Os Maiorana extraditaram a história no Pará. Os donos do maior grupo de comunicação do Norte do Brasil, por sua afiliação à Rede Globo, a terceira maior rede de televisão do mundo, não admitem que a história possa contrariá-los. Mesmo que seja verdadeira, ainda que seja provada, documentada, pública e notória. Quem ousar dizer a verdade vai se tornar vítima de suas perseguições. O principal instrumento a seu serviço, para proscrever a verdade incômoda, tem sido a justiça.
O jornalista Lúcio Flávio Pinto já experimentou o amargor de decisões tendenciosas, parciais. A última delas, no dia 6 de julho de 2009, impôs-lhe o pagamento de 30 mil reais de indenização aos irmãos Romulo e Ronaldo Maiorana, mais acréscimos que elevam esse valor a 40 mil reais. A punição também inclui não falar de ambos os Maiorana e publicar sua carta, embora os autores da ação tivessem pedido que a censura fosse feita apenas para beneficiar o pai e jamais tenham escrito uma carta a respeito da reportagem.
Franz Kafka teria muito que aproveitar dessa sentença. Pois tudo que foi dito no Jornal Pessoal é verdade, conforme reafirma este livro. O fundador do império de comunicação, Romulo Maiorana não pôde colocar em seu nome a concessão da emissora de televisão, porque os órgãos de informações do governo federal o vetavam, em função da sua ligação anterior ao contrabando, um dos principais alvos da ação dos militares no Pará.
Página em branco
Esse fato já faz parte da história e foi referido apenas porque, sem ele, a reconstituição do passado, sobre as origens da corporação de comunicação, estará adulterada, comprometida. Os donos atuais do grupo Liberal não se importam com o rigor dos fatos: estão dispostos a reescrever tudo para que o enredo corresponda à sua vontade e aos seus caprichos.
Entretanto, os poderosos não podem tudo, se o que desejam viola a legalidade, a ética e a moral pública. Viola também a democracia brasileira, que, no Pará, deixou de ter vigência em função da decisão do juiz Raimundo das Chagas Filho. Ao decidir que uma publicação periódica como o Jornal Pessoal não pode mais falar de Romulo pai, Romulo filho e Ronaldo Maiorana, sem que o pedido incluísse os dois filhos, o magistrado acabou assumindo a paternidade da censura prévia. O Pará, assim, regride à condição de ditadura.
Este livro foi escrito para impedir que esse retrocesso se consume. Ele espera poder mobilizar as pessoas conscientes da história, para que resistam às violências de um autêntico processo político. Ao mesmo tempo, visa assegurar que a história não se torne uma página em branco, ou preenchida com uma verdade utilitária.