Esse livro da pesquisadora Virginia Pradelina da Silveira Fonseca tem certas qualidades que faltam a muitos outros bons livros de pesquisa em comunicação, especialmente os de estréia da maior parte dos autores.
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É um livro que recebeu um dos mais importantes prêmios acadêmicos brasileiros, Prêmio CAPES de Tese na área das Ciências Sociais Aplicadas I, outorgado em 2006 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação;**
Isso quer dizer que antes de ser publicado já foi consagrado, passando de promessa de futuro bom livro para bom livro na mão;**
É um livro bem escrito, muito bem escrito;**
Consegue aliar clareza e densidade, coisa rara nos textos científicos.**
Avança por uma porta pouco explorada nos estudos de comunicação no Brasil, utilizando a chave da economia política. E aplica essa perspectiva no estudo do jornalismo impresso, geralmente desdenhado com a hegemonia da televisão;**
É um estudo criterioso, em que o público em geral, mas também os estudantes de comunicação, podem se espelhar, avançando passo a passo no que é e como deve ser uma pesquisa, independentemente da perspectiva escolhida.O livro tem muitas outras qualidades, mas quem julga melhor é o leitor. Que ele saboreie página por página, avançando dentro do objeto de estudo jornal, um reflexo das novas tendências do mundo atual mundo e também um agente reestruturador, numa época que recebe vários nomes mas que a autora entende como uma época de ‘reestruturação da vida social sob a hegemonia da ordem capitalista’, numa de suas manifestações, a da indústria pós-fordista de notícias.
Em direção à maturidade
Posso dizer, finalmente, que aprendi muito com o trabalho da professora Virginia. Acredito que tive a felicidade de ser um orientador orientado. Um orientador surpreso a cada dia com o espírito de iniciativa da autora e, principalmente, com sua disciplina, independência, transformando a relação em um diálogo produtivo.
Até porque orientar não é dar, mas repartir e saber que repartir é ter de novo e multiplicado, na sucessão do tempo e do conhecimento, que nunca se esgota, mas nos faz atuais. Por um motivo simples: a posse do saber é inútil porque quem sabe passa e, passando, passa a posse: na ciência, felizmente, somos apenas posseiros.
Por último, algo sobre o transitório e o permanente.
Quando li os originais deste livro pela última vez, me dei conta do quanto os estudos de comunicação avançaram no Brasil, ampliando seu leque de interesse, de perspectivas e de temas. Muita água se passou desde que os cursos de jornalismo, entre eles o da UFRGS, se transformaram em cursos de comunicação, aumentando sua abrangência e adquirindo uma visão de contexto.
Para muitos, os estudos de comunicação feitos há vinte ou trinta anos parecem hoje superficiais, românticos e até mesmo pueris. Mas, numa visão de contexto, eles desenvolveram um papel importante no seu tempo, abrindo portas, até mesmo para que os que viessem depois se dessem conta dos desvios desnecessários. E muito do realizado então permanece.
Nesse tempo todo, a economia-política da comunicação foi se construindo, buscando conhecimentos dentro e fora da área. E constata-se que essa perspectiva vai, hoje, chegando à maturidade. Exemplo disso é este livro, que mostra uma dupla impossibilidade: a de estudar um jornal regional do sul do Brasil sem a perspectiva ampla do que vai pelo mundo, ou a de estudar a chamada globalização sem se dar conta de que ela só se realiza localmente. Daí a importância do livro e nossa satisfação de leitores. [Pequim, primavera de 2007]
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[do release da editora]
Uma tendência ao declínio da notícia de interesse público em favor de matérias de prestação de serviços e de entretenimento é a hipótese sustentada pela professora e pesquisadora Virginia Pradelina da Silveira Fonseca neste o livro, concebido originalmente como tese de doutorado defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. Orientada pelo professor e escritor Sérgio Capparelli, em 2006 recebeu o Prêmio CAPES de Tese como vencedora, em âmbito nacional, da área de Ciências Sociais Aplicadas I, conferido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Docente (CAPES) do Ministério da Educação.
Os argumentos sobre o suposto declínio do interesse público como valor-notícia fundamenta-se em extensa pesquisa realizada pela autora sobre as formas de manifestação da etapa global do capitalismo nas empresas de comunicação e sobre a influência das novas tecnologias de comunicação e informação nos processos de produção jornalística e organização profissional. Segundo a autora, a subordinação do jornalismo ao gosto da audiência aprofunda o caráter de mercadoria das notícias e dos jornais e, conseqüentemente, reduz a função social da atividade jornalística.
A autora, graduada em Jornalismo pela UFSM, é professora, pesquisadora e orientadora nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico). Atualmente, encontra-se em fase de pós-doutoramento no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
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Jornalista, escritor, doutor em Ciências da Comunicação pela Université de Paris II (1980), pós-doutorado pela Université de Grenoble (1987-1988) e pela Université de Paris VI (2001-2002), professor aposentado do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul