A Editora Sabiá foi fundada em 1966 e ficava na Rua Toneleros, 191, em Copacabana, bem perto de onde houve o atentado que levou Getúlio Vargas ao suicídio, apenas dezenove dias depois. A tentativa de matar Carlos Lacerda, alvejado à porta do prédio onde morava, no número 180 da mesma rua, aconteceu na madrugada de 5 de agosto de 1954 e resultou na morte do major Rubens Vaz, da Aeronáutica. Ao se proteger na garagem do prédio, Lacerda levou seu filho Sérgio, que o acompanhava. Pai, filho e neto se tornaram editores, mas essa já é outra crônica.
Na verdade, o projeto editorial começou em 1960, quando Fernando Sabino, Rubem Braga e Walter Acosta fundaram-na com outro nome, Editora do Autor, uma cooperativa. Os sócios se desentenderam e dali surgiu, então, a Editora Sabiá. A Editora do Autor começara com A Revolução dos Jovens Iluminados, de Fernando Sabino, produto da viagem que fizera a Cuba como correspondente do Jornal do Brasil na comitiva de Jânio Quadros, recém-eleito presidente da República. Na ocasião foram lançados outros livros memoráveis: Furacão sobre Cuba, de Jean-Paul Sartre; O cego de Ipanema, de Paulo Mendes Campos; O homem nu, de Fernando Sabino; Antologia poética, de Manuel Bandeira.
Já como Editora Sabiá, lançou Para uma menina com uma flor, de Vinicius de Moraes, um verdadeiro best seller naquele ano e nos seguintes. Também Clarice Lispector publicou alguns livros pela Editora do Autor, republicados depois pela Editora Sabiá.
O distinto público não sabe de nada
Dentre os autores estrangeiros, a Editora Sabiá foi quem trouxe para os brasileiros a primeira edição de Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, lançado em 1968, apenas um ano depois de sair na Colômbia. Isso, sim, é faro editorial, hein! Outro acerto editorial foi publicar O apanhador no campo de centeio, de Jerome David Salinger, que havia sido recusado pela Civilização Brasileira. Aliás, Salinger morreu ano passado, dia 27 de janeiro, no mesmo mês em que completara 91 anos.
A Editora Sabiá tornou nacionalmente conhecidos, por várias gerações, os cronistas que lançou, consolidando-os como tais. Por que nossos jornais e revistas não lançam novos cronistas? E por que tão poucas editoras publicam livros de crônicas? E por que a mídia ignora esses livros depois de lançados? Não se pede que os elogie, mas que os critique, considere, pois oferecem elementos valiosos para a interpretação do Brasil, entre outros temas. Não fosse a pequena Sabiá discordar das hegemônicas editoras do período, quanto tempo mais teríamos esperado para ler autores, nacionais e estrangeiros que ela corajosamente lançou? Alguns já ganharam o Prêmio Nobel, mas foram lançados bem antes disso pela Sabiá.
Talvez a mídia precise pautar grandes reportagens sobre como anda o livro no Brasil. Editoras e livrarias vivem de autores que elas levam aos leitores. Enfrentam muitas batalhas e vencer a indiferença da mídia é uma delas, travada todos os dias. Mas por quê? O distinto público não sabe de nada. Pela mídia, não!
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Escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa)