Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Inovação vira sinônimo de conveniência

O mundo da tecnologia da informação é repleto de siglas misteriosas – muitas delas acrônimos de expressões em inglês, igualmente obscuras – o que costuma manter à distância qualquer um que não trabalhe diretamente na área. Quem, afinal, quer se chatear com coisas como ERP, BI ou CRM?

É bom se preparar porque em 2012 essa sopa indigesta vai ganhar novos elementos. Termos como HTML 5 – um padrão que facilita o acesso a aplicativos por meio de dispositivos móveis – podem não virar assunto para a conversa de bar, mas você vai ouvir falar cada vez mais sobre eles.

Da lista das 10 tecnologias que prometem dominar o cenário este ano, metade delas é identificada por siglas: além do HTML 5, estão na relação NFC, Wi-Fi, 4G e NUI.

“Em 2012, não haverá uma grande novidade, mas a concretização de uma série de tendências já vistas”, diz Fernando Belfort, analista sênior da consultoria Frost & Sullivan. “O que vamos ver são grandes casos de implementação dessas tecnologias.”

Filmes e séries

A boa notícia é que, a despeito do susto inicial que as siglas provocam, a maioria das inovações tem por objetivo tornar mais fácil a vida do usuário, em casa ou no escritório. A regra seguida por programadores e engenheiros de sistema é a da conveniência a qualquer custo: fazer com que o consumidor tenha tudo à mão – e, em alguns casos, até sem a ajuda dela.

Não entendeu? É isso o que propõe a NUI, sigla para Natural User Interface. A ideia é permitir que, ao lado do teclado e das telas sensíveis ao toque, o usuário possa controlar seus dispositivos com a voz, ou com movimentos do corpo, como ocorre no Kinect, um sensor do console Xbox.

Os comandos de voz, em particular, são um sonho antigo. Anos atrás, a IBM chegou a lançar um produto comercial com esse fim. Não deu certo. O assunto parecia esquecido até que, no ano passado, a Apple anunciou o sistema Siri como uma das principais inovações de seu novo iPhone 4S. O sistema chegou ao Brasil com o lançamento do aparelho no país, em meados de dezembro, mas em inglês.

Melhor fez o Google. Discretamente, a companhia lançou para o iPad um aplicativo de busca na web, acionado por voz, no qual o usuário pode configurar o idioma preferido. Português é uma das opções e o sistema funciona bem, se não houver ruídos de voz ao redor, como o barulho da TV.

E que tal usar o celular para pagar o metrô, sem usar bilhete? É o que a MTA, órgão que administra os transportes em Nova York, pretende começar a testar, depois que fechou um acordo com a fabricante finlandesa de celulares Nokia. Por trás do serviço está o padrão NFC (sigla em inglês para comunicação de curto alcance). Basta aproximar o telefone da catraca para ter o acesso liberado – se você tiver créditos, claro. Não se trata de uma iniciativa isolada. Companhias como Samsung e HTC também já anunciaram que vão investir no padrão.

Como se vê, a ideia é tornar a vida mais leve – e essa não é uma figura de expressão. Quem já precisou andar de um lado para o outro com um notebook pesado a tiracolo sabe como isso é difícil. Os netbooks foram uma tentativa de reduzir o peso dos equipamentos. O problema é que reduziram também a capacidade de processamento. O resultado, a despeito do sucesso inicial, é que os netbooks estão na rota do esquecimento.

A indústria, agora, aposta nos ultrabooks – computadores muito finos e leves, mas com a maioria dos recursos de um notebook normal.

Essa nova categoria de equipamentos pode ganhar força adicional com uma das estreias mais aguardadas do setor: o Windows 8. A Microsoft ficou atrás na guerra dos dispositivos móveis, como tablets e celulares. Com o novo sistema, espera ingressar definitivamente nessa guerra. Uma versão de teste é esperada para fevereiro, com o lançamento oficial no fim do semestre.

Com uma aparência que lembra tijolos digitais, em vez das tradicionais janelas, a expectativa é que o Windows 8 seja muito intuitivo – leia-se fácil de usar -, com a vantagem de funcionar tanto nos computadores tradicionais como nos dispositivos móveis. A diretriz na indústria de tecnologia é unificar.

Isso vale para a sala de estar. Até agora, quem queria ver filmes comprava um aparelho de DVD, fãs de novelas ou futebol sentavam-se à frente da TV e internautas preferiam o computador. As smart TVs, outra tendência de 2012, combinam isso tudo. O espectador vê a programação normal, mas também consegue acessar vídeos no YouTube e comprar filmes e séries disponíveis em serviços como o da brasileira Netmovies ou da americana Netflix, que chegou ao Brasil em 2011.

Falta de conteúdo

A computação em nuvem dá o tom das transformações. O modelo, que prevê o acesso a dados, softwares e conteúdo via internet, sem que nada disso esteja no dispositivo do usuário, já é um ponto central na estratégia das companhias, mas também vem mudando a vida do consumidor, que passou a usar a nuvem para armazenar fotos, vídeos e documentos pessoais.

A explosão do volume de dados na internet, porém, vai exigir o reforço das empresas na adoção de tecnologias de comunicação. Duas delas merecem atenção especial: o Wi-Fi e a 4G, que também estão na lista de 2012. “A mobilidade e o uso de software e serviços na nuvem exigirá investimento na infraestrutura de conexão”, afirma Belfort, da Frost & Sullivan.

Antecipar tendências em um setor dinâmico é sempre arriscado. Mas das dez tecnologias indicadas pelo Valorno ano passado, nove foram bem-sucedidas: tablets, aplicativos, banda larga, serviços on-line, acesso ao conteúdo de TV por vários meios, redes sociais, smartphones, mapas digitais e clubes de compra. Algumas delas retornam à lista deste ano, caso dos aplicativos, ou servem de base a tópicos como smart TVs e a nuvem.

A exceção que não se cumpriu foi o 3D. Depois de fazer sucesso no cinema, com Avatar, a tecnologia espalhou-se por notebooks e televisores. Novos produtos do tipo continuam chegando às prateleiras, mas a falta de conteúdo específico e a necessidade de usar os óculos especiais parecem manter o consumidor afastado. Afinal, quantas pessoas você conhece que usam 3D em casa?

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[Cibelle Bouças, João Luiz Rosa e Moacir Drska são do Valor Econômico]