Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A palavra jamais morrerá

Navegar no oceano das imagens, clicar em ícones, televisar horas seguidas, internetar noite adentro, brincar com algum joguinho no celular, nada disso eliminará o signo verbal. Somos seres verbais, mesmo calados estamos falando, e na sala aula continua vigente a palavra, para que possamos argumentar, criticar, dialogar, conhecer.

Se uma imagem vale por mil palavras (ou talvez menos…), uma palavra também pode esclarecer, justificar a imagem. A foto legendada evidencia que nem tudo é evidente na foto. A propaganda com a imagem imensa… sempre carece de uma palavra. Ainda é um sonho de milhares chegar a escrever livros, fazer de suas idéias um conjunto de frases impressas em busca de leitores.

Existem livros mudos, sem texto, na TV assistimos a cenas que dispensam comentários, mas sempre de novo recorreremos às palavras, essas parábolas, essas ‘coisas’ faladas e escritas que se põem paralelas ao real, e que ao real conferem sentido humano.

O gesto diz tudo, mas é a palavra que diz o quanto o gesto diz. A pintura, linguagem autônoma, e sabemos quanta linguagem para falar do pictórico, explicar o pictórico, apresentar o pictórico! Por mais que as cores, o movimento e os sons comuniquem, à palavra continua cabendo colorir, movimentar, sonorizar o nosso pensamento.

Verbetes emergentes

Educação, entre outras definições, é exercício das habilidades básicas do ler, pensar e escrever. Contextualizadas, sem dúvida. Os professores, por exemplo, não ficarão indiferentes (nem imunes) ao internetês: preciso saber por que num tow intendendo + nd…

O livro de Adilson Citelli é um elogio à palavra. E à palavra viva. As ironias de Lula, no final, produziram mais efeito do que as alfinetadas verbais de Geraldo Alckmin. O discurso pausado, explicativo, em paulistanês, o esforço lingüístico do candidato tucano não venceu a voz rouca do atual presidente, os escorregões sintáticos, os seus anacolutos. Lula fala como muitos de nós.

Nas últimas páginas, pequeno presente para o leitor: um ‘verbetário de termos novidadeiros’. Verbetes emergentes, vitalidade do homo loquens em plena Idade Mídia. AeroLula, arrastão, banda larga, balada, metrossexual, globalização, deflação, mensalão, doleiro, privataria, fogo amigo, hipertexto… são alguns deles. Palavras da vez e da hora. A maioria ainda à margem dos dicionários oficiais. Circulam através dos meios de comunicação, estão na boca do povo grudado na TV, que cria blogs, que deixa o celular ligado enquanto assiste a uma aula.

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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)