O Almanaque Brasil, lançado em abril de 1999, está completando dez anos. Neste período, teve em média 1,2 milhão de leitores por ano. Ele não está nas bancas. Só pode ser lido por assinatura ou nos aviões da TAM. Seu diretor editorial, Elifas Andreato, anuncia várias novidades no número inaugural do ano onze da publicação.
A leitura de um almanaque é deliciosa. O gênero está consolidado no gosto popular e não há um único almanaque encalhado. Ao contrário, os desaparecidos são buscados com sofreguidão na internet e nos sebos.
Assim, nem o tropeço que levou a erro de concordância na celebração das boas notícias tira o sabor da leitura deste número que marca a efeméride. Vacilaram diante da principal novidade da língua portuguesa no decênio, o Acordo Ortográfico: ‘vem (sic) aí muitas outras histórias de almanaque’.
Por lei, todos temos que tirar o chapéu para a reforma da Língua Portuguesa, mas não o chapéu das palavras em que o acento circunflexo foi mantido. E este é o caso da formas plurais de ‘tem’ e ‘vem’. Elifas Andreato e sua equipe têm desde já o perdão deste escritor e professor. Vêm para cima deles e de mim as novas alterações da escrita e – oh, dor! – esta não é a primeira vez. Antes de Lula, o governo Médici, na longínqua década de 70, também mexeu na grafia das palavras. O cronista, à semelhança deles, vê-se obrigado a reaprender pela segunda vez a nova ortografia da língua portuguesa, agora repleta de armadilhas como esta.
O Almanach Perpetuum
O errinho não embota a beleza de mais este número, mas erro é erro e probleminhas como este já excluíram vestibulandos e candidatos a importantes cargos e ofícios. Menos na esfera política, é claro, pois candidatos e eleitos estão dispensados de falar e escrever direito.
Não divaguemos, porém, e nem tripudiemos, pois todos têm e terão culpa no cartório por mais algum tempo, sem que se possa mais atribuir tudo ao revisor, agora afastado de quase todas as redações. Tão importante era sua função que o bem-humorado escritor e jornalista Otto Lara Rezende dizia ser contra a pena de morte, menos para os revisores.
A palavra ‘almanaque’ veio do árabe almanakh, designando primitivamente o lugar onde os nômades mandam ajoelhar os camelos. Enquanto homens e animais descansavam, os primeiros trocavam notícias e informações sobre o tempo, os caminhos, as safras, feitos de personagens famosos ou apenas curiosidades.
Os almanaques mantiveram a forma daquelas antigas narrativas, como se pode constatar no Almanach Perdurável, do século 14, e no Almanach Perpetuum, organizado em Leiria, Portugal, pelo astrônomo e historiador judeu Abraham Ben Samuel Zacuto. Sua obra foi consultada por célebres navegadores, entre os quais Cristóvão Colombo e Vasco da Gama.
Excelente escolha
Há muitas delícias neste número do Almanaque Brasil que está nos aviões ou com privilegiados assinantes. E uma das mais saborosas é justamente a matéria de capa, sobre Pelé, que faz uma profecia: os EUA vão ganhar a Copa de 2010. Eles ou uma seleção africana.
Pelé não é bom profeta, mas ninguém pode negar que fala de um assunto em que é mais do que doutor. E o maior jogador do mundo em todos os tempos é excelente escolha para um almanaque chamado justamente Brasil.
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Escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá, onde é coordenador de Letras e de teleaulas de Língua Portuguesa; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e A Língua Nossa de Cada Dia (ambos da Editora Novo Século)