“Bolsas assombram mundo”, “Investidor foge para papéis dos Estados Unidos e derruba Bolsas”, “Mercados arrasados”, “Bolsas repetem auge da crise de 2008” – as manchetes desta terça-feira, dia 9, carregam o leitor de volta para um dia de setembro, três anos atrás, quando a crise dos derivativos derreteu Wall Street.
A imprensa, de modo geral, está comparando a situação atual com aquele evento, mas o próprio noticiário recomenda um olhar diferente.
Não há semelhança entre os acontecimentos de 2008 e os de 2011, os protagonistas são outros e desta vez não se espera que os Bancos Centrais abram os cofres públicos para pagar os prejuízos.
Mas uma crise certamente levou a outra.
O noticiário desta terça, visto pelos jornais de papel, cria a ilusão de que o mundo foi surpreendido por uma hecatombe.
Mas a queda das bolsas é o evento mais anunciado dos últimos tempos.
Interessante observar como o sistema econômico, baseado na crueza dos números, na verdade é movido por emoções.
Faz mais de uma semana que se anuncia a possibilidade de rebaixamento da economia americana por parte das agências de avaliação de risco, e o mercado esperava que uma frase do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, produzisse a mágica de reverter a realidade matemática.
E embora os analistas mais respeitados não apostem um centavo na opinião dessas agências, bastou uma declaração da Standard & Poors – que errou feio em 2008, dando notas altas para bancos virtualmente quebrados – para as bolsas virem abaixo.
Estamos assistindo ao desfecho da aventura irresponsável que conduziu à crise de 2008.
O mundo está sendo conduzido para um período de recessão que pode durar dez anos e, ironicamente, as atenções se voltam para a capacidade dos países emergentes de manter a economia global acima da linha d’água.
O desastre que estamos assistindo é o teste de realidade para um sistema econômico que flertou exageradamente com o perigo.
Depois da queda do muro de Berlim, em 1989, pode-se afirmar que este agosto de 2011 registra a queda de Wall Street como ícone do sistema financeiro mundial.
Buscar a interpretação adequada para os fatos, ainda no calor dos acontecimentos, é a tarefa mais difícil do jornalismo, mas é também a mais importante.
Neste momento, mais do que nunca, a imprensa tem que encarar seus próprios temores e se dispor a analisar o sistema.
Não apenas o sistema econômico, mas o próprio sistema de crenças da imprensa.
A ilusão de que o mercado tudo pode acaba de ruir.
A ultradireita e a crise*
Um elemento crucial da atual crise produzida pela demora na elevação do teto da dívida norte americana tem sido negligenciado pelos jornais nacionais e do exterior.
Atentando para os aspectos econômicos, a cobertura esqueceu-se das questões políticas que envolveram a elevação do teto da dívida. E se esqueceu também do papel desempenhado pelo Tea Party, representante da extrema direita no país, no desgaste não só do governo de Barack Obama e do Partido Democrata, mas também do Partido Republicano.
Soma-se a isso o fato de que o Tea Party tem fortes relações estabelecidas com a emissora Fox News, que pertence ao notório aventureiro australiano Rupert Murdoch. Reportagens e mais reportagens sobre essas relações povoam o site MediaMatters, que em alguns artigos chega a dizer que não existiria o Tea Party se não fosse o suporte da Fox News.
Esse aspecto da crise vai ser tema para as discussões do Observatório da Imprensa desta terça-feira. Em estúdio, na companhia de Alberto Dines, participam o professor da UnB David Fleisher, o articulista e repórter do Estado de S.Paulo Rolf Kuntz e a editora de internacional do Globo, Sandra Cohen. O programa contará também, em entrevistas, com o jornalista William Waack, o professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, e o economista Sérgio Besserman.
O Observatório da Imprensa na TV vai ao ar às 22 horas, pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.
*Com Tatiane Klein.