Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Dois dicionários fundamentais

Em um momento no qual o alunado de Comunicação chega aos bancos escolares com níveis baixíssimos de cultura geral – para horror dos professores –, dois livros bastante didáticos começam a chegar às mãos de graduandos e graduados na área pelo Brasil. E, nos dois casos, a expressão ‘bastante didáticos’ não tem nada de pejorativo, mas bem ao contrário – as duas obras tendem a se tornar referência em seus respectivos campos.

Noções básicas de Folkcomunicação – Uma introdução aos principais termos, conceitos e expressões sai pela Editora UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), organizado por Sérgio Gadini e Karina Woitowicz, dois expoentes nacionais contemporâneos dessa corrente do pensamento que Luiz Beltrão tornou palpável a partir da década de 1960. Glossário de Relações Públicas também sai por uma instituição pública, a Faculdade de Comunicação Social (Facos) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, com organização de Caroline Colpo e Patrícia Pichler.

Prestígio profissional

Os dois livros não são pioneiros em suas áreas mas carregam uma similaridade salutar, muito salutar, diria – a simplicidade no discurso. Paulo Francis, jornalista polêmico ao extremo, dizia que, em jornalismo, mais era menos, ou seja, quanto mais rebuscada fosse a narrativa, menos seria a audiência da mesma. Em Noções…, a certa altura Denis Renó trata dos agentes folkcomunicacionais, indo dos grupos indígenas aos cordelistas com uma facilidade impressionante, passando pelos pobres suburbanos. Logo adiante, Karina Woitowicz discorre com propriedade sobre os grupos marginalizados, recorrendo ao conceito da ONU e às leituras que se faziam nos anos 60 sobre as favelas do Rio de Janeiro, dentre outros caminhos. E esses são somente dois bons exemplos de uma obra que reúne mais de 20 autores e para além de 30 verbetes.

De sua parte, Glossário… segue caminho similar. Ao longo de mais de 50 verbetes, alunos do curso de Relações Públicas da UFSM apresentam desde o palpável termo ‘clipping’, à página 27, até o etéreo ‘lobby’, na página 67. ‘Os jargões profissionais gozam de relativa autonomia com relação à língua comum. O seu uso constante permite que se atribua prestígio profissional, incrementa o respeito dos demais ao mesmo tempo em que permite ao grupo profissional compreender suas atividades’, pondera a professora Ivete Fossá, da UFSM, em texto introdutório à obra.

Menos espanto com aprendizes

Há de se ressaltar que as informações dispostas acima são apenas algumas das muitas meritórias que poderiam ser ditas sobre as duas publicações. Não é de hoje que o grupo de docentes da UEPG especializados em folkcomunicação desfila suas credenciais no tema em diversos modos pelo Brasil e América Latina. Eis aí, pode-se arriscar, uma turma de professores paradigmática na área, da mesma maneira que o é a Facos, referência igualmente latina em ensino de Comunicação e com mais de três décadas de atuação.

Espera-se que, com o tempo e a difusão de seus preceitos, ambos os livros possam se tornar referenciais em seus campos nas salas de aula das graduações e pós, contribuindo para o incremento do nível da chamada cultura geral do estudantado, o que levaria docentes, especialmente os de séries iniciais (primeiro e segundo anos), a se espantarem um pouco menos com os aprendizes que sentam costumeiramente à sua frente toda semana.

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Jornalista e professor universitário