Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A saga do jornal Movimento

[do realease da editora]

Este livro, de 362 páginas, revive toda a trajetória deMovimento, um dos mais importantes jornais da oposição democrática à ditadura militar. Acompanha o livro um DVD contendo todas as 334 edições publicadas, mais os cadernos especiais. Uma oportunidade única para conhecer ou rever o jornal que abriu caminho para a frente democrática que derrotou o regime ditatorial.

O livro, produzido com apoio de incentivos fiscais autorizados pelo Ministério da Cultura (Minc) e obtidos junto à Petrobras, é fruto de um ano e meio de trabalho. Foi realizado por uma equipe que pesquisou os arquivos da época, descobriu documentos inéditos e realizou mais de 60 entrevistas. Conta com dezenas de ilustrações e com um caderno de fotos.

O livro relata em 28 capítulos toda a trajetória do semanário. E a história que conta é assim: Movimento teve sua origem em Opinião, depois que a equipe que havia realizado esse jornal decidiu deixá-lo em virtude de divergências com o empresário Fernando Gasparian. Foi uma experiência ousada e bem-sucedida de jornal em que os patrões eram os próprios jornalistas que o faziam e seus 500 acionistas, também jornalistas, intelectuais, profissionais especializados, estudantes e trabalhadores. Precedeu o seu lançamento uma campanha nacional de mobilização e obtenção de recursos que envolveu milhares de apoiadores na maioria dos estados.

Restauração democrática

O novo jornal sofreu censura prévia desde a primeira edição e continuou sendo censurado ao longo dos três primeiros anos de sua existência de seis anos e meio. Severamente prejudicado pela censura e pelo boicote da ditadura, enfrentou grandes dificuldades materiais durante sua existência. Mas contou com uma direção administrativa competente e criativa e com apoio permanente de seus apoiadores, fatores essenciais para a superação da falta de recursos a maior parte do tempo.

Jornal político, criado e realizado por profissionais politicamente engajados, foi cenário de um debate permanente e enfrentou inúmeras divergências. Todo o tempo buscou estabelecer métodos democráticos de definição de sua linha editorial e de resolução das diferenças de pontos de vista dentro da equipe. Apesar disso, em 1977, em desacordo com as posições defendidas pela maioria, uma parte importante da equipe deixou Movimento.

O jornal se reorganizou e, a partir de 1978, com o fim da censura prévia, viveu uma importante recuperação de suas vendas e grande ampliação de seu prestígio, ao promover uma pioneira campanha em favor da Assembleia Nacional Constituinte e revogação da legislação de exceção, ao apoiar a candidatura presidencial de oposição do general nacionalista Euler Bentes Monteiro e ao dar sustentação à Campanha pela Anistia Ampla e Irrestrita. Ao mesmo tempo, em admirável esforço para uma equipe tão pobre de recursos, realizou a mais completa cobertura jornalística do processo de reanimação das lutas populares nas cidades e no campo, destacadamente a divulgação das greves e da afirmação do movimento operário no ABC e em outras regiões, acontecimentos definitivos para o processo de restauração democrática do país.

As batalhas políticas

Ousadamente, Movimento buscava oferecer a seus leitores informações atualizadas tanto no cenário nacional quanto internacional. E sobre todos os fatos apresentava sua opinião, sintonizada com o ponto de vista popular e democrático, nacionalista e antiimperialista. Tratava das divergências no então existente campo socialista e. ao mesmo tempo, das polêmicas dentro do governo ditatorial e no interior das forças da oposição democrática. Acompanhou de perto o retorno dos exilados políticos após a anistia e relatou cada episódio da reorganização dos partidos políticos e da criação do Partido dos Trabalhadores.

Em todos aqueles anos não houve ambiente de debates tão amplo e generoso no país quanto as páginas de Movimento. Todos esses embates que promoveram a mudança do regime político do país, a derrota da ditadura e a redemocratização, estão registrados nas 8.600 páginas das 334 edições do semanário, acessíveis aos leitores deste livro por meio do DVD que o acompanha.

Ao abrir essas páginas, e guiado pelo livro, o leitor poderá reviver o fragor das batalhas políticas de então como se elas estivessem acontecendo agora.

Os autores

** Carlos Alberto de Azevedo nasceu em 11 de dezembro de 1939, em São Paulo. Jornalista desde 1959, foi repórter em A Hora, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, Diário da Noite, nas revistas O Cruzeiro, 4 Rodas, Realidade, entre outros veículos até 1968. Em seguida, participou do movimento de resistência à ditadura, colaborando em jornais clandestinos como Libertação e Classe operária e em livros clandestinos como o Livro Negro da Ditadura Militar (1970), Política de Genocídio contra os índios do Brasil (1973). Perseguido pelos órgãos de repressão, viveu cerca de dez anos na clandestinidade (1969-1979). Entre 1975 e 1979 foi colaborador do jornal Movimento.

Após a anistia trabalhou na TV: no Globo Rural (TV Globo), 1981-85; TV Cultura (1986-87). Fez programas políticos de TV para o PCdoB entre 1989-98.

Foi editor-chefe das campanhas de TV de Lula à Presidência da República em 1989 e 1994. Entre outros, escreveu os livros Do tear ao computador, a luta pela industrialização no Brasil (três edições, 1986/88/89, com Guerino Zago Jr.) e Cicatriz de Reportagem (2007). Participou como editor-chefe da elaboração dos livros Brasil, Direitos Humanos (2008); e Habeas Corpus — que se apresente o corpo (2010),ambos para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O livro Jornal Movimento, uma reportagem é seu trabalho mais recente, escrito com a colaboração de outros autores, sob encomenda da Editora Manifesto.

** Marina Amaral, 52 anos, é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e começou em 1984 na profissão, como redatora de Política da Folha de S.Paulo. Entre 1986 e 1994 trabalhou como redatora no Jornal da Tarde (O Estado de S.Paulo) e foi repórter na TV Cultura, TV Record e revista Globo Rural. A partir daí se dedicou a novos meios de comunicação, tendo sido fundadora e proprietária da revista Caros Amigos – pioneira na retomada da imprensa progressista brasileira a partir de 1997 –, onde ficou até 2007 como editora-executiva e repórter especial. A partir de 2008 dedicou-se a projetos especiais em jornalismo, como a coordenação de uma equipe de 13 jornalistas que realizaram, durante um ano, um levantamento inédito da situação dos direitos humanos no país a convite da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República; e um livro sobre a história do jornal Movimento, importante veículo de resistência contra a ditadura militar que atuou entre 1975 e 1981, em colaboração com os jornalistas Carlos Azevedo e Natalia Viana.

Em março de 2011, uniu-se às jornalistas Natalia Viana e Tatiana Merlino para fundar a Pública, a primeira agência de jornalismo investigativo do Brasil. Marina Amaral recebeu dois prêmios Vladimir Herzog de Direitos Humanos: um pelo conjunto de reportagens publicadas na Caros Amigos entre 1997 e 1998 e uma menção honrosa em 2005 por reportagem assinada com o jornalista João de Barros.

** Natalia Viana é jornalista independente. Colabora com veículos nacionais e internacionais. Em 2005, recebeu os prêmios Andifes e Vladimir Herzog de Direitos Humanos (menção honrosa). Foi produtora-assistente dos documentários Black Money, do Frontline World, exibido pela PBS americana, e Anthrax War, da CBC canadense. Em 2007, publicou o livro Plantados no Chão, sobre assassinatos de lideranças sociais, e em 2010 fez a reportagem dos livros “Movimento, uma Reportagem”, sobre um jornal de resistência durante a ditadura militar, e “Habeas Corpus – Apresente-se o Corpo”, sobre os desaparecidos políticos, para a Secretaria Especial de Direitos Humanos. Atualmente, é parceira da organização WikiLeaks, que publica documentos que revelam má conduta de governos, empresas e instituições. Pelo trabalho, venceu o Troféu Mulher Imprensa 2011. Fundou, junto com Marina Amaral e Tatiana Merlino, a agência de jornalismo investigativo Pública, a primeira do gênero no Brasil.