Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Abismo cultural e mérito obscuro

O National Book Award, um dos mais importantes prêmios literários americanos, não é mais o mesmo. Patrocinada pela organização sem fins lucrativos National Book Foundation, a premiação anual já prestigiou nomes como William Faulkner, John Cheever, John Updike e Philip Roth. As obras indicadas na categoria ficção deste ano, porém, surpreenderam boa parte da comunidade literária dos EUA, afirma Edward Wyatt em artigo para o New York Times [17/10/04].

Dois cinco finalistas, apenas um – o livro Our Kind: A Novel in Stories, de Kate Walbert – vendeu mais de 2.500 cópias. Os outros quatro não passaram de 900 exemplares. As obras são escolhidas por um júri formado por apenas cinco pessoas e que é trocado todos os anos. Desta forma, o processo de decisão depende em grande parte do gosto dos jurados. Wyatt ressalta que nenhum membro do júri deste ano – formado por escritores – teve algum de seus livros na famosa lista de best-sellers do Times, e apenas dois deles já foram finalistas do prêmio. Mas será que o problema é mesmo com os jurados? Na verdade, as escolhas feitas para a premiação deste ano revelam que literatura e cultura americana trilham caminhos cada vez mais distantes, diz Wyatt.

EUA vs. Europa

‘Em uma época em que indústrias inteiras se apóiam nas premiações para dar destaque e comercializar diferentes manifestações culturais, há muito o que se dizer sobre um prêmio que encontra mérito no obscuro. Mas os finalistas de ficção deste ano tocaram no nervo da indústria que patrocina o prêmio’, critica o jornalista. Ele compara a premiação americana com o Man Booker Prize, prêmio literário britânico que é considerado um verdadeiro evento cultural em seu país, tendo destaque em programas de televisão e rádio e recebendo a atenção do público.

Nos EUA, isso não acontece. Se o National Book Award pode representar o aumento de vendas de um livro em alguns milhares de exemplares, prêmios europeus como o Man Booker Prize e outros espalhados pela França, Alemanha e Itália garantem ótimas vendas anuais ao vencedor. ‘Nós tivemos dois livros seguidos indicados para o prêmio Booker, e isso foi traduzido imediatamente em mais 40 a 50 mil cópias vendidas’, conta Morgan Entrekin, presidente da editora Grove/Atlantic. Enquanto isso, nos EUA, muitas livrarias foram pegas de surpresa com os finalistas do prêmio. Nos sítios da Barnes & Noble e da Amazon, a espera por Florida, romance de estréia de Christine Schutt, e Ideas of Heaven, de Joan Silber, vai de quatro dias a duas semanas.