Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O ministro e os transgênicos

Os jornais de sexta-feira (20/1) deram destaque à indicação de Marco Antonio Raupp para o Ministério da Ciência e Tecnologia, em lugar de Aloizio Mercadante, que assume o Ministério da Educação. 

Pois bem, a ONG AS_PTA nos lembra que Raupp é um entusiasta defensor dos alimentos transgênicos, os mesmos que, neste momento, motivam a retirada da Basf do mercado europeu e seu reposicionamento estratégico no Brasil neste campo, por absoluta rejeição dos consumidores de lá. 

Tudo indica que a presidente Dilma Rousseff optou por privilegiar nomes técnicos ao invés de políticos para a pasta. Nesse sentido, segue orientação costumeira de Lula para questões de ciência e tecnologia, especialmente aquelas envolvendo as polêmicas sobre alimentos transgênicos no país, em 2003.

No Brasil, a controvérsia sobre transgênicos ganhou novo fôlego na mídia – após os debates que alcançaram seu auge no país nos anos de 1999 e 2000 – com a discussão sobre a eventual liberação do plantio de soja transgênica no Rio Grande do Sul. No dia 25 de junho de 2003, em meio ao furor nacional diante da eventual liberação, o presidente Lula buscou acalmar a opinião pública com a afirmação de que o governo tomaria uma “decisão política”, amparada por “critérios científicos”, sobre a produção de alimentos transgênicos. 

Milho proibido

Abaixo, reproduzimos texto sobre a predileção do novo ministro pelos transgênicos, divulgado hoje no boletim noticioso da AS-PTA. Aqui só faz divulgar informações de amplo conhecimento da opinião pública a este respeito, deliberadamente veiculadas pelo seu autor (o futuro ministro). 

A informação foi divulgada na sexta-feira (20) pelo jornal O Globo. Preferindo nomes “técnicos” a quadros políticos dos partidos, a presidente anunciou que pretende nomear Marco Antonio Raupp para o lugar de Mercadante, que deixará o Ministério de Ciência e Tecnologia para assumir a pasta da Educação. Logo que assumiu a presidência da SBPC, em 2008, o matemático Raupp publicou artigo no Estado de S.Paulo apelando para os ministros aprovarem a liberação comercial do milho transgênico. Na ocasião, o Conselho Nacional de Biossegurança, sob presidência de Dilma, estava para deliberar a respeito dos recursos do Ibama e da Anvisa que alegavam a ausência de dados suficientes e de estudos confiáveis sobre a segurança do produto. Deu no que deu.

Para Raupp, “parte da cultura contra os transgênicos tem raízes obscurantistas e está causando muitos danos à ciência e à economia brasileiras, bem como ao meio ambiente, pelo uso indiscriminado de defensivos agrícolas”.

A íntegra do artigo onde Raupp faz sua aposta nos transgênicos em 2008 pode ser encontrada aqui. Em tempo, o milho transgênico defendido pelo ministro em 2008, é o mesmo que segue proibido na França, desde aquele mesmo ano.

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[Cláudio Cordovil é jornalista, mestre e doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ), pós-doutorado em Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Fiocruz)]