Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cartas aos jovens

Contardo Calligaris acaba de publicar Cartas a um jovem terapeuta (Alegro, 2004). Estou lendo de alegre, pois nem mais tão jovem sou, nem jamais fui terapeuta (e muito menos aspiro a ser, embora possa imaginar, na linha das hipóteses descartáveis, que algum talento teria para a profissão).

Mesmo sem ser o melhor destinatário das cartas em questão, sinto-me inspirado por elas, lembrando as insuperáveis Cartas a um jovem poeta, de Rilke, título que vem à memória, obrigatória e imediatamente.

Há no mercado dezenas de livros em forma de cartas a outros jovens, poetas ou não. Antes de Calligaris, Marialzira Perestrelo publicou Cartas a um jovem psicanalista, e, numa rápida pesquisa, encontrei uma certa Mary Pipher, autora de Letters to a Young Therapist: Stories of Hope and Healing.

Os jovens do Brasil e do mundo devem estar sedentos pela leitura de cartas, porque a pesquisa continua e não paro de encontrá-las.

Renato Bernhoeft escreveu Cartas a um jovem herdeiro. Deixará o jovem rico, quando conquistar a velhice – deixará esse livro como herança para os seus?

Cartas a um jovem chef, de Laurent Suaudeau, parece ser uma leitura saborosa. Garçom, por favor!

O conhecido sociólogo francês Alain Touraine lançou nos anos 1970 Cartas a uma jovem socióloga, em que o mestre recomenda: ‘É preciso abandonar as utopias e profecias, ainda que catastróficas, para analisar o movimento, desconcertante mas real, das relações sociais’.

Cartas, cartas, cartas

Em 1997, com a assinatura de Vargas Llosa, surgiu o Cartas a un novelista, não traduzido entre nós, mas que em inglês saiu como Letters to a Young Novelist. Lá, as perguntas de sempre. Como se tornar escritor? De onde saem as histórias? Como usar o material autobiográfico? Como ‘funciona’ a responsabilidade do escritor?

Precisamos publicar cartas e mais cartas a tantos jovens leitores!

Cartas a um jovem jazzista, para que improvise na leitura.

Cartas a um jovem racista, para que saia da leitura com um sorriso amarelo…

Cartas a um jovem nazista, para que se dê conta da história.

Cartas a um jovem artista, para que entre na história com tudo a que tem direito.

Cartas a um jovem fanático, para que relativize tudo.

Cartas a um jovem ‘desencanado’, para que absolutize alguma coisa.

Cartas a um jovem advogado, para que não faça das leis a suma injustiça.

Cartas a um jovem drogado, para que se vicie na liberdade.

Cartas a um jovem… Cartas, cartas, cartas, cartas!

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Doutor em Educação pela USP e escritor