Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A teoria e a prática

[do release da editora]


A nova obra de Marcelo Coelho, colunista da Folha de S.Paulo, aborda temas básicos e indica leituras fundamentais para a discussão das artes e do entretenimento, sistematizados de forma didática e crítica. O autor reflete sobre questões como indústria cultural, modernismo e pós-modernismo, os erros da crítica, a decadência na cultura ocidental, a literatura de Joyce e a crítica marxista, o nacionalismo na literatura brasileira e outras.


Crítica cultural: teoria e prática foi escrito com base na experiência de um curso de graduação em jornalismo, ministrado por Marcelo Coelho de 1997 a 2003. ‘Optei por tratar de questões teóricas mais amplas, que atravessassem diversas atividades artísticas, e que ilustrassem discussões e atitudes comuns entre público, críticos e artistas. Com isso, terminei fugindo do que seria o Jornalismo Cultural num senso estrito, para me entregar ao campo mais difuso da crítica e do comentário estético’, afirma o autor.


A variedade de temas corresponde à diversidade de autores abordados na publicação: do romancista Monteiro Lobato ao crítico de arte Clement Greenberg; do cineasta Alfred Hitchcock a filósofos como Ortega y Gasset e Jürgen Habermas, do semiólogo Roland Barthes ao teórico da literatura Fredric Jameson. O que faz do livro leitura obrigatória não apenas para estudantes de comunicação, mas para todos os interessados em ciências humanas em geral: da sociologia à história, da estética à teoria literária.


Sobre o autor


Marcelo Coelho é articulista da Folha de S.Paulo desde 1984. Fez mestrado em Sociologia na USP e publicou, entre outros livros, Gosto se discute (Ática, 1994), Trivial variado (Revan, 1997), Montaigne (série ‘Folha Explica’, Publifolha, 2002) e São Paulo (com Tuca Vieira, na série ‘As Cidades do Brasil’, Publifolha, 2005). Tem também ensaios em diversas coletâneas, como Poetas que pensaram o mundo (org. Adauto Novaes, Companhia das Letras, 2005), Ilha Deserta/Discos (Publifolha, 2003) e Em branco e preto – artes brasileiras na Folha,1990-2003 (org. Arthur Nestrovski, Publifolha, 2004).


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Apresentação
Marcelo Coelho


Este livro se baseia num curso de Jornalismo Cultural, voltado para alunos de graduação, que ministrei de 1997 a 2003. Dentro dos limites de um semestre letivo, achei que não seria possível dividir o conteúdo do curso segundo áreas específicas (artes plásticas, dança, teatro, cinema etc.). Também não me atraiu a idéia de organizar o curso segundo os diferentes gêneros da escrita jornalística – a resenha, o artigo, a entrevista, a crítica etc. –, o que terminaria sendo repetitivo em face de outras disciplinas da faculdade. Além disso, distinguir entre o que é artigo, crônica ou resenha, não me parece coisa fácil, nem importante.


Optei por tratar de questões teóricas mais amplas, que atravessassem diversas atividades artísticas, e que ilustrassem discussões e atitudes comuns entre público, críticos e artistas. Com isso, terminei fugindo do que seria o Jornalismo Cultural num senso estrito, para me entregar ao campo mais difuso da crítica e do comentário estético. Este livro se dirige, assim, não apenas a estudantes de comunicação, mas aos interessados em ciências humanas em geral, na medida em que traz palpites nas áreas da Sociologia, da História, da Estética, da Teoria Literária… O que tem sido, bem ou mal, minha ‘não-especialidade’ desde 1991, quando comecei a escrever regularmente nas páginas dao caderno ‘Ilustrada’ da Folha de S.Paulo.


O curso dividiu-se em quatro partes, correspondendo a quatro grandes polêmicas que marcaram a vida cultural brasileira – mas não só brasileira – ao longo do século 20. A primeira parte contrapôs os representantes do modernismo aos defensores do academicismo artístico. Na segunda, debatem-se os prós e contras da indústria cultural. A seguir, expõe-se o confronto entre adversários e adeptos do nacionalismo estético. Por último, vêm as discussões em torno do conceito de pós-modernismo.


A seqüência desses temas obedeceu a uma cronologia bastante clara, embora não muito rigorosa: o debate sobre as vanguardas foi mais intenso nas primeiras duas décadas do século 20, o tema da cultura de massa ganhou destaque a partir dos anos 30-40, a questão do nacionalismo surgiu com mais ênfase durante as décadas de 60 e 70, e o pós-modernismo, como se sabe, foi assunto característico do final do século.


Creio ter conseguido encadear os quatro temas numa espécie de discussão contínua, o que faz pouco recomendável a leitura de um ou outro capítulo isoladamente. Essa estrutura cumulativa se deve, é claro, à circunstância pedagógica de que se originou o livro. Também por isso, no decorrer do livro aumenta o grau de dificuldade e abstração dos textos comentados.


Ainda que pródigo em comentários e opiniões pessoais, este trabalho mantém um propósito didático e expositivo. O leitor haverá de reconhecer, em meio às idas e vindas da argumentação e dos exemplos – típicos, talvez, das tendências professorais para a digressão e a prolixidade –, o esforço de seguir um roteiro preestabelecido de leituras, como é de praxe no ensino universitário [ver, abaixo, a relação dos livros].


Na organização dos capítulos, tentei subdividi-los em itens curtos, que aproximadamente preenchessem o tempo de uma aula de 50 minutos; mas a prática docente costuma desautorizar, é claro, tal tipo de programações. Também ocorre, na vida acadêmica, que o programa de um curso não seja plenamente cumprido, ou que sofra alterações ao longo do semestre. Por falta de tempo ou de preparo, assim, eu ficava sempre a dever aos alunos uma análise do pós-modernismo – compromisso a que, agora, atendo no último capítulo.


Por falar em dívidas, elas são muitas quando se escreve um livro como este. Em primeiro lugar, quero agradecer aos alunos da Faculdade, cuja atenção, carinho e interesse me levaram a pensar, repensar e corrigir muito do que vai escrito nestas páginas. Convidando- me para ser professor, Marco Antônio Araújo deu-me o privilégio de contar com sua amizade e de aprender com ele lições inesquecíveis de ética, senso de justiça, sinceridade e equilíbrio. A perseguição de que foi vítima na Cásper Líbero determinou o colapso do projeto pedagógico que, a duras penas, ia sendo implantado ali. Em decorrência disso, dezoito professores, entre os quais tive a honra de me incluir, pediram demissão. Desse grupo, guardo o exemplo de lealdade, coragem e companheirismo.


Otavio Frias Filho, amigo de toda a vida, é sempre co-autor do que escrevo, pelo que posso aproveitar de anos de convívio com sua inteligência incomparável; a seu pai, Octavio Frias de Oliveira, agradeço a confiança e o apoio irrestritos que me dedicou desde o primeiro dia em que fui trabalhar na Folha. Amigos e colegas, na Folha e fora dela, são comigo de uma generosidade que nunca me sinto à altura de retribuir. Durante certa etapa deste trabalho, o Centro Interdisciplinar de Pesquisas, da Faculdade Cásper Líbero, ofereceu apoio logístico e financeiro.


Guilherme Bryan ajudou-me com empenho e criatividade na pesquisa do material. Maria Rita Kehl, Eliane Robert Moraes e Fernando Paixão atenciosamente comentaram vários capítulos do original. Yudith, André e Tomás dão sentido a tudo que escrevo.


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A lista dos textos utilizados no curso


Monteiro Lobato, ‘Paranóia ou Mistificação?’, in Idéias de Jeca Tatu. São Paulo:


Brasiliense, 1946 [1919].


Oswald de Andrade, ‘O Meu Poeta Futurista’, in Mário da Silva Brito. História do Modernismo Brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 4ª ed., 1974.


Mário de Andrade, ‘Futurista, Eu?’ (Ibid.). Maria Eugênia Boaventura (org.), 22 por 22. A Semana de Arte Moderna Vista Pelos Seus Contemporâneos. São Paulo: Edusp, 2000.


F. T. Marinetti, ‘Manifesto Técnico da Literatura Futurista’, in Gilberto Mendonça Telles, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1978, 13ª ed.


Bernard Shaw, ‘Uma Visão Degenerada de Nordau’, in O Teatro das Idéias. Tradução, organização e prefácio de Daniel Piza. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.


Ortega y Gasset, A Desumanização da Arte. Tradução de Ricardo Araújo. São Paulo: Cortez, 1991.


Clement Greenberg, ‘Vanguarda e Kitsch‘ (item 1), in Rosenberg e White (orgs.), Cultura de Massa. Tradução de Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1973.


Mário de Andrade, A Escrava que Não é Isaura. In Obra Imatura. São Paulo: Martins, 1960.


Carlos Eduardo Jordão Machado, Um Capítulo da História da Modernidade Estética: Debate Sobre o Expressionismo. São Paulo: Unesp, 1998.


Clement Greenberg, ‘Vanguarda e Kitsch‘, cit., itens 2 e 3. Roland Barthes, ‘Os Romanos no Cinema’, ‘A Arte Vocal Burguesa’, ‘Fotos-Choque’, ‘Dois Mitos do Jovem Teatro’, in Mitologias. Tradução de Rita Buongermino e Pedro de Souza. São Paulo: Difel, 5ª ed., 1982.


Umberto Eco, ‘A Estrutura do Mau Gosto’, in Apocalípticos e Integrados. Tradução de Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 1979.


Ferreira Gullar, Vanguarda e Subdesenvolvimento. Ensaios Sobre Arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2ª ed., 1978.


Jorge Luís Borges, ‘O Escritor Argentino e a Tradição’, in Obras Completas, vol. 1. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Globo, 1998.


Machado de Assis, ‘Instinto de Nacionalidade’, in Obras Completas, vol.3. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986.


Roberto Schwarz, ‘Nacional por Subtração’, in Que Horas São? São Paulo: Companhia das Letras, 1987.