Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

As transformações da profissão

Apresentação de Jornalismo online, modos de fazer, de Carla Rodrigues (org.), 216 pp., Editora da PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2009; título e intertítulo do OI

Desde o advento da Internet comercial e do lançamento do primeiro jornal on-line, em 1994, na Califórnia, que as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) têm transformado profundamente a profissão de jornalista. A constatação é o solo comum sobre o qual os autores deste livro trabalham, todos com o objetivo de refletir sobre consequências, impactos, desdobramentos e resultados das mudanças pelas quais tem passado o exercício da profissão.


São questões que interessam aos que já estão nas redações, aos alunos que ainda pretendem ingressar nesse mercado de trabalho, e a nós, professores, que cotidianamente lidamos com a tarefa de formar esses novos profissionais para uma realidade, cujo ritmo de transformação é inédito na história.


Jornalismo on-line: modos de fazer reúne pesquisadores que trabalham com a temática do jornalismo on-line, enriquecendo este volume com estudos e experiências tão diversificadas quanto a própria web permite.


No primeiro bloco, quatro artigos discutem o binômio formação-mercado de trabalho. Começo retomando a discussão sobre as características do jornalismo on-line e, nesse sentido, discuto como a web modifica a prática profissional, e busco trabalhar sobre quatro problemas que se articulam: o domínio da técnica, as peculiaridades do conteúdo, a complexidade no campo das fontes de notícias, e as exigências na formaçãoprofissional de um novo jornalista que, sem ser determinado pelo uso da tecnologia, irá enfrentar um mercado de trabalho transformado pela tecnologia.


Em seguida, Suzana Barbosa (UFF) examina dois estudos de caso em que iniciativas de integração estão alterando profundamente a rotina nas redações, discorrendo sobre os aspectos da convergência jornalística, suas características, definição e dimensões, e destacando estratégias dos processos já em curso na imprensa brasileira. A integração de redações de jornais, revistas, TVs, rádios, agências e portais de Internet e seus impactos no mercado de trabalho do jornalista, que se vê cada dia mais pressionado a assumir múltiplas funções pelo mesmo salário, é tema do artigo de Marcelo Kischinhevsky (UERJ/PUC-Rio), autor interessado nos impactos das NTICs na qualidade e na quantidade de empregos.


Fecha esse primeiro bloco artigo assinado por três professores da UnB – Thaïs de Mendonça Jorge, Fábio Henrique Pereira e Zélia Leal Adghirni – que se preocupam com a mesma questão, mas a exploram por ângulos diferentes e complementares.


Formação profissional


A segunda parte do livro está voltada para a informação e o conteúdo. Da Universidade da Beira do Interior, em Portugal, António Fidalgo e João Canavilhas trazem para o debate uma questão sobre a qual ainda há muito que refletir: como os telefones celulares, aparelhos de convergência que em breve se transformarão na principal plataforma de acesso à web, já começam a modificar a prática jornalística.


Da UFSC, Carlos Castilho e Francisco Fialho mostram como, ao incentivar modelos de produção de conteúdo de autoria coletiva, em redes de colaboradores, a Internet ameaça o papel do jornalista como produtor de informações, nessa avalanche informativa em que se transformou a rede.


Completam essa segunda parte dois artigos. Adriana Braga (PUCRio) discute a construção da legitimidade dos autores de blogs, problema pertinente na criação e veiculação de publicaçsiteões independentes que, para muitos profissionais, têm se tornado alternativa aos grandes meios de comunicação. O impacto das NTICs na produção de notícias é tema do artigo de Leonel Aguiar (PUC-Rio), em mais um debate que interessa profundamente aos estudantes: com a web, muda-se a estrutura da notícia? O lide, tal qual o conhecemos hoje, acabou ou acabará? São perguntas que saem das reflexões e da sala de aula para um texto que apresenta as divergências entre as diversas correntes de estudiosos sobre o problema.


Para encerrar, a última parte do livro apresenta artigo do jornalista Pedro Doria, que durante um ano foi pesquisador da Universidade de Stanford e se empenhou em investigar quais são as perspectivas de sobrevivência do jornal impresso. Seu relato dá conta de transformações que, tendo alterado o mercado de trabalho nos EUA, devem trazer mudanças para o Brasil. Doria pontua as semelhanças e diferenças entre os dois países e aponta para um futuro que, como no título de seu texto, é logo ali.


Com este panorama amplo de questões, abordadas por um conjunto de pesquisadores de diversas universidades e de diferentes áreas temáticas, Jornalismo on-line: modos de fazer quer proporcionar reflexões sobre a prática profissional e sobre a formação do novo jornalista, preocupação que se articula com o lançamento do Portal PUC-Rio Digital, iniciativa do Departamento de Comunicação Social que, além de levar a web para a prática na sala de aula, coloca importantes reflexões sobre o uso das NTICs na formação profissional e no mercado de trabalho. Dessa forma, Jornalismo on-line: modos de fazer pretende fazer parte de um esforço continuado de acompanhar e debater tão amplo tema.

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Professora de Jornalismo no Curso de Comunicação Social da PUC-Rio e editora do portal PUC-Rio Digital