Meu interesse por literatura começou quando li, por indicação de uma professora, um livro da Agatha Christie. A narrativa eletrizante, o suspense, o mistério… Os elementos que me prenderam ao livro são os que me motivaram a ir atrás de novas obras escritas. “Quero mais histórias assim”, devo ter pensado. Era muito novo e não tenho uma lembrança exata daquele sentimento. A verdade é que, depois de Agatha Christie, conheci Edgar Allan Poe e tudo foi ficando ainda mais convidativo. Entre autores brasileiros, fui logo fisgado pelos livros modernistas. Conheci a literatura brasileira na escola, mas logo que saí dela mantive minha curiosidade, meu respeito e meu interesse pelos bons autores nacionais.
Má Conduta, recém-lançado pela Arte Editora, do autor nacional Matheus Lara, tem potencial para criar leitores. Uma linguagem simples – direto ao ponto (no que parece ser uma herança da formação do autor, no jornalismo) se mescla à narrativa visceral de seus seis contos do livro. Assim como Agatha Christie, Matheus Lara narra as histórias de forma eletrizante, traz elementos de suspense, grandes viradas no tempo, flashbacks e uma pitada de mistério. Ao leitor, gratas surpresas ao final da maioria dos contos – e o sentimento de “quero mais” ao final do livro.
Que vivemos num país ágrafo e pouco letrado, não temos dúvida. Mas nos traz otimismo ler Má Conduta e perceber o potencial que o livro tem de deixar as pessoas ainda mais curiosas por histórias como as narradas no livro. A intenção do autor pode não ter sido exatamente essa – criar leitores –, mas o faz sem querer e, de quebra, cria um público próprio: bom para o autor, bom para os leitores.
O autor surge como uma grande promessa para a literatura brasileira dos próximos anos. Má Conduta, publicado de forma independente, vem sendo elogiado e tem potencial de boas vendas. A distribuição limitada vem sendo compensada por um contato direto e honesto pela página do Facebook – eu mesmo comprei o livro diretamente com o autor, pela página). Este é o segundo livro do autor, que esteve entre os premiados no Festival Clube de Autores de Literatura Contemporânea, em 2013, por seu romance A flor que não é sua, publicado em 2012.
Má Conduta é uma grande obra de estreia no gênero – contos. O livro não fica muito atrás de livros de autores consagrados, como Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar ou Dalton Trevisan (paranaense, como Lara).
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Mario Augusto Villas Boas é jornalista e crítico literário