Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Londres, ampulhetas e vuvuzelas

É só ligar a televisão, abrir o jornal ou sintonizar as notícias internacionais no rádio ou na internet. A cobertura midiática dedicada às Olimpíadas de Londres tende a ser intensificada à medida que o evento se aproxima. Em meio a uma conturbada crise econômica que atinge os países europeus, o ano começa com uma grande expectativa em torno de Londres. Além de investimentos na infraestrutura, a cidade aguarda um impulso turístico e econômico proveniente dos Jogos.

A relação entre esporte e cidade é histórica e remonta aos tempos da Grécia Antiga e da polis. Através das competições, os atletas eram os defensores da polis. O cotidiano da cidade, midiatizado, interessa aos meios de comunicação. Por sua vez, o esporte em suas diferentes modalidades tem o poder de alterar essa rotina: muda as rotas do trânsito e o cidadão passa a viver em uma cidade em transformação, um canteiro de obras à espera dos turistas, dos atletas e da imprensa internacional. No caso da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas, além dessa transformação física e espacial (que deixará legados discutíveis para o cidadão), a cidade que recebe o evento passa por uma transformação simbólica. O legado de imagem é um dos principais “poderes” dos megaeventos e está em sua possibilidade de transformar a imagem da cidade (e do país) através dos meios de comunicação. Uma imagem diferente para os turistas que visitam o país e para o mundo que enxerga a realização dos Jogos a partir das notícias internacionais.

Em entrevista em 9/1, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou que espera que as Olimpíadas de Londres deixem um longo legado econômico e social para o país. Na última Copa, realizada em 2010 na África do Sul, a mudança de imagem foi considerada a grande conquista. Em entrevista coletiva noticiada pela Agência Reuters no dia 10 de julho de 2010, o presidente-executivo da Copa, Danny Jordan, disse que “o Mundial teve um papel-chave na mudança de imagem do país e na construção de unidade entre os sul-africanos”.

Calendários e contagens regressivas

Há diferentes legados na perspectiva dos megaeventos esportivos. Nas Olimpíadas, observa-se que existe o legado positivo para o cidadão, para a cidade e para o COI. Enquanto os organizadores podem estar recebendo algum benefício imediato proveniente da venda de direitos de cobertura da mídia, a cidade vai procurar enaltecer sua imagem como uma metrópole adiantada, uma cidade global e um centro internacional para comércio e negócios. Esses são alguns dos fatores que possivelmente atraem um número cada vez maior de cidades candidatas a sediar megaeventos globais. Em 1992, a competição para sediar os Jogos envolveu mais de 20 cidades; aumentou para 40 em 2004 e, em 2008, passou de 50 cidades na disputa (DACOSTA, 2008).

A mídia participa de definições como o calendário esportivo e o horário de transmissão de competições. O aumento nos gastos com direitos de transmissão exclusivos ilustra a importância desta etapa de negociação entre as organizações midiáticas. Os aspectos ligados à comunicação (direitos de televisão, publicidade, licença de patrocínio) estão se tornando cada vez mais fontes de financiamento do esporte. Ao acionar seus mecanismos de visibilidade midiática, os meios de comunicação poderão destacar megaeventos como Copa e Olimpíadas. No entanto, não é só a atração editorial do esporte que permitirá a visibilidade desses eventos: sua atração mercadológica será fundamental. Basta lembrar e comparar as coberturas jornalísticas da TV Globo e da TV Record durante o Pan Americano de Guadalajara no México, em 2011.

Os mil dias para a Copa do Mundo foram celebrados no ano passado no Brasil. A festa decorada com relógios que contam os dias e as horas restantes para o Mundial torna urgente que obras e projetos de modernos estádios de futebol fiquem prontos. No entanto, o tom verde (e amarelo) da esperança coloriu a cobertura midiática aqui no Brasil. O ano de 2012 começa com expectativa para a cidade de Londres. A contagem regressiva já está na mídia, que esta semana conta menos de 200 dias para um dos principais espetáculos da Terra. A partir de 27 de julho, a contagem para Londres será zerada. Depois disso, o Brasil entra na reta final de um período histórico de visibilidade midiática. O assunto será a Copa do Mundo e as Olimpíadas em território brasileiro, um tema que inclui aquilo que é considerado mais sério e urgente (as obras urbanas, a violência e o transporte), passando por temáticas mais amenas e não menos barulhentas. Ao fim dos Jogos da África, matéria do portal Terra já tratava da polêmica vuvuzela e sua possível proibição nos estádios ingleses. Cabe lembrar que, ao falar desse objeto da torcida africana, o jornal The New York Times conta em reportagem que nos últimos 15 anos a vuvuzela tornou-se para o futebol na África do Sul o que a bateria de samba é para o Brasil.

Os calendários e as contagens regressivas para 2014 e 2016 sempre estarão ali. Ao final dos Jogos Olímpicos de Londres, mesmo exaustos com tantas imagens de atletas, medalhas e nacionalismos exacerbados nos meios de comunicação, a mídia certamente não dará descanso aos brasileiros.

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[Andressa Pesce é jornalista e mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Informação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS]