Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Grupo Pearson investe em literatura

O grupo britânico Pearson consolidou ainda mais a presença no mercado brasileiro. Ontem, sua editora Penguin anunciou a aquisição de 45% do capital da Companhia das Letras – uma das editoras mais renomadas do país. Em meados do ano passado, a Pearson entrou com força no mercado educacional brasileiro ao comprar os sistemas de ensino (apostilas) do COC, Pueri Domus e Dom Bosco por quase R$ 900 milhões. Com isso, o grupo britânico fortaleceu sua atuação em duas das três áreas em que atua (ensino, literatura e mídia) no mundo.

Com a negociação, cujo valor não foi revelado, os outros 55% da Companhia das Letras pertencerão a uma holding a ser criada em breve, sendo que dois terços do capital ficarão em poder de Luiz Schwartcz e sua esposa, Lilia Moritz Schwarcz. O outro um terço fica com Fernando, filho do fundador do Unibanco, Walter Moreira Salles. Antes da transação com a Penguin, Schwarcz detinha cerca de 60% da editora, Salles era dono de uma participação de 29% e os editores Elisa Braga, Maria Emília Bender e Sergio Windholz detinham juntos 11% da Companhia das Letras. Os três minoritários deixam a sociedade, mas continuam trabalhando na editora.

Ao mesmo tempo, a operação proporcionará à Companhia das Letras entrar nos segmentos de educação e de publicações digitais, braço de negócio já bem avançado no grupo britânico. No primeiro semestre deste ano, a plataforma de educação e de serviços digitais da Pearson cresceu 15% e a Penguin registrou aproximadamente 130% de aumento nas vendas de e-books, que representam 14% do faturamento global da companhia.

“Nossa relação com outras editoras não muda”

“Essa associação abre inúmeras portas para nós. A Penguin é a editora literária mais tradicional e a que tem a administração mais moderna. Além disso, poderemos dar grandes passos no mercado digital”, disse o editor Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras, lembrando que as conversas começaram no ano passado durante a Flip, a feira literária de Paraty. “É a primeira vez que fazemos um investimento tão forte em uma empresa. É nossa primeira aquisição de uma editora de língua portuguesa em 75 anos de atividades. Acreditamos que existe um grande potencial no Brasil, Índia e China”, complementou John Makinson, CEO da Penguin.

Outra novidade é a criação de um selo batizado como Boa Companhia para atuar nos segmentos de ensino e digital e terá publicações mais baratas. “Podemos criar livros e cursos específicos para escolas e colocar nossas publicações de ciências humanas em conteúdo digital”, disse Schwarcz. “Há uma sinergia interessante. Temos contato com 6 mil escolas particulares e 50 mil professores do ensino superior”, lembra Guy Gerlach, presidente da Pearson Brasil.

A ideia é incluir os títulos da Companhia das Letras na Biblioteca Virtual Universitária, iniciativa da Pearson que já conta com mais de 2 mil títulos digitalizados de 12 editoras como Martins Fontes, Artmed, Ática, Scipione, entre outras.

A associação com a Penguin abrirá caminhos para que a editora brasileira publique mais os escritores brasileiros em outros países. “Pretendemos aumentar nossas publicações lá fora. Mas não existe uma obrigatoriedade de a Penguin publicar nossos títulos”, explicou Schwarcz. “A nossa relação com as outras editoras brasileiras também não muda por conta da associação com a Companhia das Letras”, explicou Makinson.

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[Beth Koike, do Valor Econômico]