A história da MS Magazine, a primeira – talvez seja melhor dizer única – revista feminista dos Estados Unidos, lançada em 1972, é o tema do livro de Amy Farrel, da Editora Barracuda. Um livro que, além de leitura fácil, tem mil e uma utilidades.
Em primeiro lugar, porque mostra como nasceu e se desenvolveu o movimento feminista americano – do qual o feminismo brasileiro foi herdeiro direto.
Depois, porque faz um bom relato da situação da mulher americana a partir da década de 70 e das lutas por melhores condições – que também se aplica às mulheres brasileiras de classe média.
Além disso, nos permite entender um pouco da situação dos Estados Unidos hoje, na medida em que mostra o surgimento da nova direita e do crescimento do conservadorismo americano a partir do governo Reagan, na década de 80.
Mas talvez a maior utilidade seja mesmo para os jornalistas, que sonham em montar uma revista segmentada. E o inevitável conflito entre ideais políticos, custos e publicidade.
Ao estudar a história da MS, Amy Farrel fala do jornalismo feminino nos Estados Unidos. E, se em matéria de imprensa, como diriam alguns, o que é bom para os Estados Unidos é bom para nós, acabamos conhecendo um pouco mais das revistas femininas brasileiras, que têm como fonte de inspiração megasucessos americanos como Good House Keeping (Cláudia), Cosmopolitan (Nova) e por aí afora.
Por influência da MS, as revistas femininas foram se transformando, abrindo espaço para a discussão de temas antes proibidos, como aborto, violência doméstica, estupro, política, mercado de trabalho etc. E também por influência da revista, acabaram valorizando as mulheres jornalistas e as vendedoras de espaço.
Bom para o Brasil
Mas talvez o dado mais interessante tenha sido a mudança que provocou na comunicação dos anunciantes de cigarros, carros, seguros e cartões de crédito, considerados – antes da MS – exclusividade das revistas de informação ou masculinas. O conselho editorial da MS, numa atitude inédita, se dava ao luxo de vetar anúncios porque sua linguagem era machista ou sexista.
Para as mulheres que sonhavam com uma carreira em publicidade e marketing de revistas, o surgimento da revista MS representou um verdadeiro achado. Como diz Amy Farrel, a revista MS abriu o mercado para as mulheres. As outras editoras disputavam as vendedoras da MS, com o argumento de que se elas eram capazes de trazer anúncios para aquele tipo de publicação, seriam capazes de vender qualquer coisa.
Com as jornalistas ocorreu a mesma coisa. Editoras de revistas femininas tradicionais e de novas publicações, voltadas para executivas e mulheres que trabalhavam fora, iam buscar na MS nomes que dariam credibilidade aos seus títulos. Com salários no mínimo três vezes maiores dos que eram pagos na revista feminista.
A partir da MS, mulheres da área editorial passaram a ter melhores cargos, remuneração melhor e uma efetiva perspectiva de carreira. E, nesse caso, o que foi bom para os Estados Unidos foi realmente bom para o Brasil, onde os cargos de direção nas revistas femininas, tanto na área editorial como comercial, começaram a se tornar exclusividade de mulheres. Isso, muito antes de haver – como hoje – uma maioria de mulheres saídas dos cursos de Jornalismo.
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Jornalista