Autor de Fina Estampa, que criou o caricato personagem Crô, Aguinaldo Silva já esteve na vanguarda da militância gay no país.
O escritor – que é homossexual, contrário ao beijo gay em novela – ajudou a fundar o Lampião da Esquina, o primeiro jornal engajado editado por ele entre 1978 e 1981.
Foi alvo de ataques de grupos paramilitares e esteve na lista de publicações a serem banidas. Seus diretores foram acusados de “atentado ao pudor” pelo Ministério da Justiça e responderam a um inquérito policial, arquivado.
Em 1979, O Lampião entrevistou Luiz Inácio Lula da Silva, então dirigente sindicalista, para uma matéria sobre machismo na esquerda.
Na reportagem, o ex-presidente disse “que homossexualismo na classe operária era coisa que ele não conhecia”.
Os bastidores da atuação de Aguinaldo Silva no movimento gay é resultado de pesquisa de Flávia Pèret, autora de Imprensa Gay no Brasil.
O livro, lançado pela Publifolha, é o primeiro da série “Folha Memória”, um projeto da Folha que seleciona, por meio de um concurso anual, três propostas de pesquisa sobre a história do jornalismo brasileiro.
Os escolhidos têm seis meses para finalizar a pesquisa -paga com patrocínio da Pfizer- e escrever um livro. O melhor é publicado.
Segundo Pèret, o Lampião acabou por um racha entre Silva e o escritor João Silvério Trevisan, outro fundador. No ano seguinte, ele foi contratado pela Globo.
“Não posso dizer que faço isso [criar personagens gays] por ativismo, mas, se a gente analisar bem, vai perceber que não deixa de ser uma forma de militância”, diz.
Viraram purpurina
O livro mostra que, em quase cinco décadas, a história dos veículos gays se repete: sucumbem diante das dificuldades financeiras, geradas principalmente pela escassez de anúncios. “Foi assim com o Lampião e, em parte, com a Sui Generis [revista]”, diz.
A G Magazine, primeira a exibir ensaios fotográficos de famosos em nu frontal, é outro exemplo.
Ela surgiu em 1997, se sustentou por alguns anos, mas, no final, acabou lançando revistas pornográficas para gerar receitas. Em 2008, foi vendida a um grupo estrangeiro.
Recentemente, parte das publicações migrou para a internet e ganhou vida nova.
Mas, ainda segundo Pèret, a proposta editorial mudou. Em vez do ativismo político, os títulos focam na “militância de mercado”: o que os gays consomem, como se comportam e seus ícones.