Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Divórcio conturbado ajuda a vender jornais

Se depender da torcida da mídia italiana, a crise conjugal enfrentada pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi pode demorar bastante a ser resolvida. Isto porque a roupa suja lavada em público pelo premiê e sua mulher, Veronica, tem contribuído para ajudar a imprensa a se recuperar do declínio nas tiragens e anúncios. Após Berlusconi ter aparecido no programa mais popular da TV italiana no dia 5/5, o Porta a Porta, que obteve recorde de audiência, as vendas dos tablóides cresceram bastante. ‘Não é apenas o divórcio do século; as armas usadas na briga são novas. Jornais e programas de TV são agora granadas potentes’, dispara Antonio Noto, diretor da empresa de pesquisa IPR Marketing.

Berlusconi, de 72 anos, tem uma grande vantagem na disputa. Sua fortuna de US$ 6,5 bilhões vem em parte do grupo televisivo Mediaset. Como primeiro-ministro, ele também tem grande influência na TV estatal RAI. Com isso, 90% das notícias de TV estão sob seu controle. Ele é, ainda, proprietário de 50% da Mondadori Editore, editora da revista Panorama, e o jornal Il Giornali pertence a seu irmão, Paolo.

Casamento em baixa, audiência em alta

A novela do divórcio já rendeu recordes de audiência. A edição online do Corriere della Sera, por exemplo, registrou 1,4 milhão de visitantes únicos, segundo a Nielsen Media Research, no dia em que Berlusconi contou ao diário que seu casamento havia acabado – talvez o recorde de toda a história do sítio do jornal. O Corriere é de propriedade do Media Group, cujos principais acionistas são o grupo de investimento Mediobanca e a família Agnelli, que controla a Fiat.

Desde que Veronica falou mal do marido, no mês passado, as ações da Mediaset subiram 7%. O Gruppo Editoriale L’Espresso, publisher do jornal La Repubblica, teve aumento de 6% nas ações – e é acusado por Berlusconi de liderar a conspiração para colocar sua esposa contra ele. ‘A mídia está em uma situação ruim por conta da crise e este escândalo certamente não é nada mau para ela’, comenta Jack Neele, gerente de fundos da Robeco NV, que administra o equivalente a US$ 147 bilhões e não tem ações na mídia italiana. ‘Isto gera atenção da mídia e, se mais jornais são vendidos e a tiragem aumenta, pode ter conseqüências nos lucros publicitários’.

Farpas em público

O auge da baixaria se deu no dia 22/4, quando Veronica acusou o partido de Berlusconi de nomear jovens sem experiência, incluindo uma aspirante à Miss Itália, para candidatas às eleições parlamentares européias de junho. Dias depois, ela brigou com o marido por ter ido à festa de aniversário de uma jovem chamada Noemi Letizia, de 18 anos. ‘O que poderia pensar? Fiquei surpresa. Ele nunca foi a nenhuma festa de 18 anos de seus filhos, mesmo tendo sido convidado’, desabafou. A jovem aproveitou para contar ao jornal Corriere Del Mezzogiorno que ganhou um cordão de presente de Berlusconi e que o chama de ‘papai’. Ao ser questionado no Porta a Porta se dormiu com ela, o premiê disse que tudo não passava de uma mentira. ‘Minha esposa caiu em uma armadilha preparada por jornais de esquerda’.

Veronica contou que queria se separar do marido por meio de outro veículo de comunicação. ‘Fui forçada a tomar esta medida’, disse ao La Stampa, de propriedade da família Agnelli, no dia 3/5. Foi no mesmo jornal que Berlusconi confirmou a separação e exigiu que sua esposa pedisse desculpas por ter afirmado que ele saía com menores de idade.

Para Berlusconi, uma polêmica na mídia em torno de seu casamento pode desviar a atenção de outros problemas, em um período em que o desemprego está crescendo e a economia está afundando em sua pior recessão pós-Segunda Guerra. O índice de aprovação do polêmico político está em torno de 60%, em parte por conta de como lidou com o terremoto na cidade de L’Aquila. ‘A opinião pública italiana não é tão influenciada como a americana por questões pessoais. Ainda assim, uma constante discussão sobre o apetite sexual do primeiro-ministro e os comentários de sua esposa não são bons’, afirma Franco Pavoncello, professor de política da Universidade John Cabot, em Roma. Informações de Flavia Krause-Jackson e Flavia Rotondi [Bloomberg, 8/5/09].