Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Crise financeira altera faturamento de emissoras

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 31 de outubro de 2008


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Crise altera faturamento das emissoras


‘A crise financeira mundial já reflete no cotidiano das redes e altera as previsões de crescimento do mercado de TV.


A Globo reduziu a perspectiva de crescimento do mercado publicitário de 15% para 11% em 2008. Para 2009, a emissora projeta um cenário de retração em relação a 2008, mas não de recessão. A mídia e a Globo deverão crescer 6% em 2009.


A Record vê um primeiro trimestre ‘muito difícil’ e não arrisca previsões para o ano que vem. Seus executivos afirmam que 2008 continua excepcional e que a rede crescerá 30%.


O SBT mantém a projeção de crescer entre 6% e 8% em 2008. ‘O ano que vem ainda é uma incógnita. A crise está atrasando negociações que, normalmente, já teríamos iniciado’, diz Henrique Casciato, diretor comercial. O executivo percebe indefinição e atraso principalmente em grandes anunciantes multinacionais.


‘A crise ainda não chegou, mas a gente já percebe movimentações no mercado. Há clientes dizendo que vão rever suas verbas [para 2009] e investir menos’, afirma Marcelo Meira, vice-presidente da Band, emissora que deverá crescer 32% em 2008. Ontem, Meira e os demais vices da rede passaram o dia reunidos discutindo a crise e cenários.


No dia-a-dia das TVs, a crise já interfere em negociações cotadas em dólar, como filmes. Orçamentos de programas e projetos estão sendo revistos.


CONVOCAÇÃO


A Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados aprovou anteontem requerimento de Ivan Valente (PSOL-SP) para a realização de uma audiência pública para discutir os excessos, principalmente da Record e da Rede TV!, na cobertura do caso Eloá.


BOLADA


A Band fechou com a Globo parceria por mais dois anos para compartilhar as transmissões do futebol. Em 2009 e 2010, além do Brasileiro, do Paulista, da Copa do Brasil e da Sulamericana, terá o Carioca. E mais jogos exclusivos.


DESESPERO


A Record passou anteontem a exibir a reprise de ‘Prova de Amor’, que só estava dando dois pontos, antes do ‘Programa da Tarde’. Sem efeito.


RETORNO


A Play TV, da Gamecorp (empresa em que um dos filhos de Lula é sócio), volta ao ar dia 11, agora como canal pago. Será distribuído pela Sky, que lhe reservou o canal 22 -o mesmo que era ocupado pela MTV.


CALENDÁRIO 1


No capítulo de anteontem de ‘A Favorita’, Lara (Mariana Ximenes) disse a Flora (Patrícia Pillar) que elas se conheciam havia uns seis meses.


CALENDÁRIO 2


Nesse tempo, Flora cometeu pelo menos quatro assassinatos, fez Donatela (Claudia Raia) ser presa e condenada por um deles, passou dois meses em Paris e forjou o próprio seqüestro e de Lara. E ainda teve tempo para assistir ‘àquele lixo’ de ‘A Doce Vida’, de Fellini, que dura quase três horas.’


 


 


Folha de S. Paulo


Documentário ‘analisa’ beleza francesa


‘O documentário ‘Belezas Francesas’ tem um foco de indiscutível força: a vasta galeria de beldades da França no cinema, na moda e na TV, entre outras tantas áreas. É um prazer, não apenas para os olhos, conferir depoimentos de estrelas de épocas diversas, como Catherine Deneuve, Jeanne Moreau, Juliette Binoche, Sophie Marceau e Anna Mouglalis, entre outras.


Apesar disso, a produção parece ampliar e confundir muito seu foco principal. Falar de beleza francesa é tão amplo que poderia gerar uma série de vários episódios. No entanto, o documentário condensa em pouco menos de uma hora cenas e entrevistas com nomes hoje clássicos -a inescapável Brigitte Bardot em ‘O Desprezo’; Moreau em ‘Jules e Jim – Uma Mulher para Dois’- , passa por nomes hoje mais experientes -Fanny Ardant- a talentos recentes -Marceau, Mouglalis e Virginie Ledoyen- , sem contar as modelos que viraram atrizes, como Laetitia Casta. Como ponto de apoio, entrevistas de cineastas, estilistas e críticos.


Ao atirar para todos os lados, fica para o espectador uma sensação de superficialidade. Fosse o foco mais definido, o documentário ganharia uma força autônoma para além da beleza das retratadas.


BELEZAS FRANCESAS


Quando: amanhã, às 20h


Onde: no GNT


Classificação: não informada pela emissora’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Bertrand de Orleans e Bragança


Dilemas do antiamericanismo


‘DE PARTIDA para os Estados Unidos, onde proferirei palestra no encontro nacional de ‘supporters’ da TFP norte-americana, decidi debruçar-me sobre o fenômeno do antiamericanismo.


Na minha juventude, os Estados Unidos espargiam pelo mundo um intenso fascínio. A americanização estampava-se nos modos de ser, vestir e se comportar de muitos de meus contemporâneos.


A nação norte-americana era portadora de uma modernidade que arredava a tradição considerada ‘démodé’.


Uma atmosfera de otimismo e despreocupação inconseqüentes, de progresso risonho, envolvia seu povo e conquistava o mundo.


Hollywood tornara-se foco desse modo de ser felizardo, auto-suficiente, um tanto vulgar e igualitário e moralmente tolerante.


Vieram as batalhas culturais dos anos 60 e 70, que culminaram simbolicamente com a derrota no Vietnã.


Tal derrota, sofrida mais no campo interno do que na frente de batalha, fruto da propaganda e da mentalidade libertária e pacifista, causou um abalo na estrutura psicológica do norte-americano e assinalou uma inflexão decisiva na sua história.


Tais inflexões não se dão de chofre nem têm como determinante um único fato. Elas germinam, estendem suas raízes, desabrocham e se consolidam ao longo de anos, às vezes, décadas. Mas determinados acontecimentos têm o condão de cristalizá-las.


Derrotado, o americano médio se encontrou diante do infortúnio, o qual traz muitas vezes consigo a reflexão saneadora e salvífica.


Enquanto nas profundidades da mentalidade americana se operava uma rotação fundamental, permanecia, em larga escala, a propensão ao gozo da vida, à displicência, ao comodismo, que se traduzia, ante a ameaça da hecatombe nuclear que assombrava o clima propagandístico da Guerra Fria, no slogan capitulacionista: ‘Melhor vermelho do que morto’.


O espírito derrotista levou norte-americanos a queimar sua própria bandeira, num sinal público de menosprezo e hostilidade em relação aos valores que constituem o fundamento da nação.


Mas a metamorfose que se gestava nas profundidades foi emergindo com força incoercível, consolidando, segundo me parece, uma das transformações psicopolítico-sociais de maior vulto na história contemporânea. Em amplos e importantes setores da nação norte-americana brotou um conservantismo político, um senso de coerência, honra e pugnacidade, a par de tendências profundas, saudosas da tradição, tonificantes dos valores familiares e ávidas dos princípios perenes da civilização cristã.


Tal transformação incidiu igualmente nas escolhas da linguagem, dos trajes, das maneiras, das residências, dos objetos de utilidade ou de decoração etc.


Curioso é notar que, paralelamente a tal mudança, o antigo fascínio pelos Estados Unidos foi sendo substituído por um sentimento de acrimônia e até mesmo de hostilidade. O antiamericanismo passou a ser militante em vastos círculos dirigentes e difuso em certas camadas do público.


Os Estados Unidos, considerados outrora fonte da modernidade, passaram a ser apontados como retrógrados e obliterados, e contra eles se alimentaram parcialidades, má-vontades e intransigências.


No presente momento, um fato desconcertante irrompe em cena. Esses focos de propaganda e militância antiamericana são agitados por um verdadeiro oba-oba pró-Barack Obama: o homem da ‘mudança’, de uma ‘mudança’ que ninguém se abalança a definir, nem ele próprio, mas que esses círculos parecem almejar para os Estados Unidos e o mundo.


Como esse antiamericanismo rançoso se transmuta e se torna pró-americano? Dou-me conta de que ele não constitui uma manifestação simplista de nacionalismo ou de antiimperialismo, mas traz involucrada profunda animadversão ideológica. Volta-se contra um certo tipo de EUA.


Revela um mal-estar ante o fato de parte muito considerável e dinâmica da sociedade americana (com forte pujança entre os jovens) ter aderido a tendências, ideais e princípios conservadores, no sentido mais amplo do termo.


A torcida pelo candidato democrata é, para mim, sintoma do desejo desenfreado de certas máquinas político-propagandísticas de inverter essa conjuntura.


A eventual vitória de Obama será o fruto de uma gigantesca operação de propaganda, à qual não faltaram ingredientes variados, até turbulência financeira. Mas terá ela a capacidade de alterar a realidade profunda da opinião pública norte-americana?


DOM BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA é trineto de dom Pedro 2º.’


 


 


Daniel Bergamasco


Para vencer, Obama recria imagem durante campanha


‘Focada em irrigar o entusiasmo das bases, a campanha do candidato democrata Barack Obama à Casa Branca chega à reta final despida do tom modesto que tinha nas primárias, quando ele defendia a imagem de ‘azarão’ mesmo após ultrapassar a rival Hillary Clinton nas apostas de que conquistaria a candidatura pelo partido.


Ao assumir sua campanha rica em fama e dinheiro (e, segundo pesquisas, em preferência popular para o pleito da próxima terça), Obama abre riscos de chamuscar sua imagem ante as ‘formiguinhas’ que o fizeram chegar ali, que poderiam perder entusiasmo ao comprar a imagem de ‘arrogante’ que a oposição tenta lhe imprimir.


‘Fico surpresa com o fato de os eleitores de Obama não parecerem ofendidos com todo esse dinheiro, especialmente com o anúncio de TV de meia hora [exibido na quarta-feira em sete emissoras, ao custo de US$ 5 milhões]. Ao contrário, ele continua mostrando uma força que vem de baixo para cima como nenhum outro candidato à Presidência dos EUA. Está mais popular e arrecadando cada vez mais dinheiro’, diz Barbara Kellerman, pesquisadora da Universidade Harvard e autora de livros sobre o peso da mobilização popular na construção de candidatos.


Para Michael McDonald, analista político do Instituto Brookings, o candidato fez a curva de imagem no momento certo. ‘Chega de ‘eu sou modesto’. Para vencer, Obama tem de parecer poderoso, presidenciável, não poderia ser o azarão eternamente’, diz.


Desde 2007, o democrata fez história ao passar de senador pouco experiente a candidato viável a partir da mobilização em torno de seu nome na internet. O fenômeno não foi totalmente espontâneo. Obama reinvestiu suas doações na criação de recursos na internet, como flâmulas virtuais e vídeos virais com artistas, que potencializaram seu nome.


Reality show


Para Kellerman, a campanha presidencial americana tem um certo espírito de ‘reality show’ de TV. ‘Obama continua arrecadando, apesar de todo mundo saber que sua campanha é rica, porque as pessoas querem embarcar nesse vagão rumo à vitória. O povo americano adora vencedores, e Obama não poderia se apresentar de outra forma agora.’


Na média das pesquisas, Obama tem vantagem de cerca de seis pontos percentuais. Mas nos EUA, o que vale é o Colégio Eleitoral, no qual a vitória em cada Estado (exceto em Maine e Nebraska) dá direito a um pacote de votos, maior ou menor segundo a população. Nas projeções estaduais, Obama aparece como favorito, mas por margem tênue em Estados-chave.’


 


 


John Gapper, Financial Times


Na blogosfera, conservador perde espaço para ‘liberais’


‘Na tarde da última quinta-feira, Matt Drudge anunciou em letras maiúsculas vermelhas na manchete principal de seu site, ‘The Drudge Report’, a história da voluntária de John McCain que alegou ter sido atacada e mutilada em Pittsburgh, relato que posteriormente se revelou falso.


O caso foi o mais recente de uma série de instâncias em que Drudge não conseguiu recapturar a magia do passado, quando o ‘Drudge Report’ exerceu um fascínio sem rival sobre a agenda da mídia. Ele passou os últimos 30 dias descaradamente escolhendo a dedo pesquisas cujos resultados favorecem John McCain, o que é recebido com escárnio ruidoso por blogs de apoio a Obama.


O declínio de Drudge faz parte de um deslocamento mais amplo da mídia americana, tanto velha quanto nova, em direção ao Partido Democrata. Diferentemente do que aconteceu nas duas últimas eleições, quando Karl Rove, o estrategista de Bush, explorou com maestria o tempo curto de atenção da mídia e seu amor pelo sensacional, o candidato republicano desta vez perdeu o afeto e o respeito da imprensa.


Boa parte da culpa por isso cabe a McCain, pelo fato de ele ter travado uma campanha caótica e desagradável, perdendo a calma e o bom humor. Isso ainda enfurece os republicanos, que estão convencidos de que a mídia está contra eles. Inúmeros jornais (incluindo o ‘FT’) já declararam apoio a Obama. Nesta semana a revista online ‘Slate’ revelou que 55 de seus profissionais pretendem votar em Obama, e um, em McCain.


Creio que, de fato, os republicanos têm razão em supor que a mídia atualmente esteja enviesada para a esquerda nos EUA, mas não pelo motivo óbvio. Isso se deve menos ao viés de jornalistas pertencentes à chamada ‘elite liberal’ e mais ao desabamento da ordem estabelecida da mídia, desde o ‘New York Times’ até Matt Drudge. A hegemonia de Drudge vem sendo solapada. Sua parcialidade enfureceu tanta gente, que sites de viés esquerdista, como o ‘Daily Kos’, despontaram.


Ultimamente sua primazia na divulgação de notícias vem sendo roubada pelo ‘Huffington Post’, um misto improvável de blogs de viés esquerdista, reportagem e agregação, que deixou o ‘Drudge Report’ para trás em termos de tráfego na internet. Atraiu 4,5 milhões de usuários únicos em setembro, contra 2,1 milhões do Drudge. Enquanto o Drudge escolhe a dedo notícias que podem prejudicar Obama, o ‘Huffington Post’ faz o contrário.


Essa deslocamento à esquerda online corresponde ao que vem acontecendo na TV a cabo, onde o canal de jornalismo de direita Fox News vem cada vez mais enfrentando sua imagem espelhada na MSNBC.


Tradução de CLARA ALLAIN’


 


 


PRÊMIO
Folha de S. Paulo


Reportagem da Folha sobre a cana é premiada no exterior


‘A reportagem ‘Os anti-heróis – o submundo da cana’, de Mário Magalhães e Joel Silva, da Folha, venceu o prêmio jornalístico internacional Every Human Has Rights, concedido neste ano por ocasião do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.


Publicada em 24/8, a reportagem revelou que a situação dos cortadores de cana de São Paulo lembra o período colonial: nas usinas, o fiscal é chamado de ‘feitor’, e as denúncias de trabalho escravo são freqüentes.


Concorreram trabalhos de 108 países -30 premiados. Do Brasil, além do texto da Folha, foram premiadas as reportagens ‘Favela S/A’, de Carla Rocha (‘O Globo’), e ‘Terra do Meio: Brasil invisível’, de Fátima Baptista (Rede Globo). A premiação será em Paris, em 6 de dezembro.


O prêmio é apoiado pelo grupo de líderes ‘The Elders’, reunido por sugestão de Nelson Mandela, que visa usar sua experiência para resolver problemas mundiais.’


 


 


GREVE
Folha de S. Paulo


Jornalistas param greve no governo


‘Jornalistas da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) decidiram ontem em assembléia retornar ao trabalho após um dia de paralisação.


Os profissionais querem que, no plano de cargos e salários da empresa, seja aprovado um piso de R$ 3.000 mensais à categoria. Uma rodada de negociações entre a direção da empresa e os sindicalista está marcada para hoje.’


 


 


LITERATURA
Sylvia Colombo


No passo do elefante


‘Um vento frio batia no vilarejo de Alcochete, que fica à beira do rio Tejo, a poucos quilômetros de Lisboa, na noite da última terça-feira. Ali, num shopping moderninho a céu aberto, ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ teve uma acanhada pré-estréia, na terra do criador de sua trama, o escritor e Prêmio Nobel português José Saramago, 85.


Ao lado do diretor do filme, Fernando Meirelles, Saramago fez um curioso comentário. ‘A última vez em que estive em Alcochete, aqui só havia burros.’ Sentiu-se, então, um silêncio constrangedor na platéia.


Mas ele logo explicou o que queria dizer. No passado, a região era conhecida por ser um lugar onde burros de carga vinham tomar água e se alimentar. Mas, agora, parecia ter se tornado apenas mais um lugar a sucumbir ao capitalismo.


Logo ouviram-se risadinhas. Em parte deviam ser de alívio, dos reais moradores de Alcochete, que percebiam que não, não estavam sendo xingados.


Mas, no geral, o que elas mostravam mesmo era que os presentes reconheciam naquelas palavras o bom e velho Saramago. Sempre disposto a, a partir de uma situação comezinha qualquer do dia-a-dia, buscar analogias para lançar torpedos contra as crueldades do capital e da globalização.


No dia seguinte, na sede da Fundação José Saramago, em Lisboa, pergunto ao autor se, afinal, não era melhor para a pobre Alcochete, nos dias de hoje, ser a sede de um shopping center do que uma aldeia freqüentada por burros de carga.


‘É óbvio que os que ali vivem assim pensam, mas alguém precisa surgir para avivar lembranças. Conservar a memória de um outro tempo ajuda a relativizar o atual.’


No Brasil


Para o métier intelectual, Saramago é um esquerdista cabeça-dura incorrigível, mas ele parece não se importar com isso, e o fato é que seus livros caíram no gosto comum geral. Principalmente por parte do público brasileiro.


Os números de vendas ilustram isso. Atacado em Portugal pela Igreja Católica, ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ vendeu na ex-colônia mais de 200 mil exemplares. Já ‘Ensaio Sobre a Cegueira’, 300 mil, número impulsionado agora pelo filme de Meirelles.


Esse vasto mercado e uma relação afetiva crescente com o país levaram Saramago a escolher o Brasil para receber sua nova obra, o romance ‘A Viagem do Elefante’. No dia 27 de novembro, em evento no Sesc Pinheiros, ela terá seu lançamento mundial.


Na mesma semana, o Nobel será também homenageado pela Academia Brasileira de Letras, no Rio, e terá aberta no Instituto Tomie Ohtake, em SP, uma exposição com objetos pessoais e manuscritos.


Em entrevista à Folha, Saramago explicou que seu novo romance foi concebido há muito tempo, em 1999, mas que, apenas no último ano, quando esteve entre a vida e a morte, ele recebeu seu ponto final.’


 


 


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Saramago usa elefante contra ‘inimigos’


‘Saramago ainda se recupera de uma grave doença respiratória, que quase o levou embora no ano passado. Na dedicatória de ‘A Viagem do Elefante’, ele homenageia quem parece tê-lo salvo do pior: ‘A Pilar, que não deixou que eu morresse’.


Pilar é a jornalista espanhola com quem está casado há mais de duas décadas. Mais jovem do que ele 28 anos, é ela quem organiza seus dias, vigia o que sai na imprensa e cada passo de lançamentos e entrevistas do marido mundo afora.


Mesmo fragilizado, ele continua com a agenda cheia. Fala, viaja e mantém um blog (caderno.josesaramago.org). O casal passa temporadas em Lisboa, mas mora mesmo na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, na Espanha.


‘A Viagem do Elefante’ parte de um episódio verídico e inusitado. Em 1551, o rei português dom João 3º deu de presente ao arquiduque da Áustria um elefante indiano.


Uma caravana, que literalmente caminhava a passo de elefante, atravessou então boa parte da Europa para entregar o animal a seu destino, causando sensação nos povoados ao longo do caminho.


Afinal, tratava-se de um animal que as pessoas, na época, sequer sabiam como era.


Na comitiva, iam um comandante, um tratador de elefantes, soldados e bois. Homens e animais se observam o tempo todo ao longo da narrativa. ‘Quis usar o elefante como metáfora da vida humana. Os homens não entendiam bem as reações e os sentimentos do animal, mas também talvez porque não entendessem os seus mesmos’, diz o escritor.


Partindo de um exemplo da realidade histórica, Saramago aproxima-se do tipo de romances que escreveu nos anos 80, como ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’ ou ‘História do Cerco de Lisboa’.


Por outro lado, o livro é também uma grande fábula, como os que vieram a partir da década seguinte, como ‘As Intermitências da Morte’, ‘A Caverna’ ou o já citado ‘Ensaio sobre a Cegueira’.


Igreja e capital


A obra traz provocações a seus inimigos de costume. Entre eles, a igreja. Num dado momento, a população de uma aldeia alerta o cura local de que algumas pessoas andavam dizendo que o elefante que por ali passava era uma representação de Deus, segundo os indianos. O padre resolve, então, exorcizar o elefante.


‘A igreja, que, para efeitos propagandísticos, cultiva a modéstia e a humildade, nos comportamentos age com um orgulho sem limite. Por isso criei esse padre, que quer exorcizar um elefante, como se fosse possível imaginar o que vai ali pela cabeça do bicho e, por analogia, o que vai pela cabeça de um homem comum.’


Já contra o capital, Saramago hoje posa com segurança devido ao cenário de crise global. ‘Algumas pessoas, entre as quais me incluo, já vínhamos avisando que algo assim ia acontecer. E agora o que vemos? Que aconteceu mesmo!’


A esquerda, porém, para ele, não tem como dar respostas à tragédia. ‘Não dá nem para dizer que há em processo a elaboração de uma alternativa.’


Ortografia


Apesar de não querer saber de mudar seu modo de escrever, Saramago é um defensor do acordo ortográfico firmado entre países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que começará a entrar em vigor no Brasil em janeiro do ano que vem.


‘Ele é necessário, mais para nós do que para vocês. O Brasil é quem lidera o ensino e a divulgação da língua pelo mundo. Temos de nos adaptar, para o nosso próprio bem, para a sobrevivência da nossa cultura.’


As novas regras vão afetar principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen. Em Portugal, onde haverá mudanças maiores, houve resistência por parte de intelectuais. ‘Tenho certeza de que com o tempo verão que a mudança terá sido benéfica.’


Ele mesmo, porém, diz que não vai mudar sua escrita. ‘Os que forem revisar meus textos que o façam. Podem republicar meus livros dentro das novas regras, mas não serei eu a aprender, a essa altura da vida, um outro jeito de escrever.’’


 


 


FOTOS
Mônica Bergamo


Festa estranha, gente esquisita


‘As fotografias de pessoas ‘excêntricas’ capturadas na noite paulistana que alimentam o site Freakstyle (www.freakstyle-freakstyle.blogspot.com) vão virar livro em março; Paula Reboredo e Gilberto França (à esq.) estão finalizando o projeto, ainda sem editora. O livro faz parte das comemorações do primeiro aniversário da festa Vai!, produzida mensalmente pelo casal no clube Glória. Donos do brechó moderninho B.Luxo Vintage, na rua Augusta, Gil e Paula estão lançando também uma marca de roupas estilo rock’n’ roll com apelo anos 80. Desenharam jaquetas de couro, calças justíssimas com estampas de zebra, peças com aplicações de tachas e gravatas fininhas.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 31 de outubro de 2008


 


GREVE
O Estado de S. Paulo


Jornalistas da EBC fazem greve de 24h


‘Doze jornalistas da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) no Rio fizeram greve de 24 horas. Ontem, o grupo voltou ao trabalho, após assembléia em que optou por acompanhar decisão dos funcionários de Brasília. Na próxima quarta-feira será realizada nova assembléia. A paralisação ocorreu das 13h de quarta-feira às 13h de ontem, quando não houve produção de matérias.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
O Estado de S. Paulo


Novo comercial de Obama critica Sarah


‘O novo comercial democrata veiculado ontem pelas emissoras de TV americanas, ataca, ao mesmo tempo, dois pontos fracos da campanha rival: a crise econômica do governo Bush e a escolha de Sarah Palin para vice na chapa republicana. Na peça, McCain diz: ‘Eu posso ter de contar com a vice-presidente que eu escolhi.’ Em seguida, aparecem no vídeo a pergunta ‘Sua escolha?’ e imagens de Sarah.’


 


 


TELES
Michelly Teixeira e Renato Cruz


Acionista da Oi prefere pagar multa a rever acordo com BrT


‘A Andrade Gutierrez, um dos controladores da Oi, descartou renegociar o contrato de compra da Brasil Telecom (BrT), mesmo que o negócio não consiga a aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) até 21 de dezembro, quando termina o prazo contratual. ‘Sempre é possível aditivar um contrato, mas é preciso analisar conseqüências, e eu diria que isso não é muito estimulante’, disse ontem o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, durante o evento Futurecom, em São Paulo. Na quarta-feira, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, afirmou que renegociar o contrato era ‘muito difícil, mas não impossível’.


Apesar de negar dificuldades de entendimento entre as partes envolvidas, Azevedo indicou que uma negociação poderia ser mais cara que os R$ 490 milhões de multa previstos no contrato de compra da BrT. ‘Essa falta de estímulo pode ser quantificada’, apontou o executivo, sem indicar quais poderiam ser esses custos. A negociação para se chegar ao primeiro acordo foi árdua, e incluiu o pagamento para o fim das disputas judiciais entre os sócios da BrT. A crise, com a queda do valor das empresas e o aperto de crédito, tornou a situação de mercado bem diferente de quando as duas empresas fecharam negócio.


Azevedo negou que haja renegociação do contrato em virtude de preço, agora que as ações da BrT caíram bastante. ‘A crise não afeta o processo de compra. O que concordamos pagar foi baseado em um racional econômico: a BrT tem enorme perspectiva de crescer em celular, banda larga e dá uma capacidade enorme de integração com a Oi. Acreditamos que nosso vetor de crescimento vai ser potencializado com a BrT.’


Para o executivo, é possível que a Anatel consiga dar seu aval ao negócio antes do fim do prazo contratual. ‘Mas isso não deve ser entendido como pressão à agência. Se não der tempo, a Anatel não é culpada.’ Porém, ele reconheceu que, se não concluir a compra em tempo hábil e o contrato expirar, a concorrência ficará em cima. ‘Chegou o dia e não chegou a autorização, voa o cheque, como disse o Falco. O interesse continuará, mas aí vou ter concorrência.’


Essa possibilidade preocupa o governo. Caso haja indicações de que a compra não vai se concretizar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia, segundo fontes, optar por deixar de publicar o Plano Geral de Outorgas (PGO), decreto presidencial que permitirá a conclusão do negócio. Se for publicado o PGO e, por algum motivo, a Oi não fechar o negócio, a BrT poderia ser comprada por outros grupos, como os espanhóis da Telefônica ou os mexicanos da Embratel.


CREDIT SUISSE


Os acionistas da Oi descartam a possibilidade de acionar o Credit Suisse para a compra da BrT. Embora o contrato fechado com a BrT preveja a possibilidade de o Credit Suisse agir por conta e ordem da Oi, dando poder ao banco para comprar a BrT no lugar de sua cliente, Azevedo garante que a empresa não vai se valer desse expediente.


De acordo com o executivo, a carta para solicitação de anuência prévia ao negócio, que poderá ser remetida à Anatel somente após sanção presidencial ao PGO, levará a assinatura de Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi, e não de representantes do Credit Suisse, que poderiam, pelo contrato, fazer a compra no lugar da Oi até a regulamentação e anuência ficarem prontas. ‘Não existe essa possibilidade (de acionar o Credit caso a anuência não saia até a data estipulada em contrato)’, destacou, dizendo que acionar a instituição seria uma providência ineficiente. ‘Queremos ser donos do nosso destino sozinhos. Fizemos o contrato e vamos até o fim.’’


 


 


INTERNET
Pedro Dantas


Google retira do ar fotos de jovens mortos do Providência


‘Parentes dos três jovens do Morro da Providência mortos em junho, após serem entregues por militares do Exército a traficantes do Morro da Mineira, ganharam na Justiça uma ação que obriga a Google Brasil a retirar do site de buscas e do Orkut as fotos das vítimas ou imagens alusivas aos crimes, sob pena de multa diária de R$ 1 mil. A empresa informou que retirou as fotos ontem.


Os familiares entraram com a ação após um e-mail apócrifo intitulado ‘as fotos dos três anjinhos mortos no Rio’ ser reproduzido por usuários anônimos no Orkut. Algumas páginas do site exibiram imagens dos corpos dos jovens mutilados. O texto cita supostas passagens criminais das vítimas.


Apesar de determinar a retirada das fotos, a juíza Sabrina Campelo Barbosa Valmont, da 30ª Vara Cível, não estendeu a decisão ao texto por entender que ‘poderia causar um retorno à censura’. O presidente do Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos, João Tancredo, que defende os parentes, disse que, em recurso, vai pedir para que a decisão seja ampliada.


No Morro da Providência, a Construtora Edil parou as obras em julho. A empresa informou não receber repasse do Ministério da Defesa. A empreiteira demitiu os 200 moradores contratados para a obra, que recuperava as casas – algumas ficaram sem telhado.’


 


 


TELEVISÃO
Taíssa Stivanin


TV veta o prato preferido de Hitler


‘A idéia pode ser considerada o cúmulo do mau gosto. Aconteceu na Bélgica, no início da semana, durante a gravação do programa culinário Prato Preferido, do canal público Canvas, cuja linha editorial consiste em preparar as receitas favoritas de celebridades. Isso seria banal se o apresentador, o chef de cozinha Jeroen Meus, não tivesse escolhido o prato preferido de Adolf Hitler. A título de curiosidade, truta ao molho de manteiga.


O programa chegou a ser gravado e seria apresentado na terça-feira, mas a direção do canal vetou a transmissão. Uma propaganda anunciando a atração, entretanto, chegou a ir ao ar. Em comunicado oficial, a TV pública VRT, que detém os direitos do canal, defende o conteúdo da atração, mas preferiu suspendê-lo por conta da polêmica. Segundo o comunicado, o programa mostra claramente ‘a aversão de Jeroen Meus por Adolf Hitler e o nazismo.’


A história repercutiu em toda a Europa. Ao jornal francês Le Monde, Meus explicou que só queria explorar a originalidade da gastronomia Bavária. ‘Tenho o direito de saber o que comia Hitler’, diz o chef. Na mesma entrevista, faz questão de dizer que Hitler era um homem atroz. O que não impediu sites neonazistas de elegerem o chef como ídolo da vez. Meus, que quanto mais fala piora a situação, respondeu que mesmo os neonazistas têm o direito de ver o programa.


As reações na Bélgica foram uníssonas. Ao site Jerusalém Post, Michael Freliich, editor da revista judia Joods Actueel, disse que teme a banalização em torno da imagem do Führer. Associações que representam presos políticos sugeriram que Meus prepare o menu dos campos de concentração. No meio de tanta polêmica, o chef só teve uma opção: levar sua truta de volta à geladeira.’


 


 


Patrícia Villalba


Lázaro Ramos canta na volta ao Pelô


‘Lázaro Ramos ri quando se lembra do lançamento do filme Ó Paí, Ó, em 2007. ‘Os críticos diziam que era o pior título de um filme brasileiro nos últimos tempos’, diverte-se. ‘Lá na Bahia, a gente já entendia! E agora todo mundo sabe o que é!’


Agora, quem ainda não sabe toda a filosofia por trás do jeitinho baiano de dizer ‘preste atenção nisso!’, há uma nova oportunidade: o filme dirigido por Monique Gardenberg virou série de TV, em seis episódios, que começam a ser exibidos hoje pela TV Globo, às 23h20. No elenco, Matheus Nachtergaele e os atores do Bando de Teatro Olodum – que criou a peça que virou filme e, agora, série.


Lázaro volta ao Bando, onde começou a carreira, ao Pelourinho, onde se passa a história, e ao personagem Roque. O divertido cantor de axé levou o ator a uma preparação de dois meses para aprimorar o canto e ao estúdio, onde ele gravou 17 músicas, dos mais variados estilos – e com invariável bom humor. Sobre a experiência e a baianidade em si, ele conversou com o Estado. ‘Coloquei em prática tudo aquilo que o carnaval da Bahia me ensinou’, provoca.


Como foi a seleção do repertório que você gravou para a série?


Gravamos 17 músicas, usamos umas 10 ou 11 nas cenas. A Monique (Gardenberg, diretora) fez um apanhado das músicas que tinham a ver com as histórias. Tudo continua na mesma batida do filme, mas com uma variedade maior de ritmos e temas. Lá no filme, basicamente, eram músicas da axé music. Aqui, o repertório é mais diversificado. Tem Odair José, Wilson Simonal, Skank…


Já dá para arriscar uma carreira de cantor?


Não sei se dá para virar cantor, não. É um registro bem-humorado dessas músicas para uma história bem-humorada.


Como foi a preparação para cantar?


Foi um trabalho para aproximar minha voz da voz do personagem. Eu sou barítono, naturalmente, e o personagem fala com uma voz superaguda. A dificuldade era achar o tom para cantar como ele cantaria.


A preparação, então, não foi para você aprender a cantar.


Na verdade, eu tinha o objetivo tanto de cantar melhor quanto de aproximar a voz ao que o personagem exigia. Quando eu atuava no Bando, a gente tinha aula de canto todos os dias. Fizemos alguns musicais também, e a voz estava sempre bem trabalhada. Desde que me mudei para o Rio, o canto ficou um pouco afastado de mim. Só retomei quando fiz o filme.


Como foi revisitar um personagem que já tinha feito?


Achei que fosse ser confortável, e o grande problema foi esse. A estrutura dos roteiros da minissérie coloca o personagem em situações que eu não tinha imaginado. Então, eu pensava sempre em como encontrar a lógica para pôr o personagem naquelas situações.


Por ser tão genuína, filmada em externas, com elenco de lá, essa minissérie pode avançar além do estereótipo que temos da Bahia?


Acho que só pela quantidade de personagens que ela tem – 16 principais – e apesar de se locar numa classe num bairro específico da cidade, só o fato desses personagens serem resultado de pesquisa, eles já fogem do estereótipo. A peça foi criada assim: cada ator escolheu uma pessoa que morava no Pelourinho naquela época, em 92, passou um tempo com elas e depois foi improvisar para criar os personagens e o espetáculo. O princípio, então, é a vida real.


Quanto tempo você ficou lá gravando desta vez?


Entre ensaio e filmagens, três meses. São uns dois longas…


Antes disso ficou muito tempo fora de Salvador?


Depois que eu deixei de morar lá, há 8 anos, foi a temporada que fiquei mais tempo.


Olha, tem bastante sotaque ainda…


Tenho… E fiquei três meses lá agora, então voltou mais forte ainda.


Falava bastante ‘ó paí, ó’?


Sempre. Eu achei muito bacana porque logo que o filme saiu, alguns críticos escreveram que era o pior título de filme dos últimos tempos, que ninguém nunca ia entender o que quer dizer. Lá na Bahia, a gente já entendia! E agora todo mundo sabe o que é!


Pelo contrário, o título chama muito a atenção.


É uma expressão muito legal, porque ela tem até uma visão metafórica com relação ao filme e à minissérie. É uma expressão reduzida que está dizendo ‘preste atenção em determinada coisa’ de uma maneira divertida. É isso que a série quer dizer. Claro que é uma série divertida, mas em todos os capítulos tem um subtexto, que eu espero que as pessoas percebam. A história apresenta num primeiro momento todos os estereótipos do baiano, para depois adentrar pela vida daquelas pessoas.’


 


 


 


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