustentabilidade precisa demonstrar que o crescimento qualitativo importa mais que o quantitativo. Os economistas desta antologia sabem que essa é uma tarefa tão necessária quanto desafiadora.
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Jornalista