Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Decadente como o país

Chega de admirar e respeitar o que é ruim: o NYT é tão decadente quanto o país que representa; chega também de abrir espaço na sociedade para maus brasileiros, que sobrevivem às custas de achar defeitos no Brasil e de comparar tudo aos padrões norte-americanos.

A intenção da matéria não foi atingir o presidente Lula, e sim desmoralizar o Brasil como um todo, conspirando contra o papel cada vez mais relevante que vem ocupando no cenário político mundial. Sou uruguaio, amo muito este país, mas às vezes fico envergonhado da pouca estatura moral demonstrada por alguns segmentos da sociedade quando se trata de assumir posições de risco.

Eduardo Espíndola, empresário, São Paulo



Racismo não repercute

O movimento negro brasileiro e parte da mídia ‘brasileira’ vira e mexe ‘descobrem’ casos de racismo no Brasil. Publica com estardalhaço e, após tais notícias aparecerem na mídia estrangeira, somem nas entranhas dos nossos jornais. Isso é que é ruim para o Brasil, e não a reportagem que tanta celeuma vem causando.

Jorge Nassrallah, professor, Batatais, SP



Segundo dizem…

Já é do conhecimento de quem freqüenta as rodas do PT que o presidente gosta mesmo de goles e de um tempo pra cá – em que a imagem do país dá voltas em montanha russa – ele anda exagerando um pouco, segundo dizem. Foi isso que Rohter constatou. Material que sairia muito bem numa coluna de humor à la José Simão. No primeiro caderno do NYT, vindo de um correspondente importante do diário nova-iorquino em forma de extensa reportagem foi algo estranho. Logo num momento em que o país vinha sendo louvado pelos mais díspares editoriais americanos por sua vitória na luta contra os subsídios do algodão surge uma brincadeira dessa com ares de seriedade. Não importa, afinal o que todos concordaram foi que a matéria era ‘leviana, irresponsável, malfeita’, enfim, de uma mediocridade longe de abalar a soberania nacional, a imagem do chefe de Estado brasileiro.

O assunto não repercutiu na mídia americana. Por aqui, todos os jornais condenaram a reportagem. Governo e oposição se manifestaram em declarações corretas. Tudo muito esperado e a favor do governo, não fosse o exagero e a dimensão que a coisa tomou a ponto de o presidente, logo no encontro com jornalistas, anunciar que expulsará o correspondente do país. Ora, não poderia haver erro maior de um governo de esquerda democrático, todos concordam. ‘Atentado a liberdade de imprensa!’ , já começaram a protestar…

Do outro lado, Genoino finge que justifica, sem explicar como: ‘Não foi um ato contra a liberdade de imprensa, foi um ato de respeito a ela’. Ricardo Kotscho, jornalista responsável pela comunicação do governo com a imprensa, tenta se desculpar dizendo que uma medida jurídica tinha que dar o troco. Não bastaria processar (e ganhar facilmente a ação) o jornalista por difamação? No fundo, no fundo todos do governo sabem que o presidente fez uma tremenda besteira. A explicação mais crível para a burrada é o que ninguém tem coragem de dizer: o presidente, ao expulsar o jornalista, devia estar mesmo é bêbado. Agora que se agüente a ressaca…

Renan Ramalho, estudante de Jornalismo da UFMG



Cony confirma…

Que o nosso Exmo. presidente é apreciador de uma boa cana ninguém conseguiu negar; o que me admira em figuras como o nosso Alberto Dines é como insistem em passar a mão na cabeça do nosso digníssimo presidente. O colunista da CBN Carlos Heitor Cony confirma que o Exmo. bebe e muito, incluindo alguns destemperos. Precisamos de uma conduta menos tendenciosa politicamente, o cara bebe em publico, representa o nosso país, um modelo para os nossos filhos, e tem tomado ou deixado de tomar decisões que afetam 170 milhões. Quem deve cobrar uma postura de um presidente além das urnas? A imprensa, talvez.

Luiz Okuzono, analista de sistemas, São Paulo



Que brasileiros…

Não é o presidente, não é a imprensa estrangeira, somos nós! Felizmente o Sr. Dines manteve a classe de sempre, o bom nível de linguagem e a inteligência das observações. Estando tão preocupada com a situação da Amazônia e com a histórica falta de fiscalização de nossas fronteiras, abertas a todo tipo de pirataria, interna e externa (24 mil km de desmatamento anual ou 750 mil m² de florestas arrasadas, expansão criminosa da fronteira agrícola etc.), de repente me vejo rodeada por uma rede de intrigas e fofocas, de comadres, de clientes de salão de beleza, de manicures e pedicures… sobre a questão metafísica do nariz vermelho do presidente, suas canecas de cerveja…

Esta também é uma forma de pirataria: a dos ‘formadores de opinião’. E o Lula resolveu ser alcoólatra agora? Alguém com seu passado de luta e de vitórias poderia chegar aonde chegou se fosse um bêbado? É fácil, o nosso incurável colonialismo transforma qualquer chanchada, desde que estrangeira, em obra de arte. É só olhar a festa do Oscar entre os brasileiros. Babam como se tivessem alguma coisa a ver. Basta lembrar o caso do ‘visto’ dos americanos, recentemente. Teve até escola de samba e mulata peladinha para agradá-los, no aeroporto. As gordas velhotas morrendo de rir.

E a Assembléia Legislativa fluminense, em protesto oficial pelo ato do presidente Lula, que obrigou os americanos ao ‘constrangimento’ de ‘sujar os dedinhos’, na expressão de um policial irritado com a cobertura da mídia. Só então, os americanos no seu Congresso, em solidariedade ao protesto dos hermanos brasileños, também protestaram, aliás timidamente, só para não ficarem de fora.

Agora, não por acaso, o virtuosista A. Jabor, que sabe bem tirar proveito de tudo, deu mais uma trancada no presidente, lembrando que certamente Lula ficara irritado porque se lembrara do próprio pai alcoólatra! Assim, quem sabe, vai entrar a família toda, claro, em nome da ‘liberdade de imprensa’. Estranho, nenhum partido de oposição mostrou, na campanha, as fotos de um Lula ébrio, pornográfico, em algum boteco paulista! Só agora? E caímos como patinhos!

Quando teremos vergonha de nossa falta de vergonha, auto-estima e amor-próprio?! Esperava eu um protesto oficial, em nome da imprensa séria, da ABI. Ou a ABI, de um Barbosa Lima, está morta e enterrada? Também me assusta o silêncio dos intelectuais e da própria OAB. Um brasileiro qualquer teria processado o jornalista por injúria e difamação, o presidente não pode?

Jacirema Tahim, professora, Natal