[do release da editora]
O jornalista Carlos Eduardo Pestana Magalhães (Gato) está lançando o livro Invasão no Iraque – Manipulação, censura e mentiras da imprensa dos EUA, pela Editora Canudos, de São Paulo. São artigos escritos e divulgados em sites da internet, entre 2003 e 2005, mostrando as incoerências e as parcialidades da cobertura jornalística norte-americana neste conflito armado. Dirigida e comandada pela Casa Branca, a mídia do país agiu mais como uma agência de propaganda do que como imprensa.
O livro procura mostrar que a tão propalada liberdade de imprensa e de opinião nos Estados Unidos não funcionou, que o patriotismo e os valores do american way of life, mais uma vez, foram mais fortes. A tese da defesa e da expansão da democracia defendida pela administração Bush, especialmente depois do 11 de setembro, foi aceita e difundida pela grande imprensa – jornais, revistas, televisão etc. – dos Estados Unidos.
A Editora Canudos chega ao mercado editorial com a proposta de publicar livros que levem as pessoas a refletir sobre o mundo em que vivem, seja na área da literatura de ficção ou na área da literatura política e de análise.
Lançamento do livro: dia 16 de agosto, a partir das 20h30, no restaurante Soteropolitano, na Rua Fidalga, 340, Vila Madalena, em São Paulo.
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PREFÁCIO
A imprensa na berlinda
Roniwalter Jatobá (*)
O cinema norte-americano já usou, por diversas vezes, a imprensa como tema de filmes instigantes e esclarecedores sobre o dia-a-dia do trabalho jornalístico nos EUA. Em 1951, o diretor Billy Wilder já mostrava, em A montanha dos sete abutres (The big carnival), a falta de ética do ambicioso e decadente repórter Charles Tatum (Kirk Douglas), que, disposto a noticiar um grande furo e resgatar prestígio e credibilidade, constrói toda uma história a partir de um acidente, manipulando desde a família da vítima até as autoridades.
Trinta anos depois, em 1981, seria a vez do diretor Sydney Pollack com Ausência de malícia (Absence of malice). Estrelado por Paul Newman e Sally Field, o filme mostra a situação clássica de manipulação da imprensa pelas autoridades e como interesses particulares podem comandar o que sai em uma publicação, mesmo quando os jornalistas não têm consciência disso. Com roteiro do jornalista Kurt Luedtke, ex-editor do Detroit Free Press, o filme revela, em resumo, que as reportagens do caso servem muito mais ao governo do que ao público leitor.
O tema da manipulação da imprensa pelo governo é o tema central deste livro do jornalista Carlos Eduardo Pestana Magalhães. Observador atento, ele analisa a cobertura da invasão militar do Iraque pelos EUA e como isso foi e está sendo tratado pela imprensa norte-americana, tanto nos jornais como na TV e na Internet. Com certeza, essa cobertura não é nada exemplar. Em suas análises, ‘a tão falada liberdade de imprensa nos EUA só existe quando não há confrontação com o ‘american way of life’ e os valores patrióticos ianques, normalmente impostos pelas administrações governamentais, além daqueles historicamente aceitos pela população’.
Segundo ele, o nível de manipulação das informações pela mídia dos EUA continua firme e forte. Há uma forte sinergia – política e ideológica – entre a maioria dos veículos de imprensa, editoras, universidades etc. e o governo. Acima de tudo está o país, a pátria, a bandeira, os interesses americanos, sejam eles quais forem. Nesse bombardeamento constante de mentiras, de manipulação de informações, a mídia do país, tão ciosa das liberdades de imprensa e de opinião, vergonhosamente, mais uma vez, capitulou.
O que acontece hoje na mídia dos EUA e é com vigor abordado por Carlos Eduardo Pestana Magalhães talvez possa ser explicado por uma frase do jornalista norte-americano Walter Lippman (1899-1974): ‘Quem acredita que notícia e verdade são duas palavras que designam a mesma coisa não vai a lugar nenhum. A função da notícia é sinalizar um acontecimento. A função da verdade é trazer à luz fatos ocultos’.
Walter Lippman sabia o que estava dizendo. Afinal, ele foi, a partir dos anos 20 uma das principais figuras no desenvolvimento das comunicações nos EUA, um dos responsáveis pela exploração de novas técnicas de propaganda, sob o argumento de que a manipulação de populações era necessária para administrar formalmente sociedades democráticas.
Este livro vai contra essa corrente ou contra a maré. Ao terminar de ler estes artigos realizados com um olhar na cobertura da imprensa na chamada Guerra do Iraque e publicados na internet entre 2003 e 2005, o leitor terá uma idéia diferente da imprensa norte-americana, considerada como paradigma de imprensa livre no mundo democrático. Ao contrário, revela um jornalismo controlado e manipulado pelos governantes e pela elite política e econômica do país. Certamente, um exemplo a não ser seguido, como afirma o próprio autor.
(*) Jornalista e escritor
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APRESENTAÇÃO
Liberdade de imprensa: ainda um desafio
Carlos Eduardo Pestana Magalhães
‘Se uma nação crê que pode ser ignorante e livre, crê no que nunca foi e nunca será. O Povo não pode estar em segurança sem informação. Quando a imprensa for livre e quando todos os homens souberem ler, tudo será seguro.’
Palavras do terceiro presidente norte-americano, Thomas Jefferson (1801/1809). Mais de três séculos depois, elas continuam valendo. A questão que se coloca é: de qual segurança ele fala. Jefferson, com certeza, estava se referindo à segurança nacional de um jovem país que havia se libertado da Inglaterra recentemente – os Estados Unidos. Suas convicções republicanas, reforçadas pelo período que passou na França como embaixador, substituindo Benjamin Franklin, marcaram profundamente sua história pessoal e também a de seu país.
Valores como liberdade, igualdade e fraternidade, símbolos da Revolução Francesa (14 de junho de 1789), solidificaram o poder político da burguesia francesa. Napoleão Bonaparte, depois de se consolidar como imperador da França e avançar sobre a Europa, derrotando seus adversários, expandiu esses valores burgueses, que significaram politicamente a implantação de regimes republicanos – mesmo que aliados a monarquistas – nos países derrotados, em contraposição à monarquia absolutista existente na época.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de inspiração iluminista, promulgada pela Assembléia Nacional Constituinte (26 de agosto de 1789) passa a garantir novos direitos aos franceses, como o direito à liberdade (individual, de pensamento, de imprensa, de expressão, de reunião); a igualdade perante a lei; a inviolabilidade da propriedade privada (pilar maior da nova sociedade burguesa em formação); o direito de resistir à opressão, entre algumas das novas conquistas libertárias asseguradas. Enfim, fica garantido o direito à liberdade política para a nova classe em ascensão, a burguesia, e em contraposição o mesmo acontece para as classes trabalhadoras que participaram ativamente da revolução francesa e que começam a se organizar politicamente. Partidos políticos burgueses e partidos de inspiração socialista – em oposição aos valores e ideais políticos da burguesia – são formados, marcando fortemente os novos tempos que surgiam.
Guerras, revoluções, ditaduras – de todas as cores e orientações – percorreram a história do homem, solidificando algumas conquistas da humanidade, burguesas ou não. A liberdade de imprensa foi uma dessas conquistas e mesmo depois de tanta luta para expandir e manter essa liberdade, por mais contraditório que possa ser, ela está hoje em dia profundamente ameaçada.
É um grande paradoxo – mais um – da sociedade capitalista contemporânea. Os meios de comunicação – veículos de imprensa, inclusive – nunca foram tão avançados e tão difundidos. A internet trouxe uma flexibilidade e um alcance formidáveis para todos. A divulgação de informações navega pelo mundo todo numa velocidade incrível. Claro que para isso funcionar eficientemente são necessárias algumas precondições. O uso da rede mundial de informações ainda está restrito a alguns países. Muitos milhões de pessoas não sabem sequer da existência dessa ferramenta. Se ainda existe tanta pobreza, tanta miséria, tanto analfabetismo, fica difícil tornar a internet – sem falar dos outros veículos – uma rede mundial de informações realmente democrática.
O alcance democrático da rede mundial de informações está diretamente ligado à melhoria da qualidade de vida dos habitantes do planeta Terra. E essa condição, apesar do avanço científico-tecnológico, não está fácil de ser alcançada. A existência das grandes e estruturais desigualdades sociais e econômicas entre os países significa, também, um controle da informação nos e pelos países mais desenvolvidos, aqueles mais ricos e com melhor qualidade de vida. Pobreza, miséria, analfabetismo, desconhecimento significam, cada vez mais, obscurantismo, inexistência de liberdades, violência, atrocidades, mortandade sempre maiores.
Ignorância é o oposto da liberdade. Não saber ler implica uma escravidão eterna. E isso, por mais incrível que possa soar, tem sido uma constante nos tempos atuais. Quem sabe ler tem um enorme poder sobre o analfabeto. É um diferencial significativo. Ler e compreender o que está escrito não é fácil.
E a dificuldade maior para essa compreensão ainda está na não existência de qualidade de vida, naquilo que se chama ‘lutar para sobreviver’. Saber ler, ter o que ler – livre acesso à informação –, está progressivamente deixando de ser um direito das pessoas. É mais uma dádiva, uma concessão para poucos, para uma elite mundial. Ou dito de outra forma: em muitos lugares do planeta, lê-se apenas o que é permitido, aquilo que a censura – seja ela qual for – deixa passar.
O jornalista africano Bob H. Deenee, da Costa do Marfim, entrevistado por José Paulo Lanyy, no portal Comunique-se, exilado no Brasil desde fevereiro de 2003, dá um exemplo. Ele falou o seguinte sobre a imprensa de seu país e da África em geral:
‘O jornalismo na África é sangue, lágrima, comoção, um completo desnorteio. Não há liberdade, não há democracia. A população não tem acesso à informação, não tem educação. Não se faz bom uso dos meios de comunicação. Os políticos não permitem a democratização. A imprensa não tem perspectiva de se firmar. Se você disser o que eles querem que você diga, continua na profissão. Mas se você trabalha com ética e profissionalismo; se você se dedica e prima pela independência e pela transparência, não tem a mínima chance na África’.
Por mais estranho e absurdo que isso possa parecer, esse controle acontece hoje em quase todos os lugares do mundo. Se Jefferson estivesse vivo, com certeza, estaria de ‘cabelos em pé’ com o que aconteceu nos Estados Unidos – e ainda acontece – quanto à cobertura que grande parte da imprensa norte-americana fez antes, durante e após a invasão do Iraque. No país, onde se cultua a liberdade de imprensa, a mídia norte-americana deu um show de hipocrisia, de mentiras oficiais, de patriotada, de manipulação grosseira das informações, atuando mais como agência de propaganda do que como veículo de imprensa. Claro que não é só lá que aconteceram essas coisas. Não é privilégio dos Estados Unidos de hoje. O problema é que, para quem se considerava parâmetro de imprensa livre para o resto do mundo, o que houve pode significar um grande retrocesso na imprensa mundial. Tanto assim, que só agora começam a surgir em alguns veículos da imprensa norte-americana algumas denúncias das mentiras criadas para assegurar o apoio da população do país à ilegal invasão do Iraque.
É o objetivo deste livro. Mostrar, através de uma série de artigos que divulguei pela internet entre 2003 e 2005, nos sites Jornalistas.com, Jornal Digital, Observatório da Imprensa e Correspondente.net, o grau de manipulação da imprensa dos Estados Unidos com relação à invasão militar no Iraque.