Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A persuasão pela palavra

Aprendemos desde cedo que a linguagem verbal serve para comunicar e frequentemente dizemos que o importante é a comunicação. Quando se fala em comunicação, muitas vezes, pensamos que se está falando na transmissão de informações. Comunicar não se limita, entretanto, a transmitir informações. Realmente, há momentos em que desejamos apenas fornecer uma informação, mas, muito frequentemente, temos outros objetivos, como dar uma ordem, expressar um sentimento, fazer um pedido, exercer algum tipo de influência, fazer o outro mudar de opinião, convencer enfim.

O ser humano vive em sociedade, isto é, fazemos parte de grupos sociais e agimos em conjunto com nossos semelhantes; interagimos. Na verdade, é para interagir que nos comunicamos, que falamos e escrevemos. Por isso, não podemos nos esquecer de que a comunicação, ou a interação, envolve mais do que simplesmente informação, envolve, sobretudo, alguma forma de ação sobre o outro. Nesse contexto, a argumentação ocupa um lugar de destaque.

Há muitas maneiras de se pensar e de se estudar a argumentação. Entretanto, nos dedicamos somente à persuasão pela palavra. Interessa-nos, assim, apenas a linguagem verbal. O nosso ponto de vista, neste livro, é, portanto, o linguístico, isto é, o da argumentação na língua, que nos permite explorar os meios que oferece a língua para a construção de um discurso visando a uma orientação argumentativa, ou as marcas linguísticas de argumentação.

Sugestões e exercícios práticos

O objetivo do livro é fornecer aos nossos leitores, além de uma explanação a respeito dos conceitos que envolvem o tema, exemplos variados e sugestões para a prática do ensino da escrita, observando as possibilidades que a língua oferece para a argumentação e as limitações que ela impõe. Os conceitos que exploraremos foram propostos pelo estudioso da linguagem de nacionalidade francesa Oswald Ducrot, o pai da semântica argumentativa. Seus estudos se iniciaram nos anos 70 do século 20 e de lá para cá vêm defendendo um conceito de argumentação de abordagem puramente linguística.

O conceito de argumentação normalmente nos remete à Retórica e, consequentemente, a uma noção de técnica consciente da organização do discurso. A argumentação linguística, no sentido em que a exploramos nesta obra, embora sirva de instrumento para a argumentação retórica, tem um sentido diverso; o pressuposto básico dos estudos que apresentamos aqui é o de que os encadeamentos argumentativos possíveis estão ligados à estrutura linguística dos enunciados.

Durante a leitura, o leitor poderá conhecer alguns temas referentes à argumentação linguística: no capítulo ‘A argumentação na língua’, apresentamos a Teoria da Argumentação na Língua, e esclarecemos alguns conceitos importantes para a sua compreensão; no capítulo ‘Pressuposição e argumentação’, tratamos do papel dos implícitos na argumentação, especificamente do conceito de pressuposição; no capítulo ‘Articuladores e organizadores textuais e argumentação’, tratamos de articuladores textuais e sua função e argumentação; no capítulo ‘Um novo ponto de vista sobre a argumentação na língua’, apresentamos a Teoria dos Blocos Semânticos, atualmente desenvolvida por Ducrot e Carel; finalmente, no capítulo ‘Contribuições para a prática de leitura e escrita’, apresentamos algumas sugestões e exercícios práticos.

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Pesquisadora