Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tenho Down e sou repórter, com orgulho

Quando eu era pequena, gostava de brincar que era a Marília Gabriela e entrevistava as pessoas da minha família. Se falasse naquela época para alguém que um dia eu seria uma repórter de verdade, ninguém acreditaria. Mas isso aconteceu. Fui entrevistada no Programa Especial, da TV Brasil, que fala sobre pessoas com deficiência. A Ângela, diretora, gostou da minha entrevista e achou que eu podia ser repórter. Fez um teste comigo e passei.

Muita gente achou que ela era maluca de ter uma repórter com Down, mas deu tudo certo e me saí muito bem. O que a Ângela me disse foi que era importante ter o ponto de vista de uma pessoa com síndrome de Down no programa. Muitas pessoas com Down, como eu, ficam felizes de serem entrevistadas por mim. Entrevisto também pessoas que não têm deficiência e faço reportagens sobre assuntos que não têm a ver com deficiência. A relação com meus colegas de trabalho é ótima. Aprendo com eles, e eles, comigo. Dou ideias para reportagens, penso em perguntas e gosto de ir à ilha (de edição) espiar o que está acontecendo e ver como ficaram minhas reportagens.

Uma viagem de trabalho que gostei muito de fazer foi para a Bahia e estou muito animada com minha próxima, a primeira internacional. Vou para Nova York gravar na ONU, que pelo primeiro ano vai comemorar o Dia Internacional da Síndrome de Down (21 de março).

Tenho orgulho do meu trabalho. Sendo repórter, mostro à sociedade que podemos fazer muitas coisas. Fiquei feliz quando uma revista italiana disse que sou a primeira repórter com síndrome de Down no mundo. Além de ser repórter, também sou rainha de bateria da Escola de Samba Embaixadores da Alegria (voltada para pessoas com deficiência), faço teatro no Grupo Teatro Novo, aula de dança cigana e natação. O apoio da minha família foi muito importante para eu chegar até aqui.

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[Fernanda Honorato é repórter da TV Brasil e trabalha no meio desde 2006]