Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

As novidades de outrora

Nesta hora em que experimentamos verdadeiro abalo ético (e já era hora, pois motivos houve para semelhantes abalos em outros governos…), precisamos, a meu ver, cultivar atitudes sábias. Nada de apavoramentos. A história e a filosofia ensinam que assim é, assim foi, assim será. Nada de novo sob o sol…

Mas também nada de relativismos e conivências! Este é um excelente momento para refletirmos sobre tudo, com base em conceitos e raciocínios de autores radicalmente realistas. Refletindo, ficaremos menos expostos a novos salvadores da pátria, a novas soluções milagreiras, a novos paladinos da justiça, a novas ideologias que tudo questionam e não se questionam por nada deste mundo…

Ou, como pedia Chesterton, vamos às novidades: o que dizem os livros de outrora?

Observar tudo

Livros antigos, da autoria de antigos mestres, em novas edições. Dois pelo menos, lançados há pouco. Um: Agostinho de Hipona. Outro: Tomás de Aquino.

Agostinho escreveu A natureza do bem (Editora Sétimo Selo, 2005), tese de superdoutoramento sobre a concepção do bem e do mal. E tudo o que não podemos fazer é acusá-lo de maniqueísmo, pois este filósofo combatia justamente o maniqueísmo! Maniqueu não é quem distingue o bem do mal, mas quem atribui ao mal uma força que o mal não tem. O mal é falta de bem, é o bem diminuído. Mal comparando… a política se torna um mal quando os políticos esquecem de fazer o bem que certamente sabem fazer.

E por que nem sempre fazemos o bem que tão bem sabemos fazer? Aqui entra em campo Tomás de Aquino, que vivia citando Agostinho.

Tomás era um teólogo que acreditava no ser humano. A graça não dispensa a natureza. A manifestação do bem divino apóia-se no bem que sabemos promover. E daí a importância das virtudes humanas, dentre as quais a genitrix, a auriga virtutum (a mãe e condutora das virtudes), a prudência.

Prudência: a virtude da decisão certa (Editora Martins Fontes, 2005) é um tratado que apresenta a prudência sob uma ótica positiva. Não se trata apenas de pedir cautela… Ser prudente, não raro, é ousar, correr mais e melhor. Na direção correta.

Seremos imprudentes se desperdiçarmos a oportunidade de decidir o que fazer a partir de agora. Ouçamos os depoimentos, as acusações e declarações. Observemos o rosto, o tom de voz de quem depõe, acusa e declara. Observemos tudo.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)