Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Queridinho dos ativistas, Twitter cede à censura

O Twitter, o serviço de microblog que cumpre com gosto seu papel de ser usado como instrumento de organização por ativistas políticos, curvou-se à realidade do mundo dos negócios com uma nova postura diante da censura.

A decepção com relação ao senso de realismo político do Twitter se disseminou amplamente pela internet no sábado. O artista dissidente chinês Ai Weiwei empregou o próprio serviço americano da empresa para declarar: “Se o Twitter começar a censurar, vou deixar de tuitar”.

A empresa disse que vai tirar do ar apenas tweets ou contas de usuários no âmbito dos países em que receber ordem de censurar, sem vedá-los ao público mundial – medida que já teria adotado se tivesse concordado em acatar uma ordem recebida.

Com presença em maior número de países, na medida em que tenta se expandir para além de sua base atual nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão, as realidades empresariais implicam que a empresa estará exposta à ação direta de um maior número de tribunais locais.

A declaração de que vai seguir a legislação de censura local marca uma fase nova e mais pragmática da evolução da empresa, num momento em que tenta expandir sua rede e começa a contabilizar lucros, segundo alguns observadores.

Em mensagem postada em seu blog oficial, que explica a nova política, o Twitter disse que o crescimento internacional o levará a “ingressar em países que têm ideias diferentes sobre os limites da liberdade de expressão”.

Embargo transparente

Evgeny Morozov, especialista em censura na internet, disse que ao apoiar o enfoque anterior, autônomo, do Twitter, “os investidores em compras de participações do Vale do Silício subscreveram a livre expressão no mundo inteiro. Foi ótimo, mas acho que não era sustentável.”

Outros técnicos dizem que as concessões feitas pelo Twitter equivalem a uma solução de compromisso necessária. “É muitíssimo melhor do que uma política mundial de 'tirar do ar'“, disse Tim Wu, professor da Faculdade de Direito de Columbia. O Twitter precisa acatar a censura, “para não ter de enfrentar uma punição física ou a interdição”, acrescentou ele.

Sob o comando de Jack Dorsey, seu cofundador que voltou à empresa no ano passado, o Twitter empreendeu uma rápida expansão internacional que, segundo espera, vai elevar seus 100 milhões de usuários para a casa do 1 bilhão, equiparando o crescimento mundial do Facebook.

O impacto da nova postura do Twitter vai depender de sua disposição de resistir às exigências de censura que não forem referendadas por determinações da Justiça e de divulgar os episódios em que tiver sido obrigado a retirar material do ar, dizem especialistas em censura.

O Twitter prometeu publicar todas as solicitações de censura, a não ser as protegidas por segredo de Justiça, no site Chillingeffects.org, formado para dar maior transparência à censura mundial.

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[Richard Water, do Financial Times, em San Francisco]