Esta não é apenas uma dissertação acadêmica aprovada cum laudae, é uma reportagem trepidante sobre o papel da imprensa no assassinato de um grande líder gaúcho que chegou a ser chamado, na habitual mistura de preito e difamação, de ‘Cromwell caboclo’.
É natural que pesquisadores e historiadores agarrem-se à atualidade para tornar mais palpitantes os seus trabalhos. Podem ganhar em exposição mas perdem a perspectiva. Vera Lúcia Bogéa Borges procurou a direção oposta: escolheu uma das crises da Primeira República, há quase cem anos, e nela identificou situações, ingredientes e atores que duplicam-se, desdobram-se e servem de referencia até hoje.
Vige ainda o caudilhismo, permanece o conflito entre os poderes da República, preservado está o sistema oligárquico, o protagonismo de certos ‘jornalões’ mantém-se intacto e, se a violência política hoje raramente chega ao assassinato, continua freqüente sob outras formas.
Pinheiro Machado reaparece inteiro nesta obra múltipla – é biografia mas também é o flagrante de um processo histórico, retrato de uma época e também jornalismo político. É investigação e análise, serve de painel e mostra detalhes. Um Brasil remoto, avivado por um olhar atento e uma escrita instigante.