Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Débora Carvalho

‘Falar sobre liberdade de expressão nos dias de hoje é quase estranho. Muitos acreditam que a liberdade impera na atualidade. Poucos afirmam que a liberdade de expressão é uma ilusão. Há ainda, os que defendem que a liberdade de expressão deveria liberar as manifestações pornográficas. A grande questão é: existe liberdade de expressão?

A Declaração Universal do Direito do Homem, de 1949, afirma que todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão, incluindo a liberdade de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, sem interferências e independentemente de fronteiras. Concordando com essa declaração, o artigo 5 da Constituição Brasileira assevera ser ‘livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, sob qualquer forma, processo ou veículo’.

É exatamente neste ponto que nasce a incoerência e a discrepância: a liberdade. A constituição oferece liberdade para a manifestação do pensamento, a expressão e a informação. A sociedade quebra tabus, erotiza crianças, multiplica adultérios e doenças venéreas, destrói lares e ridiculariza a moral e o pudor. Por isso, a sociedade fica dividida entre os que defendem a liberdade de expressão, e os que anseiam o retorno da censura.

Essa situação me lembra o velho provérbio: ‘Só se educa para a liberdade dando a liberdade para aprender a usá-la’. Muito usado em palestras educacionais, esse provérbio pode ser aplicado na situação da sociedade no que se refere à sabedoria para usar a liberdade para se expressar. Entre os fatores mais importantes está a falta de bom senso, a precariedade da educação formativa e a cultura barata cultivada nos lares.

As complicações com relação à moral não são apenas no âmbito da sexualidade. As difamações, os boatos, informações incompletas ou distorcidas também têm sido tema de discussão na problemática da liberdade de expressão e censura. Nesta segunda, 19, o prefeito de Caruaru, interior de Pernambuco, Tony Gel, desmentiu os boatos difundidos pela mídia de que teria se mudado para o Recife, e prometeu processar qualquer pessoa que espalhar boatos maldosos.

Pesquisando sobre o assunto para elaborar um trabalho para determinada disciplina da graduação, tive contato com sites de cunho pornográfico, cujo tema era liberdade de expressão. A visualização das fotos da capa provocaram choque, até mesmo um pouco de humor diante da ideologia dos responsáveis. Por outro lado, também encontrei muitos sites de protesto à censura, como, por exemplo, de rádios comunitárias que tiveram a aparelhagem apreendida sem aparente causa. Logo penso no conteúdo que deveria ser censurado, mas pela censura financeira, é transmitido na televisão em plena tarde de domingo.

Conforme o Ministro Adjunto da Cultura, Jorge Tolentino Araújo, em site pessoal, ‘as leis e a Justiça devem existir para servir ao povo e não para oprimi-lo. Se há uma lei que impede a criação de uma rádio de âmbito local, popular e democrática, administrada pela comunidade, é essa lei que tem de deixar de existir e não a nossa rádio’. Mas a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), agindo com a Polícia Federal, tem o poder de tirar o livre direito de comunicação ao ceder concessão para ondas de rádio apenas para grandes empresas que só visam o lucro, com conteúdos banalizados e informações incompletas. Filmes e sites impróprios são liberados. É a liberdade com censura. Liberdade para muitos, censura para poucos.

Se a profissão jornalística deve ser exercida com independência, conforme Tolentino, com livre acesso às fontes de informação e direito de proteção destas, bem como liberdade de pensamento, de movimento e respeito pela privacidade, que fazer com os chamados boatos? E quanto às rádios vetadas? E o conteúdo de mau gosto, que destrói a sociedade, mas é livremente transmitido e aplaudido pelo alto índice de ibope? Qual o verdadeiro benefício da liberdade? E quem teria capacidade para julgar o que deveria ser censurado? Somente a educação e o bom senso.

As leis regulamentadoras dos conteúdos permissíveis aos veículos de comunicação são predeterminadas pela própria sociedade. Foi assim com o antigo jornalismo sensacionalista de 1830, quando líderes religiosos chegaram a ponto de proibir os fiéis de lerem os jornais, que perdiam a credibilidade diariamente. Poderá ser assim novamente se a sociedade se der o direito de usar o controle remoto ou o dedo para censurar o que acredita ser inapropriado para sua família. Este é o caminho: liberdade para a censura doméstica.

Ninguém pode obrigar ou proibir que se tenha contato com o que está sendo veiculado na mídia. Mas a mídia é obrigada a transmitir aquilo que atrai o maior número de audiência. Por isso, a própria audiência é que precisa tomar uma atitude. A mídia apenas responde. (*) Estudante de Comunicação’

 

MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

‘Guinadas profissionais’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 28/01/01

‘Atividade crítica, febril, instigante, sempre em busca do novo, do diferenciado, do contraponto, do detalhe que faz a manchete, da informação que garante o furo, da pauta inédita, o jornalismo é uma das raras atividades que, ao seu modo, permite e, mais do que isso, estimula as chamadas guinadas profissionais. As mais variadas, diga-se de passagem. Mais, talvez, do que qualquer outra profissão. Mudamos – e muito – de especialidade, de função ou cargo, de cidade, estado ou país, de empresa, de mídia, de atividade; somos, enfim, pela natureza da profissão que abraçamos, seres mutantes. Isso para não falar das (também até certo ponto freqüentes) mudanças ‘domésticas’ – de marido ou mulher -, assunto caliente, mas que nada tem a ver com essa coluna – em que pese a explosiva audiência que certamente provocaria (além da ira de quem entrasse na roda, obviamente).

É claro que muitas vezes mudamos não por opção e sim pela falta de opção e estão aí inúmeros exemplos de colegas que foram ganhar o pão fora de seu habitat convencional por necessidade de sobrevivência. Mas mesmo esses são casos que demonstram a capacidade dos jornalistas em se adaptar a novos desafios e situações adversas. A mudança está, pois, no dna do jornalismo e dos jornalistas, como mostram quatro exemplos surpreendentes que trago para os leitores do Comunique-se, esta semana.

Um desses exemplos envolve um dos mais renomados jornalistas brasileiros que acaba de anunciar seu afastamento do jornalismo e do dia-a-dia das redações, para se dedicar a uma atividade inteiramente nova para ele, mas que tem tudo para dar certo em função exatamente da experiência de décadas que acumulou no jornalismo. Tomo a liberdade de transcrever, abaixo, o e-mail que ele mandou aos amigos: ‘Após 33 anos de atividade em redações, 21 dos quais no grupo Folha, resolvi redirecionar minha vida profissional e, por isso, estou deixando o jornal Valor Econômico para trabalhar na Patri, empresa de consultoria, onde serei diretor associado, responsável pela área de políticas públicas. Na Patri, sediado em São Paulo, vou dedicar-me especificamente à promoção do debate sobre políticas públicas no país. Pretendo dialogar com entidades de classe, sindicatos, organizações não governamentais, institutos de pesquisa, universidades, veículos de comunicação e outros formadores da opinião pública nacional. Quero agradecer a cooperação durante o tempo em que trabalhei na Folha de S. Paulo, tanto no Brasil quanto nos EUA, e especialmente nos últimos quatro anos, quando ajudei a estruturar e dirigir o Valor Econômico, empreendimento conjunto dos grupos Folha e Globo que neste curto período conseguiu obter o respeito de um vasto contingente de leitores.’

Quem assina esse e-mail é ninguém menos do que Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor-adjunto de Redação do jornal Valor Econômico, que abriu mão de um dos mais cobiçados cargos do jornalismo brasileiro e da própria história, honrada, que construiu nessa nossa sofrida atividade, para dedicar-se a uma nova missão – isso, como ele próprio disse, após 33 anos em redações. Já na segunda-feira ele troca de endereço e de camisa, e vai até certo ponto atrás de um sonho, o sonho de ajudar o Brasil a debater, com maturidade e empenho, temas relevantes e que mexem de forma vertical com o horizonte da sociedade brasileira.

Por essas coincidências da vida, na mesma semana em que Carlos Eduardo anuncia seu desligamento das redações para abraçar novo projeto, uma colega sua, também do jornalismo econômico, e também de um jornal especializado em economia (a Gazeta Mercantil), fez o mesmo, com a diferença de que permanecerá no metier jornalístico, porém numa nova função e a serviço do ainda pouco conhecido (do grande público) Icone – instituto fundado há menos de um ano. Trata-se de Maria Helena Tachinardi, editora de Internacional, que após 24 anos de Gazeta Mercantil, vividos em Brasília, Washington e São Paulo, decidiu aceitar o convite do presidente Marcos Sawaya Jank, para assumir a Diretoria de Comunicação do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), função que significará uma reviravolta em sua vida. Maria Helena está animada sobretudo pela respeitabilidade que em tão pouco tempo o Instituto – mantido por entidades empresariais ligadas ao comércio exterior e ao agronegócio, entre elas Abipecs (carne suína), Abiove (óleos vegetais), Abag (agribusiness) e Fiesp – obteve junto ao mercado, o que certamente facilitará o seu trabalho.

Sua missão será estruturar, desenvolver e operacionalizar um projeto de comunicação que dê suporte às negociações internacionais e que contribua para ampliar a integração comercial do Brasil na economia mundial. Esse projeto contempla a reorganização do site da entidade, a adaptação dos textos técnicos e acadêmicos para uma linguagem acessível ao grande público, a proposição de novos temas de pesquisa, e a realização e organização de eventos (seminários, cursos de capacitação etc) e outros projetos especiais (edição de livros, entre eles). Algo, como se nota, que vai muito além das funções jornalísticas propriamente ditas.

Ainda dentro do jornalismo e, neste caso, dentro das quatro linhas da redação, um outro colega decidiu aceitar um convite que o transfere do lúdico mundo das viagens, expedições e aventuras e também do excitante e perigoso universo do jornalismo investigativo, para sentar praça numa publicação de perfil popular, focada num universo que pouco ou nada tinha a ver com sua formação anterior. Foi por opção e dentro de uma decisão de buscar efetivamente uma mudança profissional radical, como ele próprio garantiu. O personagem é o repórter Klester Cavalcanti, que foi correspondente da Veja, na Amazônia, passando, posteriormente, por Viagem e Turismo (Abril) e, por último, pela Caminhos da Terra (Peixes). Seu novo endereço, a partir da próxima segunda-feira (2/2), é a revista Contigo, da qual será editor, a convite do diretor de Redação Edson Rossi. Um jornalista investigativo como editor da Contigo não deixa de ser curioso, ao mesmo tempo em que mostra o empenho em aprimorar e dar mais credibilidade à publicação. De certo mesmo, para Klester, é que, daqui pra frente, nada será como antes.

Um quarto exemplo, também recentíssimo e muito curioso, envolve um experiente repórter de São Paulo, que decidiu aproveitar uma oportunidade surgida no interior de Mato Grosso (isso mesmo) e para lá foi, contratado para dirigir, em Primavera do Leste, cidade com 40 mil habitantes, o jornal O Diário, que tira 3 mil exemplares e circula de segunda a sábado, contando com uma equipe de quatro profissionais – cinco se contarmos também o colega, Francisco Reis, que para lá mudou, para dirigir O Diário. Francisco especializou-se na cobertura do setor automotivo e por muitos anos atuou em publicações como Diário Popular/Diário de S.Paulo, Carga&Transportes e Transporte Moderno. Diante da grave crise e da falta de perspectivas de soluções no curto prazo, a oportunidade no Centro-Oeste brasileiro foi, para ele, uma saída de sobrevivência. E se perde em glamour e vitrine profissional, certamente ganha em qualidade de vida e paz de espírito.

Nesses quase trinta anos de atividades, aliás, já vi, na nossa área, de tudo um pouco: colegas que foram plantar laranja, criar abelhas, tocar lojas de móveis, pregar o evangelho, abrir oficina mecânica, trabalhar na praça como motorista de táxi, fazer show de humor, cantar. Alguns voltaram, outros deram certo nas novas atividades e muitos desapareceram na poeira da estrada. São as voltas que o mundo dá e as oportunidades que o mercado oferece.’

PESTANA NA GZM
Marcelo Affini

‘Flávio Pestana torna-se VP da Gazeta Mercantil’, copyright MM Online (www.mmonline.com.br), 29/01/01

‘Após quatro meses atuando como diretor-superintendente da Editora Escala, Flávio Pestana assume nesta quarta-feira, dia 4 de fevereiro, a vice-presidência do jornal de economia e negócios Gazeta Mercantil. A informação é confirmada pelo executivo.

Pestana tem o desafio de fazer o diário reconquistar seu posicionamento no mercado, desgastado após sucessivas crises envolvendo o antigo comando da publicação, sob a batuta de Luiz Fernando Levy. Ele não faz qualquer comentário sobre a antiga administração da Gazeta Mercantil e diz que quer pensar apenas no presente e no futuro. ‘Com a Gazeta fazendo parte do Grupo Editorial JB, de Nelson Tanure, a situação trabalhista atual (não relacionada a dívidas anteriores) está normalizada e o jornal tem tudo para reconquistar o mercado’, declara.

Sobre o curto período em que passou na Escala, o executivo diz que não tem do que reclamar e que gostou muito da experiência: ‘apreciei muito ter atuado nessa editora que tem um acionista (Hercílio de Lourenzi) que é uma pessoa diferenciada e muito boa para trabalhar’, comenta.

Ao falar de suas metas na nova empresa, Pestana faz questão de salientar: ‘vou consolidar o prestígio da marca Gazeta Mercantil, que é o grande jornal de economia e negócios do Brasil e nunca deixou de ser, embora tenha sido incomodado um pouco pelo Valor Econômico’. Vale lembrar que antes de ir para a Escala, Pestana era o presidente do Valor Econômico, posto que ocupou desde o lançamento do jornal, em maio de 2000, até o final de abril de 2003.’