Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ameaça a jornais recebe críticas


Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 7 de março de 2008


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo – Editorial


Ataque explícito


‘JÁ SURGEM imitadores da estratégia usada pela Igreja Universal do Reino de Deus de manipular brechas do sistema judicial com a intenção de intimidar a imprensa. O presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, enveredou pelo mesmo caminho ao anunciar uma ofensiva processual contra esta Folha e o diário carioca ‘O Globo’.


Nas petições assinadas por adeptos da igreja em juizados espalhados pelo país, há uma tentativa, embora canhestra, de dissimular seu verdadeiro propósito. A Força Sindical, a julgar pela espantosa desfaçatez de seu líder, não se preocupará em esconder a orquestração. ‘Estou fazendo apenas 20. Se não parar, vou fazer de 1.000 a 2.000 ações contra eles no Brasil inteiro’, afirmou o pedetista. ‘A Igreja Universal vai ser fichinha’, completou.


Se ainda resta dúvida sobre a má-fé que anima essa ameaça de guerra processual, Paulo Pereira da Silva contribui, mais uma vez, para esclarecer completamente os fatos: ‘Meu negócio é dar trabalho para eles. Não é nem ganhar. É só para eles aprenderem a respeitar as pessoas’.


Esse novo ‘trabalhismo’ do presidente da Força pretende silenciar reportagens que -tendo apurado indícios de favorecimento e superfaturamento no destino de recursos públicos para qualificar mão-de-obra- citam o seu nome e o da central sindical que dirige. Nem Pereira da Silva nem a Força Sindical são beneficiários imediatos dos convênios investigados por reportagens desta Folha, o que sempre ficou claro nos textos. Mas a publicação dos elos dessas entidades, seja com a Força Sindical, seja com o PDT -bem como dos vínculos de Pereira da Silva com a central e o partido-, é de notório interesse público.


Uma confederação flagrada cobrando valores astronômicos para treinar pessoal é ligada à Força e pretende executar parte do trabalho no mesmo endereço da central. O Ministério do Trabalho, chefiado pelo pedetista Carlos Lupi, destinou a 12 organizações ligadas ao PDT quase a metade da verba para treinar jovens, entre 30 de novembro de 2007 e 10 de janeiro de 2008. A Força aparece como avalista de três entidades a ela relacionadas -duas situadas no endereço da central- que participam de uma estranha triangulação para obter contratos públicos.


Como é praxe do jornalismo praticado pela Folha, autoridades e entidades relacionadas aos convênios foram procuradas para que manifestassem a sua versão dos fatos. Seus argumentos foram publicados com o devido destaque. Mas é evidente que o líder da Força Sindical não está interessado em participar de um debate a respeito do assunto. Sua intenção é intimidar veículos e jornalistas com a novíssima chicana da praça, a multiplicação de petições.


Ao explicitar seu objetivo, no entanto, Paulo Pereira da Silva dá, sem que o queira, uma contribuição importante para que a Justiça se imunize contra tentativas semelhantes de manipulação. Está sob ataque o direito do cidadão de conhecer a verdade.’


 


Judiciário critica ameaça de central a jornais


‘A intenção anunciada pelo presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), de processar a Folha e ‘O Globo’ em vários municípios do país contra reportagens sobre recursos que a central recebeu do Ministério do Trabalho, provocou reações de membros do Judiciário e do Legislativo.


A estratégia da Força é semelhante à adotada por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que ingressaram em diversas cidades com ações contra a Folha.


Apesar de evitarem declarações explícitas sobre as ameaças, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) demostraram preocupação com o uso indiscriminado de processos que possam eventualmente representar ‘atos atentatórios’ e que ‘transgridam os aspectos éticos’ do sistema jurídico.


O ministro Carlos Ayres Britto disse que o ‘ingresso de ações com o mesmo teor em comarcas diferentes pode significar um modo de aparelhar a Justiça para servir a propósitos menores’. Ele concedeu liminar à ação do PDT que questionou a Lei de Imprensa. Na ocasião, disse que a imprensa é ‘irmã siamesa’ da democracia e que ela não pode ser ‘cerceada ou embaraçada’. Seguindo voto do ministro, o STF suspendeu 20 dos 77 artigos da lei.


O ministro Celso de Mello lembrou que a Constituição assegura ações por eventuais abusos da imprensa, mas o sistema jurídico ‘não tolera o abuso do direito de demanda’.


‘Se há razão jurídica, a medida tem amparo. Mas é preciso analisar caso a caso. Todo processo tem que se basear não só em aspectos legais, mas também nos aspectos éticos, que não pode ser transgredido.’ Mello alertou que o STF pode multar o requerente da ação se se verificar litigância de má-fé, uso indevido do Judiciário.


Ministro do Trabalho e ainda presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, em nota, afirmou que ‘cada cidadão tem o direito de agir da forma que lhe for conveniente’. Disse ainda que Paulinho recorrerá à Justiça comum, sem se basear na Lei de Imprensa -Lupi subscreveu a ação contra a lei.


‘Moda’


O presidente do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cezar Britto, disse ser ‘lamentável’ o uso da Justiça para tentar coibir a liberdade de imprensa. ‘Isso não pode virar moda. O Judiciário não pode ser usado como instrumento de perseguição política ou de capricho de quem quer que seja.’


Para Mozart Valadares, presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), pessoas que se sintam agredidas têm o direito de ir à Justiça. ‘Mas o Judiciário não pode servir como instrumento de intimidar uma pessoa ou um órgão’, disse.


O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado da Igreja Universal, defendeu a iniciativa. ‘Não se trata de coibir, de amarrar, de amordaçar a imprensa. [Recorrer à Justiça] é o direito que os brasileiros que se sentem ofendidos têm. Nesse caso, é uma força sindical, como há pouco tratava-se de uma igreja com representação no Brasil inteiro, de abrirem 1.000, 2.000 representações’, discursou.


No Congresso, alguns parlamentares se furtaram a comentar as ameaças da Força Sindical, como fez o líder do governo na Câmara, o petista Henrique Fontana (RS). O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) sinalizou que a AMB deve orientar juízes a indeferir esse tipo de ação pulverizada.’


 


Andreza Matais


Miro Teixeira critica a decisão do sindicalista


‘Autor da ação que levou o STF (Supremo Tribunal Federal) a suspender parte da Lei de Imprensa, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) condenou a decisão da Força Sindical de processar a Folha e ‘O Globo’ em vários municípios. Do mesmo partido de Paulo Pereira da Silva, Miro disse que a estratégia o ‘horroriza’.


FOLHA – Como o senhor classifica a decisão da Força de entrar com vários processos contra órgãos de imprensa?


MIRO TEIXEIRA – É uma das formas mais claras de tentativa de constrangimento ou de censura à imprensa. O que o Paulinho anuncia é uma retaliação.


FOLHA – O senhor acha que essas ações podem prosperar?


MIRO – Imagino que nesse momento não tem como prosperar porque no exame da liminar, embora tratando exclusivamente da Lei de Imprensa, o STF já se manifestou por diversos de seus lideres, estão lá os votos, a respeito desse tipo de ofensiva, desse tipo de tática para constranger, coagir, de tentar impedir que a imprensa exerça seu papel.


FOLHA – Quem defende as ações alega o direito de defesa…


MIRO – Quem está na vida publica tem que ser fiscalizado sim, e vida publica não é só mandato não. Vida publica é quem está nomeado, é quem dá publicidade na sua atividade. Quem está na vida pública tem que desejar uma imprensa livre e forte.


FOLHA – O presidente da Força disse que não tem a intenção de ganhar na Justiça, mas fazer ‘putaria’ contra a imprensa.


MIRO – Esse tipo de expressão não pode ser usada nem mesmo na intimidade de uma conversa quando se trata de assunto tão relevante, de tão grave responsabilidade. É deplorável, não há meias palavras contra isso e estarei aqui para sustentar os direito de alguém que se sentir perseguido por esse tipo de ação. A mim horroriza e constrange esse tipo de ação.’


 


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Ações judiciais são ‘só o começo’, diz Paulinho


‘O presidente da Força Sindical e deputado federal, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, disse ontem que vai se reunir na segunda-feira com advogados para discutir as ações que serão movidas por ele e filiados à central contra a Folha e o jornal ‘O Globo’.


Anteontem, Paulinho disse que processará a Folha e ‘O Globo’ em 20 Estados devido à série de reportagens que os veículos publicaram sobre repasse de verba do Ministério do Trabalho para a central. A intenção é análoga à estratégia dos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que entraram com várias ações semelhantes.


Segundo ele, se o número de ações não for suficiente para que os jornais parem com as reportagens, os sindicalistas irão ingressar com ações, de 1.000 a 2.000, em todo o país. ‘Na segunda-feira, vai ter reunião com os advogados. A partir de então, vou ingressar [na Justiça] e as estaduais da Força vão ingressar em cada um dos Estados’, disse à Folha. Segundo ele, as ações serão ‘apenas o começo’ do que a Força pretende fazer, e ameaçou: ‘Depende do que vocês fizerem’.


Também se queixou da Folha. ‘Sempre tive uma boa relação com o senhor Frias [Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha morto em 29 de abril de 2007], lamento que seja preciso chegar a esse ponto, não sei quem é lá que está levando a essa situação. O dr. Frias era meu conselheiro, não fazia nada sem perguntar para ele, lamento que o jornal que ele deixou, trabalhou a vida inteira, está indo para esse caminho, de ficar atacando os outros.’


‘Como o jornal está fazendo putaria comigo, vou responder com putaria’, disse. ‘Na hora que doer no bolso dele [do jornal], ele vai ter que me ouvir. Se ele não me ouve, vai ter que ser desse jeito’, completou o deputado, sobre sua intenção ao estimular filiados da central a ingressarem com ações na Justiça contra a Folha e ‘O Globo’.


Sobre os alertas da OAB e de juristas, de que a Força pode ser processada por estimular ações pelo país, afirmou: ‘Vamos ver. O que não vou aceitar mais é que eu falo, falo, peço para responder, falo que a Força não tem convênio com o Ministério do Trabalho nem com nenhum ministério, mando cartinha e não se publica’.


O deputado disse que a Força tem 16 milhões de filiados e que as denúncias constrangem os sindicalizados. ‘Quando vocês me esculhambam, afetam as pessoas, quando a Folha fala que a Força está fazendo corrupção, companheiros do Brasil inteiro têm dificuldade de explicar. Quando acusam, têm que levar em conta isso.’


Ele disse que enviou ‘várias’ cartas à Folha explicando denúncias que foram publicadas e que o jornal publicou ‘apenas’ duas delas. ‘Tentamos falar com a chefe de Redação, que não nos atendeu. Os dirigentes mandaram [cartas], e eles não responderam’, afirmou.


‘Depois das cartas, a Folha continuou dizendo que tínhamos um prédio e convênio com o governo. Foram publicadas duas [cartas] de todos os pedidos. Tinham mais cartas.’ Paulinho disse que o PDT não teve participação na decisão da Força de processar os jornais. ‘Faço isso como pessoa física, como cidadão que está se sentindo ofendido pelo jornal e não consegue responder.’


Nota da Redação – A Folha apenas praticou jornalismo. O jornal publicou as duas cartas que recebeu do presidente da Força Sindical e fez renovados pedidos de entrevistas. A editora-executiva, Eleonora de Lucena, não foi procurada pelo sindicalista.’


 


Fenaj diz que intenção da Força é ‘condenável’


‘‘Condenável’ foi a expressão utilizada por Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), ao comentar as declarações do presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), de que iria processar a Folha e ‘O Globo’ por conta de uma série de reportagens.


‘Está na hora de o Conselho Nacional de Justiça cuidar disso. É um processo de assédio judicial. É visível, e foi admitido pela parte, que estão utilizando artifícios jurídicos para obstruir a imprensa. Isso cria um clima de autocensura, prejudica o leitor. Tem jornalistas que não fazem mais nada a não ser participar de audiências’, disse Andrade.


Sobre a frase de Paulinho de que vai ‘dar trabalho’ aos jornais, o diretor de Redação de ‘O Globo’, Rodolfo Fernandes, disse: ‘Além de dar trabalho ao Globo e à Folha, creio que o nobre dirigente sindical poderia conseguir um para ele também, de preferência que passe longe de verbas públicas’.


Fernandes completou: ‘Sobre a declaração dele de que ‘se querem fazer putaria, vamos fazer putaria’, não me sinto em condições intelectuais de dar uma resposta do mesmo nível’.


A ANJ (Associação Nacional de Jornais) disse que, por enquanto, não comentaria o caso.


Advogados e especialistas também foram ouvidos pela Folha. Marcio Kayatt, presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, disse que a declaração de Paulinho é grave e que ‘há uma patente intenção, declarada, de utilizar o Poder Judiciário para uma burla, como instrumento de intimidação da imprensa’.


Maria Tereza Sadek, cientista política e pesquisadora sobre o Judiciário, disse que em casos de ‘uso claramente abusivo e anunciado do Judiciário’ deve haver alguma penalidade. ‘Tem que haver uma atitude mais proativa do Judiciário, pois os tribunais estão entupidos de casos como esse.’


Luciana Gross Cunha, autora de um livro sobre juizados especiais, disse que falta mais punições em casos de abuso. ‘Ao não ter nenhuma resposta para os casos de litigância de má fé, abre-se a possibilidade de alguém que tenha má fé de usar a Justiça de modo irregular.’


José Paulo Cavalcanti, ex-ministro interino da Justiça, concluiu: ‘Começam a banalizar a Lei de Imprensa. É um desastre, um mau momento para a imprensa brasileira’.’


 


Carlos Heitor Cony


Imprensa precisa ter lei?


‘VOLTA À discussão a necessidade ou não de uma Lei de Imprensa, assunto recorrente e atribuído genericamente aos regimes totalitários. Não entendo nada dessas coisas, mas gostaria de lembrar um caso pessoal, reportando-me a um julgamento do Supremo Tribunal Federal em 23 de setembro de 1964, tal como consta na obra de Jardel Noronha de Oliveira e Odaléa Martins, ‘Os IPMS e o habeas corpus no Supremo Tribunal Federal’ (1967, volume 1, páginas 143 e seguintes).


Por iniciativa do então ministro da Guerra, general Costa e Silva, fui processado como incurso num dos artigos da Lei de Segurança Nacional devido a artigos que publicara no ‘Correio da Manhã’ desde o dia 2 de abril de 1964 e que foram considerados caluniosos aos militares que deram o golpe daquele ano.


Apesar da truculência do ato institucional que inaugurou o regime ditatorial, ainda havia escombros de legalidade e eu tive o direito de aceitar o apoio de um jurista famoso, o ex-ministro do STF Nelson Hungria, que se ofereceu graciosamente para me defender junto àquela corte.


Transcrevo a petição inicial com que ele impetrou o habeas corpus que me livraria da Segurança Nacional, desclassificando o processo do ministro da Guerra de me punir com os rigores daquela lei, fazendo o caso correr pela Lei de Imprensa, pela qual seria condenado, como de fato o fui, a apenas três meses de detenção:


‘Tendo o paciente publicado uma série de artigos no ‘Correio da Manhã’, em veemente crítica aos chefes militares e seus agentes de farda que, após a chamada ‘Revolução de 1º de abril’, assumiram o Poder e teriam passado a cometer erros e arbitrariedades, desmandos e iniqüidades, veio ele a ser denunciado perante a referida Vara Criminal, como incurso no art. 14 da Lei de Segurança (Lei nº 1.802, de 1953), combinado com o art. 51 do Código Penal, sob fundamento de haver provocado animosidade entre e contra as Classes Armadas; e a denúncia logrou ser recebida tal como nela se contém, abstraindo o Juiz o conhecido pronunciamento desta egrégia Corte da Justiça, no sentido de que, quando feita pela imprensa, e seja realmente reconhecível, (o que não ocorre no caso vertente), a provocação de animosidade entre ou contra as Classe Armadas, ou destas contra as classes civis, deixa de se enquadrar na Lei de Segurança para incidir no art. 9. letra a, da Lei de Imprensa (Lei nº 2.083, de 1953). Tal critério de decisão foi, como é sabido, adotado quando do julgamento do habeas corpus, nº 37.522, impetrado em favor dos jornalistas Prudente de Morais Neto e João Portela Ribeiro Dantas.


O próprio ilustre procurador-geral da República, por cujo intermédio foi uma representação de S. Exa. o ministro da Guerra, relativa ao caso, enviada ao ilustre dr. procurador-geral do Estado da Guanabara, ressalvou expressamente que os fatos atribuídos ao paciente constituíam violação do citado artigo da Lei de Imprensa; mas o promotor escolhido para o caso, depois de, por conta própria e gratuitamente, injuriar o paciente, dizendo-o a serviço dos ‘corruptores e subversivos’ do governo deposto, para solapar as ‘forças revolucionárias’ confundidas estas no texto da denúncia com as classes militares, voltou as costas ao ofício do chefe do M.P. Federal, para pedir contra o paciente o rigor da Lei de Segurança, tendo o titular da Vara recebido sem discrepância a denúncia. Assim, ao invés de simples detenção, de um a três meses, com prescrição da ação penal em 2 anos (art. 88 da lei 4.119, de 1962) e com direito à suspensão condicional da pena e fiança (para poder apelar no caso de eventual condenação), e sem a obrigação de estar presente aos trâmites do processo (art. 35,parágrafo 2º. da Lei 2.083), está o paciente correndo o risco de ser condenado à grave pena de reclusão, de 1 a 3 anos (art. 14 da Lei de Segurança), sem qualquer dos benefícios acima referidos.


Manifesto o iminente constrangimento ilegal, o impetrante espera que seja deferido o habeas corpus, para o fim de ser retificada a denúncia contra o paciente, capitulando-se os fatos imputados no art.9, letra a, da Lei de Imprensa, consoante a jurisprudência deste Colendo Pretório. (a) Nelson Hungria.’’


 


BARRADOS NA ESPANHA
Clóvis Rossi


Os sem-oportunidades


‘MADRI – Patrick O’Callaghan, brasileiro que vive há cinco anos na Espanha, onde trabalha na Bosch, escreve para reclamar do texto sobre os dois jovens brasileiros retidos no aeroporto de Barajas.


A tese dele é a seguinte: ‘A polícia de imigração está barrando os brasileiros devido ao aumento de 400% no número de imigrantes brasileiros nos últimos quatro anos.


Além disso, houve detenções de máfias russas e ucranianas que exploravam brasileiras no mercado sexual. Outro tema importante: foi descoberta uma máfia brasileira em Madri que vendia RGs portugueses falsos’.


Depois, emenda com outros casos envolvendo brasileiros. O’Callaghan esclarece que não concorda com as práticas aleatórias da imigração espanhola e conta que teve amigos que vinham visitá-lo e foram barrados ‘sem nenhuma explicação’.


Mas acha que é obrigação do jornalismo ‘mostrar ambos lados da moeda’, no caso as práticas arbitrárias e aleatórias e as supostas razões de fundo para visar especialmente brasileiros.


De acordo, Patrick. Mas tenho dúvidas se o fato de haver brasileiros envolvidos em crimes e em prostituição (de fato é grande o número de garotas de programa brasileiras na Espanha) é realmente o que leva os policiais a perseguir especialmente brasileiros. Tenho circunstancialmente cruzado com a diáspora brasileira em vários países -e em todos, não apenas na Espanha, há queixas de perseguição pelo fato de ser brasileira.


Suspeito que o verdadeiro problema está no aumento (de 400%, segundo ele) no número de imigrantes. Quanto mais gente vem em busca do paraíso, suposto ou real, maior a reação, que não se justifica. Mas pode ser uma explicação.


O que não se explica é por que tanta gente está fugindo de um país que sempre foi tido como terra de oportunidades.’


 


Folha de S. Paulo – Editorial


Barrados na Espanha


‘CADA PAÍS é soberano para decidir quem será admitido em seu território. Pelas regras vigentes, a nação que nega entrada não precisa dar nenhuma explicação. Trata-se de simples ato administrativo, do qual não cabe recurso judicial, e imune à interferência de governos estrangeiros. Isso vale tanto para a Espanha quanto para o Brasil.


Madri se tornou uma das principais portas de entrada para imigrantes ilegais oriundos de toda a América Latina, incluindo o Brasil. A existência de trabalhadores irregulares de nacionalidade brasileira na Espanha não é uma fantasia de agentes da imigração anormalmente zelosos.


Daí não segue, porém, que as autoridades espanholas devam agir como vêm agindo, ao ampliar o número de recusas -a média diária, de seis em 2006, saltou para 15 no mês passado- e negar a admissão de brasileiros com evidências bastante críveis de que sua viagem é legítima. Ademais, nada justifica o tratamento desumano a que muitos são submetidos enquanto aguardam o vôo de repatriamento. Há relatos de pessoas que ficaram várias horas sem acesso a água.


Cabe às autoridades brasileiras agir para modificar essa situação. Armas não lhe faltam. Elas incluem até mesmo o princípio da reciprocidade, pelo qual cidadãos espanhóis poderiam ter sua entrada no Brasil recusada, sem explicações. Ninguém, entretanto, espera que as coisas cheguem a este ponto.


Brasil e Espanha mantêm boas relações diplomáticas e fortes vínculos econômicos. Podem encontrar uma solução negociada, mesmo porque é pouco provável que as denegações façam parte de uma política deliberada do governo espanhol. Ao que tudo indica, são iniciativas próprias de funcionários da imigração -nada que não possa ser resolvido pelo ministro do Interior, responsável pela imigração.’


 


Imprensa exagera, diz embaixador


‘Após ser ‘convocado’ pelo governo brasileiro para prestar esclarecimentos sobre o caso de brasileiros retidos no aeroporto internacional de Barajas, o embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, avaliou que o problema diplomático criado pela retenção de brasileiros está sendo ‘superdimensionado’ pela imprensa e afirmou que não acredita que o caso possa ‘comprometer’ a relação entre os dois países.


‘Creio que isso não irá comprometer as relações entre Espanha e Brasil’, disse. Sobre a nota de ontem do Itamaraty, na qual o governo brasileiro afirma que está examinando quais atitudes irá tomar, levando em conta o princípio da reciprocidade, Peidró disse que tal postura ‘de modo algum se ajusta às relações entre os dois países’. ‘Não temo que espanhóis passem a ser rechaçados no Brasil. Isso não acontece quando se cumprem as normas.’


A Espanha está em 8º no ranking de países de origem dos turistas que vêm ao Brasil. Só em 2006, 211.741 turistas espanhóis estiveram no país.


Preconceito


Peidró disse que não há preconceito com brasileiros e que a Espanha respeita normas européias -os que foram barrados, diz, ‘não portavam dinheiro necessário para entrar na Europa e cartão de crédito nem tinham o convite da universidade onde fariam o curso’.


No Itamaraty, o espanhol ouviu que o governo está ‘inconformado’ com o novo episódio e que ‘as medidas adotadas pelas autoridades imigratórias da Espanha são incompatíveis com o bom nível do relacionamento entre os dois países’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


EUA entre nós


‘Entrou no fim da tarde no Google, que agora posta suas próprias agências, ‘Condoleezza Rice vai visitar o Brasil e o Chile’. A secretária chega semana que vem, mas não, a Colômbia ‘não vai dominar as conversas’, diz o porta-voz do Departamento de Estado.


Um dia antes, o secretário-assistente para o hemisfério, ou seja, para a América Latina, Tom Shannon, adiantou no Congresso que, além de democracia, prosperidade e projetos sociais, o ‘foco’ dos EUA na região é ‘proteger a segurança dos Estados democráticos’. Para tanto, vem ‘trabalhando multilateralmente através da OEA’. Sublinhou os ‘avanços’ da Colômbia no combate ao tráfico e na ‘redução da violência contra sindicalistas’, obstáculo à aprovação, pelo Congresso, do acordo de comércio bilateral.


O MERCADOR DA MORTE


Da BBC à ‘Foreign Policy’, correu por todo lado a prisão na Tailândia do ‘mercador da morte’, como o apelidou a ‘FP’. Viktor Bout inspirou o filme ‘O Senhor das Armas’ e seria o maior vendedor do mundo, com clientes da Al Qaeda ao Pentágono. Caiu, a exemplo de Raúl Reyes, após uma ‘dica’ dos EUA, que o queriam por ‘vender às Farc’


SEM MEDIR PALAVRAS


Saiu no francês ‘Le Parisien’ e ecoou na BBC Brasil que o presidente da França reagiu mal à morte de Reyes.


‘É um erro, um golpe muito duro para o processo de paz e para as negociações que visam a libertação dos reféns’, teria dito Nicholas Sarkozy em reunião de ministros, ‘Reyes era interlocutor essencial para nós, vamos ter de recomeçar do zero’. Diz o jornal que Sarkozy ‘não teria medido palavras para criticar’ a operação.


A GRANDE QUESTÃO


Escrevendo no Politico.com, o presidente da Câmara de Comércio dos EUA, ‘a maior federação de empresas do mundo’, Thomas Donahue, defendeu ‘com cabeça e coração’ o acordo bilateral com a Colômbia, pendente no Congresso. Seria ‘a grande questão comercial de 2008’.


Elogiando os ‘avanços’ na guerra ao tráfico, afirmou que o acordo é ‘obrigação moral’. ‘Os problemas da Colômbia são nossos problemas’, disse.


ABRINDO AS ASAS


A nova ‘Economist’ aborda longamente ‘o debate do descolamento’, ressaltando que, ‘enquanto a economia da América luta para se manter à tona, o mundo em desenvolvimento aprende a abrir suas asas’. Diz que os Brics são hoje ‘os menos dependentes dos EUA’ e até a China vem diversificando seu comércio. Diz que China, Brasil, Rússia ‘lançaram grandes projetos de infra-estrutura’, investindo para além da exportação etc. Em suma, ‘globalização e descolamento podem co-existir’. E, ‘com sorte, a economia do mundo pode se erguer acima da América’.


PROVAVELMENTE


Um diretor indiano da financeira Prudential deu entrevista ao ‘Business Standard’, da Índia. Questionado sobre ‘o melhor mercado do mundo’, disse que ‘provavelmente o Brasil’. Aliás, na resposta que virou título, ‘Deus provavelmente é brasileiro’.


EM GRANDE FORMA


A mídia estatal chinesa também abordou o descolamento e a ‘performance’ que fez do Brasil ‘o maior mercado’. Ouvindo Lula, Guido Mantega, Henrique Meirelles, diz que ‘o consenso é que está em grande forma para enfrentar’ a crise dos EUA.


VAI DOMINAR


Há dias no alto da busca de notícias de Brasil, a compra de uma empresa de carne pela ‘megaprocessadora brasileira’ JBS despertou o protecionismo até nas agências. Na Dow Jones, ‘produção dos EUA ganha sabor estrangeiro’ e ‘JBS reescreve a história dos EUA’. Na AP, ‘Brasil a caminho de dominar’. Em site do setor (acima), ‘Brasil está tomando a indústria dos EUA’. Reportagens mais serenas, só no ‘WSJ’ etc.’


 


MERCADO EDITORIAL
Eduardo Simões


Saraiva compra grupo Siciliano


‘A Saraiva anunciou ontem à tarde a compra de 100% das ações do grupo Siciliano. Segundo o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio Pousada, a empresa vai pagar R$ 60 milhões pelo negócio e ainda assumir a dívida líquida (não auditada) da Siciliano, no valor de R$ 13 milhões. A negociação, que vinha se desenrolando desde agosto de 2007, inclui as atividades editoriais do grupo, com os selos Arx, Futura, Caramelo e ArxJovem, e também um site de comércio eletrônico.


As 63 lojas Siciliano -52 próprias e 11 franquias- passam a integrar a rede de livrarias Saraiva, que em dezembro de 2007 tinha 36 lojas próprias. Ao todo, a Saraiva passa a ter 99 livrarias, na maioria dos Estados brasileiros. Ainda segundo Marcílio Pousada, nos seis pontos (em shopping centers) onde há superposição de lojas, por ora, a Saraiva não pretende fechar nenhuma. ‘Apesar de serem concorrentes, as lojas Siciliano desses pontos também são rentáveis’, diz o diretor.


Não há previsão de mudança no nome das lojas Siciliano. De acordo com Pousada, o grupo pretende aprimorar o atendimento e ‘melhorar o acervo’ das livrarias compradas, sobretudo com a oferta de mais livros técnicos, segmento de excelência da Saraiva, e oferta, nas lojas maiores, de CDs e DVDs.


O diretor-presidente anunciou também a inauguração de mais três lojas da Saraiva: em Juiz de Fora (MG), no dia 31, e outras duas em São Paulo e no Sul, até o fim do ano.


Até a conclusão desta edição, a presidência e o conselho administrativo do grupo Siciliano não haviam comentado a negociação.


Históricos


A livraria Saraiva foi fundada em 13 de dezembro de 1914, pelo imigrante português Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva. Apaixonado por livros jurídicos, Saraiva tinha um sebo no largo do Ouvidor freqüentado por professores e alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.


Mais tarde, o sebo recebeu o nome de Livraria Acadêmica. Com a morte de Joaquim Saraiva, em 1944, os filhos do livreiro deram continuidade à empresa, ampliando as suas atividades com a instalação de uma gráfica.


Em 1996, a Saraiva abriu sua primeira loja com conceito ‘megastore’, no shopping Eldorado, em São Paulo. Hoje, a rede está presente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de Brasília.


Já a Siciliano foi criada em 1928 por Pedro Siciliano, e inicialmente comercializava apenas jornais e revistas. A inauguração da primeira loja especializada em livros foi em 1942, no centro de São Paulo.


Em 1988, o grupo passou a investir na área editorial com a publicação de livros infantis e literatura em geral. A Siciliano está presente em 12 Estados brasileiros, além do Distrito Federal: São Paulo, Rio, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.’


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Apple abre iPhone a e-mail da Microsoft


‘A Apple habilitou o software de e-mail da Microsoft (Exchange) e está chamando programadores independentes para desenvolver programas novos para o iPhone, o aparelho que mistura iPod e celular. O investimento, de cerca de US$ 100 milhões, é parte de uma estratégia para aproximar o iPhone do mercado empresarial e habilitar mais jogos.


O lançamento visa aproximar o iPhone dos concorrentes Blackberry e Palm, preferidos por muitas empresas justamente pela possibilidade de acesso ao correio eletrônico.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Novela dos mutantes terá 2ª temporada


‘Maior sucesso da Record, a novela ‘Caminhos do Coração’ deverá adotar formato igual ao de ‘Malhação’ (Globo).


Já está praticamente certo que a novela de Tiago Santiago terá uma segunda temporada. Isso só não ocorrerá se a produção, hoje com 17 pontos de média semanal, despencar no Ibope, o que é pouco provável.


A previsão é de que ‘Caminhos do Coração – A Revolução’ comece logo após o fim da trama atual, em agosto. Na nova fase, deverá entrar no ar mais cedo, de segunda a sexta. Parte do elenco será trocada.


Tiago Santiago já trabalha no projeto da segunda temporada, criando novos mutantes, inspirados em seres mitológicos. A nova história continuará focada em ‘mutantes perigosos que desafiam humanos’ e parcialmente ambientada numa ilha.


‘Caminhos’ deveria ter seu último capítulo exibido em abril. Mas o sucesso da novela e o atraso na produção de sua substituta determinaram sua prorrogação até agosto.


A novela é hoje o produto que mais incomoda a Globo. Há um mês, ganhou no Ibope de um jogo do Corinthians. A Globo passou então a reforçar o futebol com entradas ao vivo do ‘Big Brother Brasil’. Nas duas últimas quartas-feiras, a novela não chegou a vencer a Globo em um único minuto. É que a rede líder transmitiu jogos da Libertadores, que atraem também as torcidas adversárias do time que está jogando.


CELESTIAL


Amanhã, em prova-merchandising em Jacarepaguá, será definido o último ‘anjo’ do ‘BBB 8’. O vencedor poderá decidir se imuniza ele próprio ou algum colega.


CULTURAL


Na edição da terça, ‘BBB’ mostrou animação inspirada no desenho animado do bem ‘Backyardigans’, exibido pelo Discovery Kids. ‘A paródia foi uma homenagem à minha filha de dez meses. Ela adora os bichinhos. Além disso, esse grupo dos cinco [‘big brothers’] vive mesmo em um jardim encantado’, explica o diretor do ‘BBB’, J.B. de Oliveira, o Boninho.


ESTRATÉGIA A cúpula da Globo só deve definir na semana que vem a grade de programação que estreará no início de abril.


ORGANOGRAMA 1 Sobrinho de Silvio Santos, Guilherme Stoliar vai reassumir a superintendência comercial do SBT. O executivo responderá a Daniela Beyrutti, filha do dono, que se tornará vice-presidente do SBT Geradora. A emissora será dividida em duas ‘empresas’ (geradora e programadora).


ORGANOGRAMA 2 Stoliar convidou Júlio César Casares, diretor de projetos especiais da Record, a voltar ao SBT, onde já foi diretor de rede. Casares disse não, obrigado.


NOVOS TEMPOS


A Globo liberou Tony Ramos, Tarcísio Meira e Giulia Gam a gravarem o ‘Troféu Imprensa’. Há vários anos a emissora não autorizava nenhum contratado a receber prêmios no SBT. Agora sua inimiga é a Record.’


 


Cristina Fibe


Série reúne tributo de 41 países à mulher


‘Minidocumentários de 41 países estão reunidos na série ‘Sexo Forte’, que homenageia a mulher e será exibida pela TV Cultura, de amanhã até o dia 10 de maio, sempre aos sábados, às 20h30.


A iniciativa promissora de retratar a posição da mulher em lugares tão distintos quanto China, Afeganistão e Brasil foi prejudicada por um problema de controle de qualidade -com produtores locais, que escolhem o tema e como executar vídeos de em média cinco minutos, parece impossível manter um padrão alto e linear.


O programa de amanhã traz histórias de mulheres ‘heroínas’ de Cuba, da Áustria, da Bolívia e da China, e se perde em depoimentos longos, cenários simplórios e, principalmente, na dublagem por cima das vozes originais, como se fosse uma tradução simultânea ou um quadro de televendas.


Um dos aspectos de maior interesse em um retrato tão diverso, as línguas locais são quase inaudíveis, em curtas que têm como base entrevistas e narrações em off.


Este programa de estréia termina melhor do que começa -o último episódio mostra a história de mulheres que buscam a independência dos homens em uma província montanhosa no interior da China.


Resta ver, nos próximos sábados, se os outros 37 países se saem melhor do que os quatro primeiros.


SEXO FORTE


Quando: estréia amanhã, às 20h30


Onde: na TV Cultura’


 


Folha de S. Paulo


Globo terá de apresentar íntegra de depoimento de doméstica


‘A juíza Adriana Costa dos Santos, da 19ª Vara Cível do Rio, condenou a TV Globo a apresentar em juízo a íntegra de um depoimento levado ao ar na novela ‘Páginas da Vida’ (2006/2007), de Manoel Carlos, em que a doméstica Nely Passos aparecia dizendo que se masturbava.


No final de cada capítulo dessa novela, era exibido o depoimento de uma pessoa comum sob os mais diversos assuntos. Em uma versão editada, Passos contava como chegara ao orgasmo pela primeira vez na vida, aos 45 anos, enquanto ouvia uma música de Roberto Carlos.


Segundo a Justiça, o depoimento tinha, na íntegra, duração de 90 minutos, mas foi editado, causando constrangimento a Passos, que assistia ao programa na companhia de amigos e familiares.


Segundo a doméstica, ela foi procurada em seu local de trabalho com a proposta de gravar um depoimento para ser exibido na novela. Se ele fosse veiculado, Passos receberia R$ 300.


A juíza achou procedente o pedido de exibição da fita em juízo e fixou prazo de 20 dias após a publicação da sentença, sob pena de multa diária de R$ 100 (limitada a R$ 50 mil).


De acordo com a Central Globo de Comunicação, a emissora recorreu da sentença que a obrigava a apresentar a fita bruta em juízo e está aguardando a decisão da Justiça.


Plágio de minissérie


Em outro processo, a Globo informou que recorrerá da decisão da Justiça fluminense que deu ganho de causa, em segunda instância, à autora Eliane Ganem por plágio do argumento de sua minissérie ‘Aquarela do Brasil’, registrado na Biblioteca Nacional em 1996. De agosto a dezembro de 2000, a emissora exibiu um programa homônimo, estrelado por Maria Fernanda Cândido, com texto de Lauro César Muniz e direção-geral de Jayme Monjardim.


Ganem iniciou o processo contra a Globo e Lauro César Muniz no ano em que a minissérie foi ao ar. ‘Estou mais leve’, disse ela. O advogado de Ganem, José Carlos Bruzzi Castello, afirmou que, aos R$ 100 mil de indenização por danos morais, ‘deverão ser acrescentados o valor pago a Muniz pelo roteiro e todos os lucros da Globo com a minissérie’.


Muniz e seu advogado não quiseram comentar. Afirmaram apenas que o caso corre sob segredo de Justiça.’


 


POLÍTICA CULTURAL
Folha de S. Paulo


Gil lança observatório e aponta editais como marca de gestão


‘O ministro da Cultura, Gilberto Gil, lançou ontem o Observatório de Editais, que pretende reunir no site do ministério (www.cultura.gov.br) informações sobre as seleções públicas em vigor no país, além de contar com um conselho para aprimorar e ampliar esses editais.


‘Se os cinco anos em que estamos no ministério tivessem que ser representados por alguma coisa, seriam por esse observatório e pela insistência na prática das seleções públicas. Fica um legado para os futuros ministros e gestores de cultura’, afirmou Gil no palácio Gustavo Capanema, no Rio, negando que pensa em sair do cargo.


Entre os objetivos do projeto está o de organizar um calendário anual de editais públicos e privados.


Segundo os números apresentados pelo secretário de Políticas Culturais do MinC, Alfredo Manevy, os patrocínios derivados de seleções públicas saltaram de R$ 22 milhões em 2003 para R$ 216 milhões em 2007.


No conjunto de projetos que obtiveram recursos por meio das leis Rouanet e do Audiovisual, a participação dos editais foi de 15% no ano passado, contra 3% em 2002. ‘É um processo aberto. ‘Tropa de Elite’ recebeu recursos públicos e ‘Amarelo Manga’, também. Não existe consagrados versus excluídos’, afirmou Manevy.’


 


CINEMA
Pedro Bucther


Irritante e fascinante, Moore volta a mirar os males dos EUA


‘Michael Moore não mudou. Continua manipulador, personalista e indulgente. Seu mais novo filme, ‘Sicko – $O$ Saúde’, confirma sua vontade de ser uma espécie de ‘médico’ dos EUA, com a pretensão de diagnosticar e curar as patologias sociais de um país.


Mas o fato é que Moore permanece, também, uma importante peça de contrapropaganda no cenário cada vez mais complexo da guerra de informações. Talvez ele deva ser observado mais como um fenômeno do estado atual da mídia do que como documentarista.


Em ‘Sicko’, ele ataca o sistema de saúde em vigor nos EUA, que começou a ser privatizado no governo Nixon e hoje, como regra, oferece péssimos serviços à população.


Na primeira parte de ‘Sicko’, Moore conta histórias de pessoas que enfrentaram doenças graves ou sofreram pequenos acidentes e se viram obrigados, por exemplo, a vender a casa.


Aos poucos, entendemos as engrenagens de um sistema movido exclusivamente pelo lucro. Na segunda parte, Moore viaja para outros países, como Canadá e França, para comparar os sistemas de saúde. É a hora do ‘alívio cômico’ e também de uma vergonhosa idealização desses sistemas que, evidentemente, são mais eficientes que o americano, mas também devem guardar suas mazelas.


O último golpe de Moore é uma daquelas sacadas altamente manipuladoras -mas interessantes justamente por sua assumida parcialidade e radicalidade. Moore cria um fato que faz valer o filme. Ele desembarca em Cuba ao lado de bombeiros e de voluntários no resgate às vítimas do ataque no 11 de Setembro, que ficaram com seqüelas físicas e psicológicas, mas não encontraram amparo algum do Estado.


Primeiro, eles buscam assistência na prisão americana de Guantánamo, onde existiria um hospital-modelo; depois, conseguem consultas médicas e remédios gratuitos na terra de Fidel Castro. Moore não faz documentários de descobertas ou investigações, mas arregimenta imagens, argumentos e entrevistas que vão corroborar teses predeterminadas. Por tudo isso, é uma figura irritante e fascinante, mas o fato é que, no fim das contas, sempre toca em assuntos negligenciados pela mídia.


Mesmo sendo manipulador e sentimentalóide, é mais honesto que vários outros documentaristas pretensamente mais isentos. No empobrecido cenário do ‘ame-o ou deixe-o’ da guerra das informações, talvez o melhor seja esperar e ver se, com o tempo, a história o absolverá.


SICKO – $O$ SAÚDE


Produção: EUA, 2007


Direção: Michael Moore


Onde: estréia hoje nos cines Frei Caneca, Lar Center e circuito


Avaliação: bom’


 


Sérgio Dávila


Era Bush é ironizada em longa


‘Visto hoje, 11 meses antes do fim do mandato de um dos piores presidentes da história dos Estados Unidos, ‘A Morte de George W. Bush’ parece mais um exemplar do sempre reprovável ato de se chutar cachorro morto.


Quando foi lançado aqui -ou não foi lançado, tamanhas as dificuldades que recebeu nos EUA-, há dois anos, no entanto, era um exercício de coragem e ousadia.


No ‘mockumentary’ -contração em inglês das palavras ‘mock’, falso, e ‘documentary’, documentário-, o diretor britânico Gabriel Range ‘registra’ a tentativa de assassinato do presidente norte-americano durante manifestação de opositores no lado de fora do hotel Sheraton de Chicago, onde ele faria um discurso importante. Para tanto, mistura cenas reais do presidente a filmagem com atores.


O ato é pretexto para que a Casa Branca, agora com Dick Cheney no comando, force a passagem do ‘Ato Patriota 3’, ainda mais bélico, chauvinista e restritivo às liberdades individuais que os dois verdadeiros que o antecederam.


A suposta medida ainda abre as comportas para que todas as forças envolvidas na investigação exerçam seus preconceitos adormecidos contra árabes. De quebra, toca no tema sempre atual da eficácia da tortura durante interrogatórios.


Mas a ‘realidade’ é bem diferente -não estragarei a surpresa para o leitor, pois se trata de um filme que vale o ingresso-, e parece premonição de Range que ele tenha escolhido justamente Chicago, Illinois, como cenário, em 2005, num momento em que as pretensões de concorrer à Casa Branca do senador júnior por aquele Estado eram apenas um plano delineado por um grupo de assessores e políticos locais.


Ameaças


Pergunto a ele em entrevista por telefone se sofreu muita crítica, ameaça e sugestão de retaliação ao fazer o filme. ‘Recebi muito e-mail ameaçador, muita gente da indústria com medo de lidar comigo, mas não, não ouvi de Hollywood a frase ‘Você nunca mais trabalhará nessa cidade’. E recebi a crítica com que todo cineasta sonha: do então porta-voz da Casa Branca [Ari Fleischer].’


Quero saber se ele faria o mesmo tipo de ‘mockumentary’ em que o assunto fosse a morte do ex-primeiro-ministro Tony Blair, à frente do gabinete britânico quando ele fez esse filme, ou o atual, Gordon Brown. ‘Faria, e provavelmente os britânicos encarariam como comédia. Nós não temos essa mesma reverência a eles que os americanos têm em relação ao ocupante da presidência.’


E sobre a rainha Elizabeth? ‘Ah, agora você me pegou.


Acho que aí seria mais complicado. Se eu fizesse -e eu não estou dizendo que faria-, provavelmente seria linchado na rua por parte das pessoas e elogiado por outra parte. Mas não farei outro filme nessa linha, de qualquer maneira.’


A MORTE DE GEORGE W. BUSH


Produção: Reino Unido, 2006


Direção: Gabriel Range


Com: Michael Rilley Burke, Hend Ayoub, Neko Parham


Onde: estréia hoje no cine Frei Caneca Unibanco Arteplex


Avaliação: bom’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 7 de março de 2008


TV LARANJA
Fausto Macedo


Promotoria investiga compra de 22 mil TVs por Requião


‘A Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público, vinculada ao Ministério Público do Paraná, está investigando a TV Laranja – como está sendo chamada a compra de 22 mil televisores de 29 polegadas e tela plana, ao preço de R$ 18, 9 milhões, realizada pelo governo Roberto Requião (PMDB).


Oponentes de Requião na Assembléia apontam suposto superfaturamento e favorecimento ao grupo empresarial contratado para fornecer os equipamentos que são destinados à rede pública de ensino. A compra foi feita há um ano, mas até agora os aparelhos não entraram em operação.


Cada aparelho custou R$ 860 ao Estado. O deputado Valdir Rossoni (PSDB), líder da oposição, pagou R$ 739 por uma TV. Ele fez a compra pela internet. Sustenta que o televisor que adquiriu possui as mesmas características do equipamento comprado pelo governo e dispõe até de DVD embutido e adaptação para pen drive.


Considerada a isenção do ICMS, que recai sobre os negócios do governo, o custo de cada peça seria de R$ 606,00, calcula a oposição. ‘O sobrepreço pode chegar a R$ 5,6 milhões’, afirma Rossoni.


A TV Laranja leva tal nome porque os aparelhos têm essa cor. O governo alegou que isso dificulta eventuais furtos nas escolas. O Grupo Cequipel, que vendeu as TVs à Secretaria de Educação do Estado, é o maior doador da campanha de Requião – contribuição de R$ 645 mil na jornada da reeleição do peemedebista, em 2006. A pasta da Educação é dirigida por Maurício Requião, irmão do governador.


O Palácio das Araucárias, sede do Executivo paranaense, nega irregularidades e destaca que a compra foi feita mediante processo marcado pela transparência e a partir de regular processo de licitação – modalidade pregão eletrônico. A licitação foi realizada no dia 14 de dezembro de 2006, pouco mais de um mês depois do triunfo eleitoral de Requião.


No início da semana, a oposição denunciou ao Ministério Público o fato de que o governo teve de contratar serviço de técnicos em informática para desenvolver um software que permita rodar vídeos em sala de aula. ‘É um escândalo’, sustenta Rossoni. ‘A tecnologia anunciada pela Educação como revolucionária simplesmente não funciona. Virou um elefante laranja.’


O deputado Luiz Claudio Romanelli (PMDB), líder do governo na Assembléia, classificou de ‘factóide mantra’ as denúncias da oposição. ‘Repetem isso há meses; é coisa despropositada, porque está sobejamente comprovado que os equipamentos atendem a especificações técnicas com características muito diferentes do produto de mercado. Maurício Requião tem sido um extraordinário secretário de Educação.’


O Sindicato dos Professores do Paraná protesta contra a demora na instalação do equipamento na rede de ensino – 22 mil salas de aula distribuídas em 2.100 escolas estaduais que abrigam 1,4 milhão de alunos. ‘Os professores estão recebendo treinamento para manusear os aparelhos’, informou José Rodrigues Lemos, presidente do sindicato. ‘A TV não foi utilizada, por isso ainda não temos uma avaliação. Fomos informados que esse aparelho dispõe de vários recursos, mas está chegando tarde. As TVs foram compradas no fim de 2006 e já poderiam ter sido entregues no decorrer de 2007.’’


 


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Governo estadual rechaça suspeita de irregularidade


‘Benedito Pires, secretário de Comunicação do governo Roberto Requião, disse que ‘a oposição não tem o que fazer e por isso elegeu a história das TVs como seu tema recorrente’. Ele rechaçou suspeitas de irregularidades na compra. Destacou que o fato de o Grupo Cequipel ter sido o maior doador da campanha de Requião não impede a empresa de participar de licitações. ‘Não houve favorecimento algum.’


A Secretaria de Educação informou que já foram entregues 21.052 televisores. No ano passado, quando a oposição começou a questionar o negócio, o secretário Maurício Requião declarou no programa Escola de Governo, da TV Educativa, que a aquisição em pregão eletrônico foi a melhor opção. Parecer da Procuradoria-Geral do Estado atesta a lisura da concorrência. Maurício anotou que o aparelho, fabricado pela CCE, tem características específicas para conexão de pen drive e cartão de memória.


O empresário Airton Bohrer Oppitz, presidente do Grupo Cequipel, não admite suspeitas sobre a transação. ‘Afirmo que não houve superfaturamento na venda dos monitores educacionais. Quatro Estados já adquiriram o mesmo produto, com as mesmas especificações, mas o menor preço praticado foi o do Paraná.’


A política de isenções fiscais implantada por Requião em seu mandato anterior (2003-2006) empolga Oppitz. ‘O ICMS do Paraná passou de 17% para 12%. Acreditamos na política do atual governo, por isso fizemos as doações. Tudo foi feito de acordo com a legislação eleitoral, com transparência.’


O Grupo Cequipel antecipou-se a uma eventual convocação e entregou ao Ministério Público todos os documentos acerca da licitação e dos aparelhos. ‘O monitor educacional foi entregue ao governo dentro de todas as especificações do edital público de licitação’, asseverou Opptiz.’


 


MERCADO EDITORIAL
Patrícia Cançado


Saraiva leva grupo Siciliano por R$ 60 milhões


‘A Saraiva anunciou ontem a aquisição da Siciliano, após um ano de duras negociações, com direito a idas e vindas e oferta de candidato de última hora. A Saraiva pagou R$ 60 milhões pela rede de 63 livrarias (52 próprias e 11 franquias), pela editora – que tem os selos Arx, Futura, Caramelo e ArxJovem – e pelo site de comércio eletrônico. Junto, leva também uma dívida de R$ 13,6 milhões.


As duas redes terão 99 lojas no País e um faturamento de R$ 580 milhões por ano. O interesse inicial da Saraiva era apenas pelas livrarias, mas acabou tendo de levar o pacote completo. Segundo o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio Pousada, a empresa ainda não tem uma definição sobre o futuro da marca Siciliano. ‘Estamos estudando se vamos manter ou não’, afirma. Alguns selos e títulos também podem ser cortados.


A Saraiva pretende mudar o padrão das lojas Siciliano, mas o investimento mais imediato será no aumento do acervo de livros, que caiu muito nos últimos tempos em função da crise vivida pelo grupo. Por anos, ela ficou no vermelho e acumulou uma dívida, hoje razoavelmente sob controle. A editora vinha perdendo boa parte dos seus grandes escritores. São nomes como Adélia Prado, Lya Luft, Danuza Leão, Raquel de Queiroz e Mario Vargas Llosa. Sobraram bons títulos principalmente na área de negócios.


A venda não foi fácil. Não havia consenso entre a família Siciliano e o fundo de investimentos americano Darby, que comprou 35% da empresa em 1998. ‘Faltou pouco para não sair. Os acionistas brigaram até o último minuto’, diz uma fonte próxima aos acionistas. ‘O Osvaldo Júnior (filho de um dos dois fundadores, Osvaldo Siciliano) chegou a tentar uma operação paralela para comprar a parte do Darby e vender mais caro depois. A idéia não durou muito.’


A família queria vender, mas cada um dos sete membros do clã tinha uma opinião sobre o quanto estariam dispostos a receber. O Darby queria se livrar do problema. O fundo deve ter embolsado metade do dinheiro (em dólar) que colocou no grupo há quase dez anos.


Na reta final das negociações, apareceu mais um interessado. A rede de livrarias La Selva chegou a acertar um acordo com o family office de um grande grupo para levar a Siciliano, segundo fontes do mercado. Desde que as conversas começaram, há um ano, a Siciliano também recebeu propostas de um grupo estrangeiro, de três fundos de private equity e de duas livrarias de médio porte – Curitiba e Leitura, de Belo Horizonte – que queriam se juntar para fazer uma oferta. A Saraiva foi assessorada pelo Pátria Investimentos. O mandato de venda da Siciliano estava com a Rosenberg Partners.’


 


Marianna Aragão


Empresa terá 20% das vendas de livros no País


‘A compra da Siciliano pela Saraiva reforça o movimento de consolidação entre as livrarias brasileiras. Juntas, as duas redes serão responsáveis por cerca de 20% da venda de livros do País, um mercado que movimenta R$ 3 bilhões por ano.


Antes pulverizada em pequenos empreendimentos e grupos regionais, o segmento viu nos últimos anos surgirem as megalojas – onde além de livros, encontra-se também CDs, DVDs, revistas, restaurantes e espaços para eventos – e redes cada vez maiores e profissionalizadas.


‘A tendência de formação de grandes redes, nos moldes do que ocorreu com os supermercados, é inevitável’, afirma o consultor Marcelo Cherto, da Cherto Consultoria, especializada em varejo e franquias.


O primeiro sinal dessa consolidação veio há cerca de um ano, quando a paulistana Laselva comprou a concorrente Sodiler, do Rio de Janeiro. Com a aquisição, a Laselva, focada em aeroportos, expandiu seus domínios para cidades do Nordeste e do Rio.


A Livraria Cultura, que abriu uma loja de três andares e 4,2 mil metros quadrados na capital paulista em 2007, não esconde os planos de receber um sócio. Com seu sistema de franquias, a Nobel já é a maior em número de lojas – atualmente são mais de 150 no Brasil e no exterior. A própria Saraiva tem um plano de abrir 11 lojas entre 2007 e 2008. Na semana que vem, pretende anunciar seu novo projeto de expansão.


Segundo Cherto, com mais musculatura, as redes passam a ter um poder de barganha maior com as editoras. ‘As maiores têm mais condições de se impor’, afirma. A estratégia também amplia a chance de as grandes livrarias adotarem práticas no tratamento com fornecedores bastante conhecidas em outros segmentos do varejo.


Uma delas é o enxoval, que obriga o fornecedor a ‘colaborar’ na abertura de uma nova loja, com a doação de parte do estoque e contribuição na verba de marketing. ‘Não é uma prática do comércio livreiro. Pelo que sei, não é bem vista pelas editoras’, diz o fundador da Livraria Cultura, Pedro Herz. ‘A Saraiva e a Siciliano têm um perfil parecido, com uma filosofia bem típica do varejo’, afirma.


Algumas editoras estão comemorando a aquisição. ‘Não vejo com preocupação. Pior é ter um rede fragilizada como a Siciliano, que estava atrasando o pagamento dos fornecedores’, afirma o presidente da Ediouro, Luiz Fernando Pedroso.


Outra medida que poderia passar a fazer parte da rotina de grandes redes seria o pagamento pelos editores de uma verba para colocar seu produto em lugar de destaque nas lojas, da mesma forma que ocorre em supermercados. ‘Isso já está acontecendo em algumas, mas deve aumentar’, diz Cherto.


COLABOROU PATRÍCIA CANÇADO


NÚMEROS


R$ 3 bilhões


é quanto movimenta a venda de livros no Brasil


20% é a participação


de mercado das duas livrarias após a aquisição


99 lojas


fazem parte da nova rede


35% é quanto crescem


as vendas da Livraria Saraiva


R$ 13,7 bilhões


é o valor da dívida atual da Siciliano’


 


TECNOLOGIA
Michelly Teixeira


Fusão une sete empresas brasileiras de software


‘A consolidação que há tempos está em curso no mercado brasileiro de Tecnologia da Informação (TI) ganha contornos mais fortes. Sete empresas decidiram unir suas operações para explorar sinergias, ganhar escala e conquistar oportunidades nas áreas de serviços e software para gestão de TI nas corporações. O resultado dessa integração é a Virtus, que herda mil clientes e 800 funcionários das empresas Automatos, Dedalus, Intelekto, Biosalc, Trellis, Visionnaire e Volans.


O faturamento somado das empresas, no ano passado, ficou em cerca de R$ 80 milhões. Pode não parecer muito, mas é bastante para uma empresa brasileira de software que não atua no mercado de sistemas de gestão empresarial (ERP, na sigla em inglês). ‘Poucas conseguem faturar mais de R$ 20 milhões’, disse André Fonseca, presidente da Virtus. O mercado em que a empresa atua, segundo o executivo, movimenta cerca de R$ 1 bilhão.


A fusão está sendo costurada pelo banco Fator, que também desenha o modelo de governança corporativa. A integração, no entanto, não acaba por aqui. Antes de fechar o formato do conselho de administração, a Virtus quer agregar outros parceiros à sua estrutura. Segundo Fonseca, há negociações avançadas para que outras três empresas entrem no grupo. Dentre as áreas de interesse da Virtus estão segurança, gestão de infra-estrutura de TV digital, cabeamento e análise de qualidade de software.


A união de forças se tornou uma necessidade no mercado de tecnologia, formado por uma miríade de pequenas empresas com atuação segmentada. Para ganhar músculos e se destacar em um setor tão pulverizado, empresas como Totvs, Tivit, CPM Braxis, Bematech e Datasul protagonizaram nos últimos anos fusões e aquisições no mercado brasileiro.


Ao ‘juntar as peças de um quebra-cabeça’, Fonseca diz querer tirar proveito do ‘tremendo potencial da venda cruzada’. Mas a Virtus terá de enfrentar gigantes multinacionais que atuam no mercado de gestão de TI, como IBM, HP e Computer Associates. Ainda assim, Fonseca está confiante de que há um grande mercado para se explorar, com potencial de alcançar no Brasil 17 mil médias e grandes empresas.


A decisão de fundir as operações de sete empresas precedeu a elaboração de um plano de investimento. A Virtus diz que pode usar recursos do caixa para financiar o processo de integração. Contudo, os investidores privados da empresa – Intel Capital, IdeiasNet e SPTec – estudam uma nova rodada de investimentos para capitalizar a companhia. E outros fundos de capital de risco poderão participar. A abertura de capital é vista como uma porta de saída, mas isso bem mais à frente. Mesmo porque cada sócio da Virtus precisa cumprir um prazo de permanência na empresa de, no mínimo, dois anos.


Ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de unir forças para gerar escala, os executivos da Virtus descartam demissões para solucionar a sobreposição de cargos. Fonseca reconhece que na nova empresa haverá funções duplicadas. Nota, porém, que a idéia é ‘realocar funções’, já que a Virtus precisará de farta mão-de-obra para aproveitar o potencial do mercado. ‘Não se trata de um projeto de sobrevivência, e sim de crescimento.’’


 


CINEMA
Ubiratan Brasil


O dia em que George W. Bush morreu


‘Logo que anunciou seu projeto de rodar um documentário fictício sobre a morte do presidente George W. Bush, o cineasta inglês Gabriel Range recebeu uma série de ameaças, algumas até de morte. ‘As pessoas não sabiam do que tratava o filme e julgaram pelo que imaginavam o que seria’, disse Range, que conversou com o Estado por telefone, desde Los Angeles. O ano era 2006 e o falso documentário em questão era A Morte de George W. Bush, que estréia hoje em São Paulo.


Uma das primeiras figuras eminentes a condenar o filme foi a atual candidata a candidata à Presidência dos Estados Unidos, a democrata Hilary Clinton – antes mesmo de assistir ao falso documentário, ela o condenou, taxando a obra de doentia e repugnante. Range reagiu com ironia: ‘Ao menos, o filme comprovou ser provocativo.’


O título nacional é mais elucidativo que o original, Death of a President, morte de um presidente. Trata-se, na verdade, de um cuidado de Gabriel Range que, ciente de lidar com um tema tabu (o assassinato de um presidente americano), evitou todos os riscos possíveis. ‘Não fizemos um filme antiamericano, tampouco uma crítica direta a Bush. Muito menos uma incitação a alguém cometer um ato tão bárbaro’, explica-se. ‘É uma obra que trata de questões sérias a respeito do mais importante governo do mundo ocidental.’


Estruturado como um documentário, o filme mostra a fatídica noite em que Bush, depois de um evento em Chicago, é assassinado a tiro ao sair do hotel Sheraton. Trata-se de uma morte anunciada: ao chegar à cidade, o presidente enfrenta uma manifestação cuja ferocidade surpreende a própria segurança. A cena da morte, aliás, faz lembrar o atentado sofrido por Ronald Reagan, em 1981, em Washington.


‘Fizemos inúmeras pesquisas sobre o funcionamento da segurança e notamos que, à noite, a possibilidade de acontecer erros é maior’, contou Range, que utilizou atores desconhecidos para interpretar todos os envolvidos no crime, desde a polícia e os responsáveis pela segurança até o próprio assassino. ‘A principal instrução era que ninguém exagerasse na interpretação para não perder a veracidade. Afinal, quando vemos depoimentos de pessoas como essas na televisão, nenhuma apresenta uma postura exagerada.’


A preparação foi meticulosa – os atores passaram por workshops antes de receberem o roteiro, um dia ou dois antes da filmagem. ‘Pedi para que não decorassem o texto, mas apreendessem o conteúdo e, no momento de rodar a cena, tentassem falar de forma espontânea.’


Outro detalhe é o tempo cronológico – o filme foi concluído e exibido em 2006 (a estréia, aliás, ocorreu no fatídico dia 11 de setembro), mas a trama se passa no futuro, ou seja, em 2007. ‘O período, no entanto, não é tão importante’, adverte o cineasta. ‘O ponto mais importante do filme é, para mim, apresentar uma reflexão profunda sobre a situação mundial logo depois do atentado às torres gêmeas. Afinal, aconteceram diversos fatos nos últimos anos que justificam mantermos uma posição de alerta. São fatos que explicam a Guerra do Terror capitaneada pelos EUA.’


Graças ao avanço tecnológico das técnicas de filmagem, Range conseguiu imprimir realismo ao longa, especialmente na cena em que George W. Bush é assassinado. ‘Fizemos uma série de fotomontagens e utilizei cenas que eu mesmo filmei quando o presidente passou por Chicago’, conta. ‘Na cena do assassinato, por exemplo, utilizamos três diferentes expressões de Bush de outros momentos.’ Orçado em US$ 2 milhões, o filme só foi realizado graças a investimento estrangeiro. ‘Quando falei do projeto nos Estados Unidos, os produtores acharam graça, mas ninguém colocou a mão no bolso’, brincou.


Serviço


A Morte de George W. Bush (Death of a President, EUA/2007, 96 min.) -Drama. Dir. Gabriel Range. 12 anos. Cotação: Bom’


 


Luiz Carlos Merten


Michael Moore agora ataca a privatização da saúde nos EUA


‘Exibido no Festival de Cannes de 2007 e indicado para o recente Oscar de documentário – perdeu para Taxi to the Dark Side -, o novo filme de Michael Moore tem a marca do autor, mas Sicko – $O$ Saúde não está tendo a mesma repercussão de Tiros em Columbine e Fahrenheit – 11 de Setembro. E não é porque seja ruim. Provocativo, manipulador e com alma de showman, Moore investe contra os planos de saúde nos EUA.


Pelo visto, é mais fácil criticar o presidente George W. Bush. Moore apresenta casos (numerosos) de pessoas lesadas por seguradoras de saúde para denunciar o óbvio. As empresas aumentam seus lucros buscando subterfúgios para não ter de pagar os serviços contratados pelas pessoas. Quanto maior o lucro, mais ganham os executivos. O diretor até poderia ter ganhado a simpatia dos conservadores, se tivesse ficado só nas histórias humanas. Mas ele vai além, e aí as coisas se complicam.


Mesmo na Inglaterra de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, uma das artífices das economias neoliberais, o sistema socializado de saúde permaneceu intocado – e até hoje o paciente, além de atendimento, recebe na saída do hospital o dinheiro da condução para casa. A pergunta de Michael Moore é simples – quem ganha com a privatização da saúde nos EUA? Se não virou comunista, ele com certeza está na contracorrente do mundo atual. Sicko busca casos na Europa e no Canadá para mostrar as vantagens da socialização.


Pode uma coisa mais retrô? A grande provocação de Sicko – seria cômica se não fosse trágica – está nas cenas com os bombeiros que foram heróis no 11 de Setembro. Abandonados pelas seguradoras, eles amargam graves problemas decorrentes de suas ações naquele dia. O diretor os coloca num barco e ruma para Guantánamo, onde os EUA mantêm prisioneiros suspeitos de terrorismo, para ver se recebem atendimento. Onde são atendidos de fato, e de graça, é na falida Cuba que ainda era de Fidel Castro. Sicko tem as qualidades e os defeitos do cinema de seu autor, mas nunca, como aqui, ele foi tanto à essência do sistema que critica.


Serviço


Sicko – $O$ Saúde (Sicko, EUA/2007, 113 min.) – Documentário. Dir. Michael Moore. Livre. Cotação: Bom’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Record cresce 45%


‘A TV encerra seu primeiro bimestre com faturamento acima do esperado. Segundo o mercado, o meio cresceu em média 10% em relação ao mesmo período do ano passado, número que impressiona se pensarmos que os dois primeiros meses do ano costumam ser fracos em anunciantes.


Mas motivo para comemorar mesmo tem a Record, que bateu seu recorde de faturamento em janeiro/fevereiro. A emissora cresceu cerca de 45% no período, em relação aos dois primeiros meses de 2007.


A emissora atribui esse crescimento ao aumento de sua audiência nas quatro faixas horárias da programação.


Ainda longe da Globo, a rede pretende faturar este ano cerca de R$ 1,8 bilhão, 25% a mais do que o faturamento de 2007.


A ordem é continuar investindo em dramaturgia e na faixa matutina, essa, uma pedra no sapato da Globo.


Ainda sobre a Record, Galisteu recebeu sua segunda chance no canal pelas mãos de um diretor do alto escalão, que, em uma conversa de 6 horas, tentou convencê-la a ficar no canal em 2004. Na época, a loira disse que a mãe sonhava em vê-la trabalhando com Silvio Santos.’


 


 


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